Dez motivos por que A Dona do Pedaço é uma novela de sucesso
O folhetim das 21h tem conquistado a audiência com uma história simples e cativante
atualizado
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Walcyr Carrasco pode comemorar. Afinal, A Dona do Pedaço, sua mais nova novela, já “pegou”. É cada vez mais comum as pessoas falarem sobre o folhetim das 21h da TV Globo no trabalho, na rua, em casa ou na internet. As tramas envolvendo os desencontros amorosos de Maria da Paz (Juliana Paes) e Amadeu (Marcos Palmeira); as armações da ambiciosa Jô (Agatha Moreira) com seu cúmplice, Régis (Reynaldo Gianecchini), para se tornar famosa; o universo dos digital influencers, representados por Vivi Guedes (Paolla Oliveira); e várias histórias de traição, inveja e busca por riqueza têm dado o que falar. O Metrópoles explica os motivos do sucesso da produção. Confira!
Novelão clássico
Quem viveu os anos 1980 não se esquece: novelas capazes de prender a atenção do Brasil inteiro se sucediam, como Roque Santeiro (1985), Selva de Pedra (1972), Roda de Fogo (1986), O Outro (1987), Mandala (1987) e Vale Tudo (1988). Eram histórias envolventes, que não apelavam para”viradas sem pé nem cabeça”, como se tornou hábito ultimamente. Essa fórmula mágica de 30 anos atrás parecia ter se perdido com o passar do tempo, à exceção de Paraíso Tropical (2007) e Avenida Brasil (2012). A Dona do Pedaço tem em seu DNA as características das grandes novelas das últimas décadas, com uma protagonista adorada pelos telespectadores; personagens com perfis bem traçados; o conflito entre a honestidade e a ambição; o humor elegante, sem ser “pastelão”; e muitos ganchos entre os blocos e os capítulos.
Vinganças e suspense
Uma boa história fica ainda melhor quando há personagens em busca de vingança. Afinal, há o clima de suspense no ar sobre o que eles vão fazer e se serão bem-sucedidos. Nilda (Jussara Freire) mandou o neto, Rael (Rafael Queiroz), a São Paulo com o objetivo de matar Maria da Paz (Juliana Paes) e se vingar pelos assassinatos de seu marido e dois filhos, cometidos por Dulce (Fernanda Montenegro), avó da boleira. Rock (Caio Castro), por sua vez, resolveu humilhar Jô (Agatha Moreira) quando esta prometeu falar com a mãe, Maria, para lhe dar patrocínio em troca de ser apresentada a Vivi Guedes (Paolla Oliveira) na academia. Ele cumpriu sua parte, ela não.
A personagem de Deborah Evelyn, Lyris, se vingou do desprezo de seu marido Agno (Malvino Salvador), que não tem demonstrado interesse sexual nela. Ao ficar frente à frente com um entregador de bolos, se jogou com ele no chão da cozinha e transou sem o menor sentimento de culpa e saiu de alma lavada. Nos próximos capítulos, Cosme (Osvaldo Mil) também levará à frente sua vingança. Após perder a filha, Edilene (Cynthia Senek), morta ao tentar abortar o bebê fruto do amor com Otávio (José de Abreu), ele vai contratar o matador Chiclete (Sérgio Guizé) para dar fim em Vivi e fazer o empresário sentir a dor de perder uma pessoa querida.
Atores veteranos
Walcyr Carrasco apostou em tramas envolvendo atores veteranos e acertou em cheio, dando a eles bastante destaque. Na primeira fase da novela, Fernanda Montenegro arrasou como Dulce, a matriarca dos Ramirez. Quem achava que a avó de Maria da Paz iria se limitar a fazer bolos, se surpreendeu quando ela atirou em Amadeu na igreja durante o casamento dele com sua neta e depois matou três integrantes da família rival, os Matheus.
Na fase atual, o divertidíssimo núcleo dos invasores golpistas é um show à parte, reunindo Marco Nanini (Eusébio), Tonico Pereira (Chico) e Betty Faria (Cornélia), afinadíssimos e aprontando todas com o restante da família. Suely Franco (Marlene) e Ary Fontoura (Antero) estão ótimos vivendo um “quase romance”. Por fim, Nathalia Timberg exibe seu talento de sempre como a malvada e manipuladora Gladys.
Outros veteranos também se destacam em A Dona do Pedaço, como José de Abreu, o cafajeste Otávio; Nívea Maria, a Evelina, mãe de Maria da Paz; e Rosamaria Murtinho, a Linda. O caçula da turma é Tonico Pereira, que fará 71 anos no próximo dia 22 de junho. Já a mais experiente é Nathalia Timberg, com 89.
Carisma de Maria da Paz
Como não se encantar com a saga da personagem de Juliana Paes? Maria da Paz nasceu no interior do Espírito Santo em uma família de matadores, os Ramirez, mas renegou essa atividade para se dedicar a criar bolos com sua avó, Dulce. Apaixonou-se por Amadeu, membro de uma família rival, os Matheus, e costurou uma trégua entre os dois clãs na tentativa de viver esse amor improvável. Porém, durante o casamento viu seu noivo ser baleado e dado como morto. Sozinha no mundo, foi para São Paulo com a cara e a coragem, apostou todas as fichas na única coisa que sabia fazer na vida – criar deliciosos doces – e “chegou lá”, tornando-se milionária. Ela personifica o brasileiro honesto, que vai à luta com garra e consegue vencer com seu trabalho.
