Amor Sem Igual: 1º capítulo é atual, mas sem grandes novidades
Trama da Record TV teve toques de Uma Linda Mulher em sua estreia na telinha
atualizado
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Em meados dos anos 2000, depois de longo e tenebroso inverno dramatúrgico, a Record TV voltou a exibir novelas, algumas com bastante êxito e bem elogiadas, caso de Poder Paralelo, as dos Mutantes, e aquela em que a Lucinha Lins interpretava uma piromaníaca. O esquema de realistas narrativas modernas foi quebrado com o sucesso da épica Os Dez Mandamentos, que chegou a rivalizar até com os folhetins da Globo. Daí em diante as tramas bíblicas dominaram. Neste ano, outra reviravolta. Topíssima, de Cristianne Fridman, mostrou que há espaço na programação tanto para o sagrado, quanto para o contemporâneo. Representando o segundo grupo, Amor Sem Igual, da mesma autora, estreou na terça-feira (10/12/2019).
Neste primeiro capítulo, a inspiração parece ter sido Uma Linda Mulher. Se Uma Linda Mulher se passasse na Rodovia Anchieta ao invés da Hollywood Boulevard, no caso. É numa parada de caminhoneiros que encontramos a protagonista, Angélica (Day Mesquita), mais conhecida pelo apelido Poderosa. Ela está que nem a Julia Roberts no filme, vestido curto, bota longa, peruca chanel loira. Desbocada e confiante, a moça dá um pivô na Avenida Paulista após uma noite de trabalho atraindo olhares.
Ainda com essa caracterização que mais parece uma fantasia de Carnaval, a Poderosa vai rumo à chiquetérrima Oscar Freire, onde para, admirada, em frente a uma vitrine. Alô, Bonequinha de Luxo, esse carma é seu. Ao invés de tomar seu café da manhã ali de butuca, algo impressionante acontece: a mulher resolve realizar seu sonho de comprar uma pashmina. O case Pretty Woman continua. A Poderosa não possuía o dinheiro necessário, mas ela tem algo que Julia Roberts não tinha naquele rolê pela Rodeo Drive: um cartão de crédito. As vendedoras esnobes ficam em choque, percebendo o erro delas.
Mas tem mais. Descobrimos outros pontos da trama. Angélica é filha de poderoso figurão, que depois de rejeitá-la na infância, a procura incessantemente. Tobias (Thiago Rodrigues), filho do ricaço, acha a garota sigilosamente porque não curte a ideia de adicionar uma cadeira à mesa de jantar da família abastada. Assim, casualmente, ele decide mandar matá-la; o famoso “sem tempo, irmão”. O problema do rapaz seria dividir a herança com a nova parente. Mas o pai deles é o Juan Alba, que tem uns 40 anos e parece em plena forma. Não entendi. Mas quem poupa, tem.
Chega o núcleo Mercadão, boa sacada em se tratando de São Paulo como cenário. O lugar é um clássico popular, democrático, todo mundo curte (a Barraca do Juca, do Tony Ramos em A Próxima Vítima, continua por ali, inclusive). É neste ponto turístico que o boa praça Miguel vende frutas e verduras, todas cultivadas no sítio dele. Amigo de todos, cara muito querido, é com ele que a Poderosa vai se envolver. Como? Não perca o próximo parágrafo.
Jurada de morte sem saber, nossa Julia Roberts do Bixiga está lá novamente na parada de caminhões, belíssima com sua pashmina rosa, esperando os programas da noite. O assassino Bernardo (Heitor Martinez) ronda o local com um comparsa só para dizer que volta no dia seguinte. Ao invés de dar cabo do plano em lugar ermo durante a madrugada, ele espera amanhecer, pergunta ao frentista quem é a moça ali parada, onde ela mora. Só falta deixar uma cópia do comprovante de residência para o encontrarem mais facilmente.
Enquanto isso, Miguel, o do Mercadão, que já havia dado um confere na Poderosa quando abasteceu na noite anterior, volta para trocar o óleo no raiar de um novo dia. O futuro casal se paquera na conveniência. Em sequência a um surreal diálogo (“Eu faço de graça” – “Não pago por sexo” – “Me dá uma carona?”), ela entra no carro com o mocinho. Vamos acelerar a fita.
O assassino os persegue, o carro cai da ribanceira e explode, a mulher revela-se ruiva, a peruca dela some, a pashmina dela some, a polícia desconfia da história, eles têm que convencer meio mundo de que não transaram, o amigo de Miguel diz que ele pode pegar “uma doença nas partes íntimas”, a Poderosa aparece para trabalhar de novo com uma chanel loira, entra no carro do assassino achando que é um possível cliente, o vilão nem disfarça, só falta uma camiseta escrita “hoje é dia de maldade”, a moça sai correndo no mato escuro de salto 15, leva um estabaco, lá vem o malfeitor, socorro, o capítulo acaba.
Com texto didático, personagens engessados e potencial para situações absurdas, parece que A Dona do Pedaço mudou de canal para a Record TV. Mas como bem dizia o profeta de Uma Linda Mulher, isso é Hollywood. Aliás. Isso é novela. No caso.
PS: A melhor parte do capítulo foi quando rolou um Hoobastank – The Reason. Meu eu de 2004 chorou.