Criadores de Dark explicam motivos de fracasso de 1899 na Netflix

Rio de Janeiro (RJ) – Casados na vida real, a dupla de criadores Jantje Friese e Baran Bo Odar experimentou os dois lados do mundo audiovisual: o sucesso internacional de Dark e o fracasso de 1899 – ambos pela Netflix. Em painel, nesta quinta-feira (12/4), na Rio2C, a roteirista e o diretor falaram abertamente sobre o que levou a sua última série a não passar da primeira temporada na plataforma de streaming.

Segundo os criadores, a principal questão são as mudanças ocorridas na própria indústria do entretenimento, especialmente nas plataformas de streaming. Em 2015, quando Dark foi apresentado a Netflix, os serviços apresentavam grande crescimento e maiores investimentos em conteúdo. Porém, a realidade hoje é diferente.

“Dark não seria aprovada hoje”, sentenciou Jantje, que atua como roteirista dos projetos. “O marketing mudou, o consumo mudou, as coisas que minha filha consome não são iguais às de antes. Nesse contexto, Dark não seria aprovada”, completou Baran Bo Odar.

Além da mudança nos hábitos de consumo, o cenário econômico também foi decisivo, na visão dos criadores, para 1899 ser cancelada pela Netflix após uma temporada. A realidade, atualmente, é que serviços de streaming têm reduzido custos e buscado apostas mais certeiras para ter retorno com o público. “Anos atrás, jorrava dinheiro, agora, no entanto, não tem mais como ser assim”, pontua Jantje.

“Os custos com tecnologia em 1899 eram muito altos e o retorno não foi o esperado. Sucesso é algo que pode ser visto de várias formas, eu entendi [1899], o público parece que não”, brincou Baran Bo. O diretor e showrunner ainda defendeu: “Não há algoritmo que garanta sucesso”.

Novo projeto

Mesmo que a experiência com 1899 não tenha sido a melhor possível, Jantje Friese e Baran Bo tem um novo projeto com a Netflix. Os dois trabalham em uma adaptação do quadrinho Something Is Killing The Children (Alguma Coisa Está Matando as Crianças, em tradução livre), criação de James Tynion e Werther Dell’edera, publicado pela Boom Studios.

Na HQ, uma pequena cidade é atingida por uma maldição, monstros que comem crianças e uma jovem começa a caçar esses seres. “Crianças morrerem é o nosso maior medo, por isso exploramos essas questões”, concluiu Baran Bo.

Por fim, o diretor ainda incentivou que criadores invistam em histórias locais, que, segundo ele, teriam potencial para se tornarem hits globais. Como exemplo, ele citou Cidade de Deus e Dark – que possui um “humor bastante alemão”. Apesar do apelo, ele reconheceu que os serviços procuram coisas mais globais e universais. “Isso é um grande erro”, concluiu.

*O repórter viajou a convite da Netflix