Assédio: série relata violência sofrida pelas vítimas de Abdelmassih
Produção é inspirada no processo que condenou o ex-médico estuprador a mais de 200 anos de cadeia
atualizado
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É necessário estômago forte para assistir impassível às cenas de abuso sexual retratadas em Assédio, nova série da Globoplay, plataforma de streaming da emissora carioca. Mesmo com a tutela feminina da roteirista Maria Camargo e da diretora artística Amora Mautner, a produção insiste em cenas intermináveis de violência que chocam, enojam e revoltam os espectadores, principalmente as mulheres.
A obra é livremente inspirada no livro-reportagem de Vicente Vilardaga, A Clínica – A Farsa e Os Crimes de Roger Abdelmassih. Na série, assim como na vida real, o protagonista utiliza-se do poder e do posto de maior especialista em reprodução humana do país para estuprar pacientes fragilizadas pelas dificuldades de engravidar.
A história é narrada em 10 episódios, e cada um leva o nome de uma mulher violentada. Talvez pela ciência da proximidade com depoimentos endossados por vítimas reais, não há espaço para respiro ou alívio. A produção não entretém, assusta. Mas isso não é motivo capaz de fazer alguém desistir da série. Caso resista ao impulso de tapar os olhos, você verá um show de interpretações magistrais, a começar por Roger Abdala, feito pelo inspirado Antonio Calloni.
Nos primeiros capítulos, conhecemos as histórias das personagens vividas por atrizes do gabarito de Adriana Esteves, Hermila Guedes, Paula Possani, Fernanda D’Umbra e Jessica Ellen. Todas têm suas vidas e sonhos de maternidade destruídos após passarem pela clínica do homem à época apelidado por celebridades como “Dr. Vida”.
A produção madura e bem-conduzida do aplicativo global apresenta outras vítimas não declaradas do médico monstro. A principal delas, Glória Sadala, é a primeira mulher de Roger Abdala. Digna de um Emmy, Mariana Lima consegue a densidade exata para viver a esposa submissa que vai definhando de doença – e desgosto – até a morte.
Protagonismo feminino
É uma obra de protagonismos femininos. Em destaque, o desenrolar da trama focada na superação das vítimas. Desde reerguerem-se da depressão, das desconfianças dos companheiros, até encontrarem forças para romperem o silêncio e buscarem justiça.
Assédio mostra, também, o trabalho incansável da repórter Mira (Elisa Volpatto) – personagem inspirada em Lilian Christofoletti, primeira jornalista a publicar as denúncias, em janeiro de 2009 –, que se dispõe a investigar o caso, conquista a confiança das vítimas e as convence a depor ao Ministério Público sobre as atrocidades sofridas. Fora as diversas oscilações do roteiro entre o documental e o ficcional, que confundem o espectador, trata-se da primeira produção seriada da Globo capaz de concorrer com outros aplicativos do mesmo segmento.
Avaliação: Ótimo