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“Brasileiro quer ver mais séries nacionais”, diz executivo da Netflix

Vice-presidente de conteúdos internacionais, Erik Barmack diz que a plataforma investirá em mais produções brasileiras

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1 de 1 selton mello OMecanismo_101_Unit_01840R - Foto: Pedro Saad/Netflix/Divulgação

A gigante global Netflix quer ampliar o volume de conteúdo brasileiro em sua plataforma. Segundo o vice-presidente de conteúdos internacionais da empresa, Erik Barmack, pelo menos mais três ou quatro séries nacionais devem ser anunciadas pela plataforma. É um número relevante pois, até agora, entre projetos já em exibição e a estrear, a Netflix comunicou cinco produções locais – 3%, Coisa Mais Linda, Samantha!, O Mecanismo e Sintonia, de Kondzilla.

À medida que a briga com outros serviços se acirra – HBO, Fox e Disney estão investindo mais em streaming –, a Netflix prioriza as produções próprias e reduz os licenciamentos de terceiros. Só em 2018, a empresa, que tem 125 milhões de usuários, investirá US$ 8 bilhões (R$ 30 bilhões) em conteúdo original. A ideia, diz Barmack, é apostar cada vez mais em ideias de apelo global.

A seguir os principais trechos da entrevista:

À medida que o mercado se desenvolve, a Netflix busca ser dona do próprio conteúdo?
Nosso negócio está se tornando mais global e não dá para só 4% ou 5% do conteúdo vir de fora dos Estados Unidos. As boas séries estão sendo feitas em vários lugares, como 3%, do Brasil, ou La Casa de Papel, da Espanha. Precisamos nos conectar a usuários de todo o mundo, o que leva à necessidade de termos direitos globais de distribuição.

Dos 470 conteúdos que a Netflix estreará até o fim deste ano, qual será a fatia das séries internacionais?
Será um número crescente. Já divulgamos o desenvolvimento de 100 projetos na Europa. Até agora, anunciamos cinco séries brasileiras – 3%, Coisa Mais Linda, Samantha!, O Mecanismo e o projeto do Kondzilla (Sintonia). Acho que certamente anunciaremos mais três ou quatro até o fim de 2018.

Qual é o fator de decisão sobre conteúdos globais?
Queremos que nossas séries atraiam uma audiência grande em relação ao custo de produção. Em alguns casos, esse público relevante pode estar concentrado (em um mercado). É o que acontece com comédias. E há o caso de 3%, uma ficção científica feita no Brasil, que atraiu atenção na Alemanha, na França e nos Estados Unidos. Os fãs de anime estão espalhados pelo mundo e, por meio de nossa plataforma global, essa audiência pulverizada pode se reunir em torno desse conteúdo.

E os fãs de um conteúdo podem estar em diferentes países…
Isso ficou claro com La Casa de Papel. É uma série espanhola que teve grande audiência no Brasil. Não sabemos a razão, mas essa série se tornou parte da cultura global da Netflix.

O que define a manutenção de uma série na grade de um serviço de streaming?
São vários fatores. Pode ser audiência total ou a construção de audiência em certos territórios, temos séries que se encaixam nessa segunda categoria na Ásia. E tem o fator qualidade e a relação com os cineastas com os quais trabalhamos.

Existe algum tipo de narrativa que funcione melhor em um serviço global?
Temos o princípio da liberdade artística. É por isso que desejamos trabalhar sempre com José Padilha e Selton Mello (diretor e ator de O Mecanismo, respectivamente). E também queremos nos diferenciar da TV aberta. Não temos nada contra novelas, mas não vamos investir nelas, pois já existem emissoras no Brasil que as fazem. Temos de fornecer programação que não existe na TV aberta, como fantasia, ficção e comédias ousadas.

Cada vez mais a Netflix vai concentrar conteúdos próprios, em vez de licenciados?
É verdade que estamos investindo mais em conteúdo original, mas vamos continuar a licenciar conteúdo. Hoje, fazemos isso com séries como Star Trek e Riverdale.

Qual é a importância do Brasil dentro da Netflix global?
É um dos nossos principais mercados internacionais e continua a crescer de forma saudável. Percebemos, com base nas primeiras sérias nacionais que realizamos, uma tendência do brasileiro em consumir mais conteúdos nacionais. E há muitos talentos a serem descobertos no país.

Com streamings de Fox, Disney e HBO, não ficará mais difícil obter conteúdo externo?
Haverá mais plataformas globais, assim como novas opções locais. Mas temos a vantagem do modelo único de negócio: as pessoas fazem a assinatura e recebem o conteúdo. Acho que [a concorrência] será uma vantagem para o consumidor, que terá mais alternativa e poderá assinar mais de um serviço. Nosso objetivo é ser uma dessas escolhas.

A estratégia de marketing da Netflix varia muito de conteúdo para conteúdo. Por quê?
Cada conteúdo tem sua estratégia de marketing próprio. Alguns têm apelo geral, enquanto outros são mais específicos. Na nossa visão, a própria Netflix é a nossa melhor plataforma de marketing. Encadear o conteúdo ao gosto do cliente é a forma mais eficaz [de convencê-lo a continuar assistindo].

E são mais de 120 milhões de pessoas na plataforma…
A natureza global da Netflix também é bem interessante. Aos poucos, a gente descobriu que boas histórias vão ser apreciadas, não importa sua origem. Se você me dissesse há cinco anos que os mesmos clientes poderiam se interessar por uma série dinamarquesa (The Rain) e por uma brasileira (3%), não sei se acreditaria.

Essa atração para novos conteúdos pode se dar por diferentes vias?
Com certeza. No Brasil, muita gente assiste a 3% porque gosta de ficção científica, outros vão ver Samantha! porque gostam de conteúdo nacional, outros vão ver Elite porque gostaram de La Casa de Papel.

O maior youtuber do Brasil, Kondzilla, terá uma série na Netflix. Ele poderá construir uma nova audiência?
A série de Kondzilla fica em uma categoria de conteúdo capaz de atrair audiência global justamente por ser local. E a visão artística do Kondzilla é bem única, mostra uma realidade específica de São Paulo. Além disso, a música e a forma de filmar também serão diferentes.

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