Do Lula lá ao Tô com medo: política e TV adoram se misturar
Desde o fim da ditadura, artistas brasileiros promovem campanhas, desfazem alianças e assumem cargos públicos
atualizado
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Regina Duarte não saiu do noticiário nas últimas semanas. Tudo por causa da nomeação dela à Secretaria da Cultura, fato que encerrou um contrato de décadas com a Rede Globo. Engana-se, porém, quem pensa que essa foi a única controvérsia causada pela mistura de política com televisão, em especial de seus artistas. E, como não poderia deixar de ser, presidentes, deputados e ministros são pautas da telinha há anos, não só nos noticiários mas também no mundo da ficção.
Depois da redemocratização do país e de Sarney no poder, com o governo satirizado sem censura na TV Pirata, tomava forma o cenário de uma primeira eleição direta em duas décadas. A vinheta Lula Lá era quase uma propaganda de fim de ano da Globo, tamanha a quantidade de artistas: Marieta Severo, Tássia Camargo, Roberto Bonfim, Betty Faria, Aracy Balabanian, Hugo Carvana, entre outros. Do lado de Collor, vencedor da disputa tempos depois, Claudia Raia foi a mais notória apoiadora. Após muitos anos, na novela Verão 90, ambientada naquela década, a personagem da atriz, Lidiane, fez piadinha sobre o tema.
A ficção se misturou à realidade em 1992. No ar, Anos Rebeldes, sobre a luta de um grupo de jovens contra a ditadura militar. Um pouco antes na grade, em destaque nos telejornais, os caras-pintadas pediam nas ruas o impeachment de Collor. Depois da renúncia, a trajetória do ex-presidente no poder quase foi mostrada na TV. Entretanto, a minissérie O Marajá, da Manchete, nunca viu a luz do dia, teve a exibição impedida pela Justiça.
Uma década mais tarde, em 2002, quando os artistas estavam aparentemente mais discretos em relação a manifestações políticas, um fato mudou esse panorama. Regina Duarte veio a público nas propagandas do PSDB reforçar o voto no partido e tentar convencer o eleitor a não votar em Lula. A mensagem “Tô com medo”, foi bastante lembrada recentemente. Por coincidência, meses antes de os brasileiros irem às urnas, a atriz estrelou a novela Desejos de Mulher, na qual contracenava com José de Abreu, outro apoiador do PSDB, em 1998, hoje alinhado à esquerda.
Mais uma curiosidade: Carolina Ferraz, cuja mensagem pedindo a retirada de uma foto dela com supostos apoiadores do governo no Instagram circula na web, foi rival de Regina na novela História de Amor, em 1995.
Talvez a influência de Arnold Schwarzenegger, eleito governador na Califórnia no início da década de 2000, tenha incentivado figuras do meio artístico a se enveredar pelos cargos públicos, algo também reverberado no Brasil (lembrando ainda que Ronald Reagan, presidente dos EUA nos anos 1980, foi um ator de cinema relativamente conhecido 30 anos antes). O palhaço Tiririca, figura presente em programas de humor da Record e do SBT, ganhou cadeira no Parlamento em 2010. Do mundo dos realities, Jean Wyllys, vencedor da quinta edição do Big Brother Brasil (BBB), também elegeu-se deputado federal.
De outra casa, a dos artistas, Alexandre Frota está hoje na Casa, a com letra maiúscula. E as especulações não param. As possíveis candidaturas de Luciano Huck à Presidência e de Datena à Prefeitura de São Paulo são os assuntos da vez. Saberemos em breve se eles deixarão a disputa por audiência na TV para brigar pelo seu voto.