Crítica: Vai, Anitta é uma carta de amor da cantora… para ela mesma
Maior artista pop do Brasil coroa investida na carreira internacional com documentário que falha em humanizá-la e foca em exaltá-la
atualizado
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Anitta é, inegavelmente, uma história de sucesso. Nascida no subúrbio carioca de Honório Gurgel, a artista começou fazendo shows pelo grupo de funk Furacão 2000, tornou-se a maior artista pop do Brasil e, hoje, dá passos significativos rumo a uma próspera carreira internacional. Tal jornada é retratada de forma superficial no documentário da Netflix Vai, Anitta – que foca no processo de concepção do projeto Checkmate, pelo qual Anitta gravou uma sequência de singles, acompanhados de videoclipes.
Em seis episódios, de cerca de 30 minutos cada, Anitta nos mostra a sua atribulada rotina de trabalho em estúdios, gravações de videoclipes, compromissos com a imprensa, ao mesmo tempo em que compartilha momentos de descontração com a equipe, família e o ex-marido, o empresário Thiago Magalhães. E não muito mais.
Vai, Anitta consegue, de fato, dar aos fãs acesso inédito ao mundo da cantora, mostrando uma personalidade criativa, cativante e uma mulher segura de si, trabalhadora e que sabe qual é sua mensagem e como ela quer entregá-la. A produção, no entanto, falha ao evitar oferecer o outro lado, focando em um excesso de depoimentos positivos que tornam Anitta uma excelente profissional, amiga, esposa, filha, irmã, ou seja, uma figura quase mítica, falhando miseravelmente naqueles que devem ser os principais objetivos de um documentário: humanizar e mostrar a verdade.
Os raros instantes nos quais Anitta poderia se aprofundar em um lado mais sério, revelando vulnerabilidade – quando fala de depressão ou das motivações por trás de suas cirurgias plásticas, por exemplo – não passam de momentos que mal chegam a roubar cinco minutos da atração. Não me parece coincidência que a única pessoa que ensaia um depoimento sincero e sem texto pronto, demonstrando descontentamento quanto à sua relação com a cantora, não faça mais parte do universo dela: o ex-marido da artista, Thiago Magalhães.
De resto, Anitta faz um excelente trabalho para si mesma, controlando a mensagem e se mostrando uma mulher trabalhadora, mas que sabe se divertir, uma artista poderosa, porém acessível, e uma pessoa bem-sucedida, mas que também sofre e fica triste como todos nós.
Não à toa, o documentário se encerra em um tom leve, em clima de festa. Está tudo muito bom, está tudo muito bem, mas, caso uma segunda temporada se confirme (e tudo leva a crer que ela existirá), que traga uma Anitta mais humanizada.
Avaliação: Ruim