Ana Flávia, no ar em Sob Pressão, narra sua trajetória de babá à atriz
A global também está gravando Onde Está Meu Coração?, nova série do Globoplay, e já está escalada para Amor de Mãe, próxima novela das nove
atualizado
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No ar na terceira temporada de Sob Pressão, Ana Flávia Cavalcanti, definitivamente, conquistou os produtores de elenco da TV Globo. Depois de integrar a elogiada Além do Tempo (2015/2016), ganhar destaque em Malhação – Viva a Diferença (2017), a atriz se prepara para mais duas produções da emissora carioca: a nova série Globoplay, Onde Está Meu Coração?, e a novela que substituirá A Dona do Pedaço, Amor de Mãe.
A carreira recente, porém consistente, de Ana Flávia é fruto de muita obstinação. Mulher negra, bissexual, periférica e filha de empregada doméstica, a new face das telinhas demorou a investir no sonho de atriz. Foi babá e chegou a iniciar o curso técnico de enfermagem antes de começar os estudos teatrais. “Eu sempre pensei que deveria ter uma profissão, senão ficaria refém de subempregos, sempre muito desvalorizados e mal pagos no nosso país. Mas eu não gostava de verdade”, lembra.
O desejo de estudar atuação nasceu, aos 19 anos, por influência de um amigo que a aproximou desse universo. “Eu saí de Atibaia (SP) para estudar teatro, mas não tinha dinheiro na época”, conta Ana Flávia. Até ser convidada para a primeira figuração, em SOS Emergência (2010), o caminho foi longo. Primeiro formou-se em Artes Cênicas pelo Instituto de Arte e Ciência (Indac), depois foi para o Centro de Pesquisas Teatrais (CPT), coordenado por Antunes Filhos.
Lá, além dos desafios inerentes à profissão, Ana Flávia ainda tinha de lidar com a descrença dos colegas. “A minha turma não botava fé em mim, sabe? Eles não me achavam tão comprometida quanto eles, por não poder dedicar a mesma quantidade de tempo ao curso. Mas nossas realidades eram muito diferentes, eu precisava trabalhar”, ressalta.
O fato de Ana Flávia ser convidada para participar de peças publicitárias incomodava parte dos alunos. “Eu fazia esses trabalhos pois precisava pagar as contas, mas também por acreditar que é importante estar dentro de um set, aprender a me portar diante das câmeras. Isso me ajudou muito. Mas eles tinham preconceito, me achavam bonita de uma forma pejorativa, como se eu fosse superficial e não servisse para atuar”, recorda.
O pilar
De acordo com a atriz, dispor do apoio familiar foi essencial para que ela superasse todas as barreiras. “A minha mãe sempre me apoiou nas minhas decisões. É uma mãezona! Se eu tivesse dito que eu queria ser torneira mecânica, ela diria ‘vai lá’. minha mãe me ensinou o valor do trabalho e da dedicação, não importava a função. O importante é como a gente se desenvolve e se compromete com a profissão que escolhemos”, afirma.
Ana Flávia conta que ter uma filha na tela da maior emissora do Brasil é uma grande virada de expectativa em relação às esperanças de sua mãe em relação aos filhos. “A gente é de uma família muito pobre, como a maioria dos brasileiros. Minha mãe foi empregada doméstica a vida toda Depois que meus pais se separaram, o meu pai não cuidou da gente. Ela fez tudo sozinha”, desabafa.
A paulista usa, ainda, a arte como meio para dar voz e representar tantas mulheres com vivencias similares as suas. Como na emblemática performance autoral A Babá Quer Passear, com a qual critica o racismo estrutural. “Tem muito da minha realidade, de ser filha de empregada doméstica, de ter sido babá também. Mas tem muito da minha indignação de esses serviços sempre serem executados por um tipo de profissional, pessoas pretas. Um fato completamente ligado à escravidão dos tempos atuais”, considera.
Apesar do tom inflamado sobre o racismo, a atriz prefere não focar seu discurso nas adversidades impostas a atores devido ao tom da pele. “Se eu sofri com o racismo? É óbvio! O fato de eu ter nascido mal ‘pra caramba’, de ter comido mal. De ter crescido sem ter a minha mãe por perto. Isso é racismo estrutural. Está implícito em nossa condição”, pontua. Em vez disso, ela escolhe focar nos dispositivos que encontrou para burlar o sistema.
“Só com o estudo é possível chegar a qualquer lugar. É a única brecha para transpor as dificuldades. Eu incentivo muito as crianças e os adolescentes a estudarem. Se eu posso influenciar e representar as pessoas de alguma forma, é assim. É preciso buscar informação e conhecimento para nos protegermos e exigirmos os nossos direitos”, aconselha.
Próximos projetos
A dependente química Diana, de Sob Pressão, foi uma escola de onde Ana Flávia tirou muitas lições para viver a enfermeira Inês, de Onde Está Meu Coração?, nova produção Globoplay, ainda sem data de estreia confirmada. “A série também vai tocar no tema da dependência, do craque… De quais são as possibilidades de relação com a família, do espelhamento que temos com os nossos pais. É basicamente sobre superação”, adianta.
Segundo ela, a maior parte dos episódios se passa em um hospital, já que a protagonista é uma médica, a doutora Amanda (Letícia Colin). “Elas duas serão melhores amigas e a trama traz muito dessa relação de amizade. A Inês é personagem boa, que é positiva e que vai superando a própria vida no dia a dia, uma mulher muito corajosa. Tô muito feliz com esse trabalho. É uma série fina, tudo feito com muito carinho”, garante.
Agora, Ana Flávia se prepara para Amor de Mãe, próxima novela das 21h e que substituirá A Dona do Pedaço. A atriz não dá muitos detalhes sobre a obra da autora Manuela Dias e que será dirigida por José Luiz Villarim (Onde Nasce Os Fortes). O folhetim deve estrear em novembro.