Estrela da Netflix, Juliana Paes quer debate sobre aborto sem religão
Juliana Paes é a protagonista do melodrama Pedaço de Mim, que estreia na Netflix em 5 de julho e conta a história de Liana
atualizado
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Liana é uma mulher que engravida de dois homens ao mesmo tempo, mas a história da protagonista de Pedaço de Mim tem camadas muito mais profundas e delicadas. Vivida por Juliana Paes, a terapeuta ocupacional é vítima de um estupro e precisa tomar diferentes decisões sobre os próximos passos da sua vida.
Atenção: esse texto contém spoilers sobre Pedaço de Mim
À personagem, é dado todo o espaço e apoio para que tome a própria decisão, como reforça Vladimir Brichta, ator que vive Tomás, o par romântico de Liana. “Quando a Li descobre e conta o que aconteceu, vem a informação: ‘Você tem direito ao aborto legal’. É dado a ela a oportunidade, um direito que está na legislação. É uma escolha dela”, ressalta. Ele pontua ainda que a legislação deveria continuar a permitir isso, diferente do que é proposto no PL 1904/23, conhecido como PL do Aborto.
“O que a gente está discutindo [no Congresso], que é um absurdo, é algo que deveria ser de escolha íntima. E esse foro íntimo também pode ser pautado por uma crença religiosa, ideológica, mas nunca que isso se sobreponha a uma legislação, que tenha uma abordagem mais ampla e mais científica”, pontua o ator.
Juliana lembra que a chegada da série nesse momento de discussão sobre aborto é uma grande coincidência, mas destaca um ponto central do projeto de lei: o tempo. Para a atriz, Pedaço de Mim mostra de forma sutil e delicada que as pessoas precisam de tempo para entender o que houve quando são estupradas.
“Arrisco dizer que, na maioria das vezes, como a gente sabe que a maioria dos abusos e estupros são por pessoas próximas, demora-se a entender o que aconteceu. Existe um arco de ‘peraí, isso foi um abuso?’, ‘isso aconteceu?’, ‘será que eu deixei?. É bom que as pessoas entendam que essa discussão não é preto no branco, não é de ordem puramente racional. Os sentimentos, a culpa, o tempo que se leva [para compreender a violência], a família que se envolve, tudo precisa ser levado em consideração.”
Ela ressalta ainda que o aborto é uma questão de saúde pública. “A gente precisa dissociar um pouco essa discussão do aborto das questões religiosas. Claro que a gente vive em um país em que a religião é muito forte na vida das pessoas, mas a gente precisa botar um pouco da luz da saúde pública e tirar um pouco o cunho religioso das discussões para se chegar em um lugar comum, um consenso, um debate que melhore a vida das pessoas”, defende.
“O melodrama é a navalha na carne”
Com diversas novelas no currículo, Juliana Paes e Vladimir Brichta aparecem agora em um novo formato, que flerta com aquele que os consagrou como atores e os tornou conhecidos em todo o país. No melodrama, eles acreditam que se aventurar em uma proposta diferente foi algo totalmente novo.
Vladimir acredita que é um formato que vai se repetir e ganhar diferentes títulos. “Os melodramas se valem desses elementos do folhetim, pautados muito em cima de tramas, em cima das famílias, de dinâmicas familiares que têm uma dinâmica afetada por elementos externos e tudo. E eu acho que esses são elementos com ganchos muito fortes, né? E como Juliana gosta de falar, é a navalha na carne, sem dúvida”, avalia o ator com referência a uma frase muito usada pela colega.
Ela, por sua vez, explica que a expressão “navalha na carne” mostra que os melodramas não têm medo se jogar, de sangrar, de mostrar algo forte para o mundo. No entanto, ela ressalta que existe também o componente da sutileza. “A gente tem essas fortes emoções, sem vergonha de sofrer, mas a gente também tem uma estética, eu digo, dramatúrgica sofisticada.”