Crítica: Wandinha é um bom começo para a Família Addams na Netflix
Série tem caminhos para evoluir, mas a primeira temporada de Wandinha deixa um gosto bom para os fãs fa franquia que estreia na Netflix
atualizado
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A trajetória da Família Addams já foi contada em séries, filmes e animações. Em destaque, os longas de Barry Sonnenfeld, lançados em 1991 e 1993, que criaram um imaginário sobre esse grupo de estranhos e carismáticos personagens em toda uma geração (a minha, especificamente). Wandinha, que estreia nesta quarta-feira (23/11), na Netflix, é mais uma (boa) peça nesse contexto – mesmo que, diretamente, não tenha nenhuma relação com as obras citadas.
Wandinha não faz parte de um “Addamsverso”, mas conserva as premissas apresentadas anteriormente: Gomez (vivido pelo incrível Luis Guzmán) e Mortícia (Catherine Zeta-Jones) não se largam; a personagem-título é mórbida, cruel e cínica; Tio Chico (Fred Armisen) segue um amante da violência… tudo isso está presente, mas vai além.
A série, que conta com a visão criativa de Tim Burton, coloca a Wandinha de Jenna Ortega explorando o legado construído por Christina Ricci, que viveu a personagem nos filmes de Sonnenfeld. Aliás, a veterana também está no seriado, na pele da professora Marilyn Thornhill.
Além do olhar para o passado dessa propriedade intelectual, Wandinha sinaliza ao futuro da franquia. Na produção, a menina começa em uma tradicional escola americana e, após aterrorizar a todos (com direito a uma ótima cena inicial), é transeferida para a Academia Nunca Mais – onde seus pais estudaram e deixaram um legado.
A escola, conduzida pela diretora Larissa Weems (Gwendoline Christie), reúne os “párias” da sociedade, que são vampiros, lobisomens, gárgulas e por aí vai. Assim, a série caminha em seus oito episódios em duas direções: 1) a adaptação de Wandinha a esse novo local e 2) a solução de um mistério que envolve um monstro assassino.
Wandinha da Netflix
É assim que ocorre uma “netflixzação” da Família Addams: a trama para unir seus dois pontos, cria uma história adolescente como várias já vistas na plataforma. Isso é ruim? Não necessariamente, já que torna a série bastante reconhecível, mesmo que soe repetitiva. Porém, seria injusto dizer que Wandinha não é bem executada – sobretudo para o modelo de binge watching da Netflix.
A distinção de Wandinha para as outras produções teen é o universo, que tem um pouco de Harry Potter (afinal é uma escola meio mágica) e de O Mundo Sombrio de Sabrina (bom, estamos falando de vampiros, lobisomens, monstros etc). Falta ao seriado mergulhar mais nesse mundo “estranho”, em seus contrastes, e menos numa trama de high school com toques de terror/horror.
E como ir mais a fundo nesse universo que, enfim, já foi explorado de tantas formas? Um dos subtextos do seriado dá uma pista: ele tá ali, mas poderia ser mais trabalhado. Wandinha é também sobre como tratamos os “párias” (em inglês, o termo é outcasts) na sociedade. Os isolamos e os condenamos sempre a um olhar de preconceito. Mas quem seria eles? No seriado, são esses “monstros” que frequentam a Academia Nunca Mais – em oposição aos “padrões” que vivem na cidade.
Mas e na vida real? Podem ser LGBTs, negros, imigrantes e qualquer outra minoria social que constantemente tem seu modo de viver e ser questionado por tofos.
O futuro de Wandinha
Em meio a fantasia e o mistério do roteiro, essa questão é abordada superficialmente, mas pode garantir um futuro mais interessante ao bom seriado da Netflix, que, com certeza, terá uma segunda temporada.
Wandinha é um começo promissor de uma franquia que parecia bastante desgastada. Tem certo frescor, um universo a ser explorado, uma protagonista carismática e, principalmente, caminhos para evoluir.