Escolas de samba são criticadas por homenagem a bicheiro
Bicheiro Aílton Guimarães Jorge completou 82 anos com homenagens no Instagram da Mangueira, Portela, Unidos de Vila Isabel, entre outras
atualizado
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Considerado um dos principais contraventores do Rio de Janeiro, o bicheiro Aílton Guimarães Jorge, mais conhecido como Capitão Guimarães, foi homenageado por escolas de samba nesta quinta-feira (23/11), pelo aniversário de 82 anos. A Estação Primeira de Mangueira, a Portela, Unidos de Vila Isabel e Imperatriz Leopoldinense foram algumas das agremiações que postaram os parabéns ao “capitão” no Instagram e dividiram opiniões entre os seguidores.
“Pela história da Mangueira, apaguem esse post ainda dá tempo”, detonou um internauta no Instagram da Mangueira, escola que mais contrariou os seguidores com a publicação. “Quem foi de aço nos anos de chumbo”, disse outro, em referência ao passado de repressão política de Guimarães. “Silêncio, estão descobrindo a ligação do Carnaval com a contravenção”, ironizou mais um. Após a repercussão, a Mangueira apagou a homenagem.
O Capitão Guimarães é uma das peças centrais da série Vale o escrito – A Guerra do Jogo do Bicho, lançada no início do mês pelo Globoplay. Ex-militar, o contraventor acumula um histórico de acusações criminais, prisões e manobras jurídicas desde os tempos em que trabalhava no Exército, servindo no Destacamento de Operações de Informações (DOI), no Rio de Janeiro, principal unidade da repressão política durante o regime militar.
Nos anos 1980, após sair do Exército, Guimarães se aproximou do bicheiro Ângelo Maria Longas, o Tio Patinhas, um dos mais poderosos da época, que deu a ele o direito de assumir a exploração de bancas de jogo do bicho. Anos depois, se tornou um dos primeiros presidentes da Liga das Escolas de Samba do Grupo Especial (Liesa), além de patrono da Unidos de Vila Isabel — hoje presidida pelo seu filho, Luiz Guimarães.
Prisão em 2023
Em setembro deste ano, Capitão Guimarães foi preso durante no âmbito da operação Operação Mahyah, conduzida pela Polícia Federal e o Ministério Público para desarticular organização criminosa voltada para prática de homicídios, corrupção passiva e porte ilegal de arma de fogo.
Um mês depois, a 2ª Vara Especializada em Organização Criminosa, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, decidiu anular a investigação sobo argumento de que a Polícia Federal não teria atribuição para conduzir o inquérito contra a quadrilha.
Caso de racismo
Para além das críticas à homenagem feita à Guimarães, as escolas foram cobradas a se manifestar sobre o caso de racismo sofrido por Vilma Nascimento, 85 anos, conhecida como Cisne da Passarela, porta-bandeira da escola de samba carioca Portela há 66 anos.
Um dia depois de ser homenageada na Câmara dos Deputados por causa do Dia da Consciência Negra, na terça-feira (21/11), Vilma foi acusada de roubo em uma loja no Aeroporto Internacional de Brasília. O detalhe é que apenas ela, entre todos os clientes do local, foi submetida a uma “revista”.
Um vídeo, gravado por uma das filhas de Vilma, mostra o momento em que a porta-bandeira é obrigada a retirar todos os objetos de sua bolsa depois de ser acusada por uma segurança. “Nunca passei por isso em toda a minha vida”, diz Vilma.
“Cadê a postagem a favor da D.Vilma Nascimento ???? Levantar a bandeira de fora da lei é mole , Portela sendo Portela como sempre”, detonou um internauta.
Após a cobrança, a Portela se pronuncuou. “A luta por uma sociedade mais justa e humana passa pelo combate ao racismo. O G.R.E.S Portela repudia veementemente o preconceito sofrido por Vilma Nascimento, o Cisne da Passarela, no aeroporto de Brasília, em companhia de sua filha Danielle Nascimento”, ressaltou.
O coro foi endossado pela Mangueira, escola de samba também do Rio de Janeiro. “Não vamos mais tolerar o racismo! Nosso povo se reconhece em dona Vilma e exigimos respeito, nossa cor da pele não pode mais ditar o tratamento que vamos ter, seja onde for”, escreveu em nota a Mangueira.