Diretor de série sobre o Ninho do Urubu joga luz sobre tragédia
Ninho: Futebol e Tragédia, da Netflix, joga luz sobre a tragédia dos 10 jovens que morreram em incêndio no Ninho do Urubu, do Flamengo
atualizado
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O dia 8 de fevereiro de 2019 mudou completamente a vida das famílias de 10 jovens que atuavam pela base do Flamengo e outras pessoas que estavam no alojamento. A tragédia do Ninho do Urubu deixou marcas permanentes e que ainda permeiam na Justiça. Essas marcas ainda estão no muro de um bairro do Rio de Janeiro e é entoada durante o minuto 10 dos jogos do Rubro-Negro.
É com a canção Azul da cor do Mar, de Tim Maia, que parte da torcida homenageia os meninos de 14 a 16 anos que morreram na tragédia. “Ah, como eu queria ter vocês aqui/ honrando o manto do Mengão, com raça e paixão/ Mas essa nação jamais vai esquecer/ O Flamengo vai jogar, para sempre por vocês”, é parte do cântico.
A Netflix trouxe todas as sensações, de familiares e torcedores, no documentário Ninho: Futebol e Tragédia. Em três episódios, Pedro Asbeg, diretor da série, faz um background dos atletas, com entrevistas e vídeos antigos, além de um papo com os familiares.
A série, de acordo com o cineasta, foi feita com alguns objetivos e, entre eles, o de jogar luz para que a tragédia não fosse esquecida. “E Entre tantas razões, a de querer acreditar que essa série pode gerar, de alguma forma, alguma mobilização para gente entender que, cinco anos depois, o processo não foi concluído, pessoas ainda não foram julgadas, não houve qualquer tipo de responsabilização pela morte de 10 jovens”, declarou o diretor, em entrevista ao Metrópoles.
Asbeg ainda citou que o crime será prescrito em breve e essa pode ser a solução do processo resultante da tragédia. A série mostra como o Flamengo sabia que aquele local não era propício para funcionar como um alojamento, inclusive por isso as janelas contavam com grades, e que a tragédia poderia ter sido evitada.
Há, entre os episódios, uma troca de e-mails entre dirigentes do clube com alertas sobre a utilização do local. Auditoria interna, Ministério Público, prefeitura do Rio de Janeiro e o Corpo de Bombeiros avisaram sobre as falhas nos contêineres. Aliado a esses documentos e comprovações, a participação de algumas famílias e depoimentos.
“Esses depoimentos de pais e mães que perderam seus filhos é, de alguma forma, aproximar do espectador uma dor que a gente, às vezes, não consegue imaginar”, declarou. Essas pessoas receberam um quadro com uma arte, reproduzida de um muro em um bairro do Rio de Janeiro, como homenagem aos garotos, feita pela Flamengo da Gente, grupo que ajudou Asbeg a se aproximar das famílias.
E essas entrevistas foram feitas para trazer um rosto, um nome e uma voz às vítimas que, muitas vezes, são tratadas como números. “De alguma forma, esses recursos ajudam os espectadores a se aproximarem daquelas pessoas e esse era um dos grandes pontos. Na maior parte das vezes, a gente não conhece essas pessoas e a gente precisa saber, da onde elas vieram, para sentir mais a dor dessa perda, desse fim de sonho, desse sonho interrompido”, contou. Dentre esses artifícios, foram utilizados vídeos e fotos antigas dos atletas.
Além de trazer uma memória da tragédia, Pedro Asbeg ressaltou a importância de mostrar o lado de alguns sobreviventes, como os atletas Wendell e Felipe, e Benedito, segurança que ajudou a salvar três vidas.
“(Eles) também vão carregar dores e traumas. São pessoas que estavam ali naquela madrugada e que tem que agradecer todos os dias por estarem vivos, mas isso não quer dizer que eles não tenham sequelas emocionais dos mais variados tamanhos”, explicou.
O segurança, inclusive, teve um laudo médico divulgado recentemente, que comprovou que ele não pode mais exercer essa função por conta do trauma vivido na noite do ocorrido. Inclusive, ele está com um processo na Justiça do trabalho até hoje contra o Flamengo por conta da situação. Aqui, ele conta mais sobre a história.
Resposta do Flamengo
Pedro Asbeg ouviu o lado das famílias e de sobreviventes, mas não mostrou o lado do clube porque eles optaram por não se manifestar. Ele tentou, não só pessoas da diretoria atual, como também das antigas.
“Infelizmente, eu não ouvi nada, a gente tentou formalmente conversar e ninguém quis falar. Então, ficou de alguma forma uma lacuna, eu sinto muito por isso, eu adoraria ter conseguido conversar com essas pessoas”, completou.
O clube, inclusive, sabia dos riscos, como foi mostrado na série, mas optou por manter os jovens naquele local.
Como foi fazer a série?
Pedro Asbeg assumiu a responsabilidade de fazer a produção e contou que foi uma mistura muito grande de sensações. “Por um lado, eu me sentia muito triste, era doloroso, mas, ao mesmo tempo, eu estava muito honrado e muito contente de contar essa história. Coube a mim contar essa missão de ultrapassar a dor, as ocasionais dificuldades e faz isso da melhor maneira possível”, completou.