Para dar o toque especial, Maria da Paz faz questão de manter suas raízes de mulher simples: fala alto, come com as mãos, lambe os dedos à mesa, se veste como quer, ignora as regras da moda e não sente a menor culpa por ser espalhafatosa. Impossível não lembrarmos de dois personagens que marcaram época: a hilária Viúva Porcina, vivida por Regina Duarte em Roque Santeiro (1985), e o bicheiro Tony Carrado, interpretado por Nuno Leal Maia em Mandala (1987).
A paixão vai vencer?
Desiludida pelo fato de não poder viver o grande amor que sente por Amadeu, Maria da Paz se tornou presa fácil para o conquistador Régis. Incentivado pela ardilosa Jô, filha da empresária e namorada dele, o bon vivant se aproximou da boleira com o objetivo de lhe dar um golpe e pegar todo o dinheiro dela. No entanto, comenta-se nos bastidores da novela que existe uma enorme chance de ele se apaixonar de fato pelo jeito simples e espontâneo de Maria. O amor vai derrotar o trambique? Enquanto a resposta não surge, os telespectadores não perdem o desenrolar dessa trama.
Abertura cativante
A abertura não é a mais criativa e extraordinária de todos os tempos, mas como resistir a tantas delícias passando pela tela em forma de doces e no embalo da canção Tá Escrito, de Xande de Pilares? A letra da música, aliás, é a síntese da ideia do “eu sou brasileiro e não desisto jamais”, sendo a cara da Maria da Paz. “Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé / Manda essa tristeza embora / Basta acreditar que um novo dia vai raiar / Sua hora vai chegar”.
Fama na internet
Walcyr Carrasco foi inteligente ao falar sobre um tema totalmente atual: o universo dos digital influencers, capazes de impactar as vidas de milhões de pessoas que acompanham o dia a dia deles em mídias sociais como o Instagram e o YouTube. Exibindo diferentes estilos de vida ou ditando as últimas tendências em moda, beleza e maquiagem, essas personalidades são as estrelas do nosso tempo.
Em A Dona do Pedaço, duas faces de uma mesma moeda são mostradas. De um lado, Vivi Guedes, uma digital influencer bem-sucedida, seguida por milhões de pessoas e convidada para ir a programas de TV contar sobre seu estilo de vida. De outro, Jô, que deseja ser como ela e não mede esforços para ser famosa, mesmo tendo de passar por cima de qualquer senso de ética e humanidade. Entre as duas, Kim (Monica Iozzi), a produtora obcecada com a fama. “O glamour apresentado no núcleo da Vivi, no qual Jô quer entrar, e que tem a Kim (Monica Iozzi), sofisticada, mas cheia de excentricidades, atrai a atenção, pois os jovens gostam desse universo midiático”, diz o escritor, professor e estudioso de novelas Beto Alves.
Os malvados
Um charme especial nessa obra de Walcyr Carrasco são os vilões. Nenhum deles é um malvado escancarado, do tipo que é mau e ponto final, como se tornou comum nas novelas. Os de A Dona do Pedaço são ruins assim porque possuem motivações específicas. Jô já é rica, mas quer ser famosa e não mede esforços para atingir seu objetivo. Assim, pede dinheiro à mãe para custear o tratamento contra um câncer de mama da esposa do pai e usa a quantia para montar um estúdio fotográfico. Além disso, empurra um trambiqueiro para os braços de Maria com o objetivo de tomar toda a grana dela.
Para a garota, os fins justificam os meios. Régis é de família rica, mas não pensou duas vezes em roubar os brincos da avó, Gladys, para vendê-los e torrar a grana. A velha senhora, aliás, também não presta. Acusa as empregadas de roubo sem a menor cerimônia e despreza as pessoas de classes mais baixas. Outra malvada é Fabiana (Nathalia Dill). Criada em um convento e prestes a ser noviça, descobre que sua irmã, Vivi, está viva e é tomada pela inveja, que a leva a desejar a vida de luxo e glamour da digital influencer.
Sensualidade de Paolla Oliveira e Caio Castro
Paolla Oliveira vive Vivi Guedes, uma influenciadora digital que não gosta de tirar fotos sensuais. Assim, são várias as cenas nas quais a atriz aparece de lingerie e biquíni – o que tem atraído a audiência. Caio Castro também tem exibido músculos bem definidos por conta de seu personagem, Rock, um lutador de boxe disposto a se tornar um astro no esporte.
Sem “humor pastelão”
Finalmente, o núcleo cômico de uma novela foge do estilo “comédia pastelão”, apresentando situações hilárias por meio de diálogos bem-humorados e ações inusitadas. Mérito de Walcyr Carrasco, que deixou essa responsabilidade nas mãos de cracaços como Betty Faria, Marco Nanini, Tonico Pereira, Rosy Campos e Suely Franco. Uma grata surpresa é Glamour Garcia, que vive a transexual Britney. A personagem “chegou chegando” e conquistou o público.