“Dear White People” é a série necessária para um homem branco como eu
A nova produção da Netflix promove uma reflexão sobre o racismo em meio a diversas risadas
atualizado
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“Dear White People” (“Cara Gente Branca, em português), novidade da Netflix, é uma comédia, mas às vezes dá vontade de chorar. O seriado joga na cara o racismo, sem papas na língua. E, confesso, serviu como uma espécie de divã para mim, um homem branco “desconstruidão”.
Não acho que seja um racista clássico, aqueles lunáticos que xingam os outros. O seriado me ajudou a perceber um racismo escondido na omissão, no silêncio diante do absurdo. Antes de continuar a falar da série, vou contar uma história.
Há três anos, estive no Morumbi para assistir São Paulo x Sport. Eu, são-paulino, fui ao estádio de bermuda e blusa do time. Enquanto esperava os portões abrirem, vi dois rapazes negros tomarem o maior baculejo. Policiais os abordaram, eles vestidos de shorts e camisetas do tricolor. A mim, ignoraram.
Esse episódio, ao menos para mim, reforça o tal do privilégio branco. A prerrogativa de poder ir a um estádio sem tomar um baculejo ou não ser seguido pelo segurança da loja. “Dear White People” mostra o quanto isso está presente invisivelmente na minha vida e, extremamente visível, no cotidiano de negros e negras.
O grande mérito da produção é contar isso na forma de uma comédia densa, capaz de arrancar risadas e fazer refletir. Por que dói tanto ouvir que sou privilegiado por ser branco? Qual a razão de eu não me fantasiar de negro? Como “piadas” (ao estilo Rafinha Bastos) podem ofender?
Produção boa
Além de toda a reflexão, “Dear White People” é uma série de televisão muito bem-feita. Roteiro, elenco e produção entregam um produto gostoso de ver e, com episódios de 30 minutos, é daquelas séries para assistir em uma sentada só.
O arco dos personagens também é bem construído, mesmo que nos primeiros episódios a história fique um pouco repetitiva. Nada que prejudique a experiência.