Electric Dreams: a série de ficção científica raiz da Amazon Prime
Baseado na obra de Philip K. Dick, o seriado não se apoia em traquitanas tecnológicas para compor a narrativa
atualizado
Compartilhar notícia
“É o Black Mirror da Amazon Prime”, resume quem assistiu. A comparação se justifica pela temática da ficção científica, gênero que voltou à moda com a série da Netflix. Mas não vá esperando questionamentos sobre o que acontecerá com a humanidade a partir da popularização dos smartphones e das redes sociais. A similaridade das séries reside no conteúdo humano, e olhe lá.
Electric Dreams é baseada na obra de Philip K. Dick, autor de romances e de contos de ficção científica publicados entre 1952 e 1982, ano de sua morte. O escritor não viu sequer a ascensão da internet, quanto mais as traquitanas que se tornaram extensões de nossas mãos.A série, com episódios que não se conectam, tem roteiros clássicos das ficções científicas que aqueceram as especulações sobre o futuro durante o contexto da Guerra Fria. Viagens espaciais, transferência de consciência, inteligência artificial, invasões alienígenas e regimes autoritários são temas que norteiam as narrativas.
Os episódios, no entanto, não se perdem em questionamentos datados, nem têm como mote tecnologias que alteram as relações entre as pessoas. A visão futurista da humanidade está ali, mas não é o principal. A essência de ser humano, conteúdo chave dos roteiros, é o que faz valer a maioria dos capítulos.
Quase um sci-fi noir, em uma história que lembra a premissa de X-Men, o excelente capítulo The Hood Maker mostra a humanidade presa em um regime autoritário quando algumas pessoas passam a demonstrar poderes telepáticos. O medo do diferente faz com que os “normais”, termo usado para humanos sem o dom, desumanizem, excluam e explorem os telepatas da sociedade.
Um dos melhores capítulos da série, Human Is traz um casamento infeliz entre uma diplomata e um general truculento, abalado depois que ele volta de uma missão muito perigosa, quase sem vida. Ao se recuperar, ele se revela um novo homem, marido preocupado e afetuoso. Diante da suspeita de que ele teria sido possuído por uma raça alienígena incapaz de amor e de empatia (comportamentos que o personagem demonstrava antes da viagem, diga-se), fica o questionamento: o que faz um ser humano?
Electric Dreams tem, por vezes, uma visão pessimista do que acontecerá conosco. Mas diferente de Black Mirror, o olhar é muito mais curioso que fatalista. Por sermos tão humanos, temos grandes chances de estragar absolutamente tudo, dos nossos relacionamentos ao nosso planeta. No entanto, o oposto também se prova verdadeiro quando um rapaz decide, em uma missão suicida, levar uma idosa à beira da morte para visitar um planeta Terra destruído. A empatia é o que nos une – e também o que nos destrói.
Avaliação: Bom