Caso Netflix: especialistas avaliam entrada de anúncios no streaming
Assim como a Netflix, outras plataformas de streaming também devem apostar nos anúncios para aumentar o faturamento
atualizado
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A Netflix anunciou que terá planos com anúncios para quem quiser pagar um pouco mais barato pelo serviço e aceitar assistir algumas propagandas em troca. Embora a proposta possa parecer financeiramente interessante para quem quer economizar com o streaming, ela também gerou algumas críticas. Afinal, a ideia da plataforma é consumir apenas os conteúdos desejados sem interferências. Mas ela não é a primeira plataforma a trazer anúncios e esse deve ser o futuro dos streamings, de acordo com especialistas.
“A inclusão de anúncios nas plataformas de streaming é um caminho natural desse modelo que não se sustenta apenas com assinaturas, ainda mais com a demanda crescente por conteúdo original para se diferenciar dos concorrentes”, avalia o coordenador dos cursos de Cinema, Audiovisual e Jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) do Rio de Janeiro, Pedro Curi.
Ele também ressalta que as pessoas estão acostumadas com o formato que inclui comerciais e tem sido visto ao longo dos anos na televisão, revistas e jornais. “Até canais de TV por assinatura, que surgem com a promessa de não ter anúncios, passaram a contar com propagandas nos intervalos depois de um tempo sem que as pessoas achem aquilo muito estranho”.
Entretanto, os especialistas também ponderam que serviços como a Netflix podem perder assinantes com a inclusão dos anúncios. “De um lado perderão os assinantes atuais e afastarão novos potenciais clientes. A audiência tem buscado opções para não serem impactados com as publicidades”, pontua o professor de Mídias e Inovação da ESPM, Diego Oliveira.
O docente acredita ainda que, embora muitas plataformas devam seguir o mesmo caminho, as que não adotarem a política vão “ganhar prestígio do público”. E podem até conquistar novos adeptos.
Pedro Curi, por sua vez, acredita que as pessoas, provavelmente, vão se dividir. “Elas vão escolher as plataformas em que assistirão com anúncio e aquelas em que aceitarão pagar um pouco mais”, observa.
Anúncios podem entrar em mais streamings
Os comerciais, que já se tornaram comuns no YouTube, Spotify e Deezer, devem integrar todas, ou a maior parte, das plataformas de conteúdo on-line com o tempo. Isso porque, além de permitir uma opção gratuita ou mais barata para os consumidores, os anúncios também interferem diretamente nos ganhos dessas empresas.
“Acredito que isso possa virar tendência porque o dinheiro de anúncios é realmente alto. Falando como agência, a gente usa bastante a plataforma do YouTube para impactar nosso cliente e a partir dele ter bons resultados de views, de reconhecimento de marca, etc. Então com certeza os streamings também estão olhando para isso e, quem tiver coragem, talvez evolua e mude o mercado com isso”, analisa o CEO da agência de marketing digital CMLO&CO, Saulo Camelo.
Ele destaca ainda que usaria a ferramenta de anúncios da Netflix com duas condicionantes: a segmentação oferecida e a expectativa de reconhecimento de marca. “As pessoas estão lá, as pessoas estão assistindo Netflix. Se quero vender produtos no Natal, por exemplo, eu sei que as pessoas vão ver filmes de Natal, então vou anunciar ali (nos conteúdos desse tipo).”
Diego Oliveira também entende o lado positivo dessa mudança. Ele explica que, segundo o Ibope, 21% do tempo de consumo por vídeo da audiência é em streamings. “A inclusão dos anúncios nessa plataforma é mais uma oportunidade a ser explorada pela publicidade. Essa fatia de mercado é assertiva se estudada pelas marcas”, observa.
Anúncios e faturamento
A Netflix divulgou que teria um plano “Básico com Anúncios” em outubro de 2022. Na conferência de imprensa global, na qual o Metrópoles esteve presente, a empresa explicou que a opção custará R$ 18,90 e mostrou como tudo vai funcionar. Nessa modalidade, cada inserção terá de 15 a 30 segundos, com média de 4 a 5 minutos de anúncios por hora de atração, e aparecerá tanto no começo dos programas quanto durante a exibição dos mesmos.
Além disso, a opção não terá todos os títulos disponíveis, oferecerá a possibilidade de ver os conteúdos em uma menor qualidade e não permitirá os downloads que permitem assistir séries e filmes off-line. De acordo com o Co-CEO e diretor de conteúdo da empresa, Theodore A. Sarandos, o pacote vai “abrir a Netflix para um novo público (…) a um preço ainda mais baixo”. No Brasil, a diferença será de R$ 7 em um primeiro momento.
Em um relatório divulgado pela Netflix, Sarandos também afirmou que eles têm trabalhado para aumentar a liderança nessa área. Isso porque, embora ainda seja a líder desse mercado, a empresa perdeu 200 mil assinantes em abril passado e viu as ações despencarem na bolsa de valores.
Com os anúncios, a queda do número de assinantes teria menor impacto nas finanças da empresa. “As assinaturas podem cair com o novo formato, mas não vai afetar o faturamento, pelo contrário, devem aumentar. Empresas que investem muito em marketing vão colocar muito dinheiro nessas plataformas”, aposta o CEO da CMLO&CO.