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Sérgio Maggio estreia “Duas Gotas de Lágrimas no Frasco de Perfume”

Em seu novo espetáculo, autor aborda o sofrimento de famílias que não sabem o paradeiro de parentes desaparecidos durante a ditadura militar

atualizado

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Duas Gotas de Lágrimas num Frasco de Perfume
1 de 1 Duas Gotas de Lágrimas num Frasco de Perfume - Foto: Divulgação

A história real de uma mãe gaúcha que todos os dias se arrumava, se perfumava, e se punha na janela a esperar o filho, desaparecido durante a ditadura militar, inspirou o título do novo espetáculo do jornalista e dramaturgo Sérgio Maggio, “Duas Gotas de Lágrimas no Frasco de Perfume“.

Dirigida pelo autor, a peça estreia nesta quinta-feira (27/10) no Teatro 2 do Centro Cultural Banco do Brasil. De certa forma, conta a história dessa mulher, como também conta a de Dona Rosa, mãe de Honestino Guimarães — líder estudantil que, em 1973, foi preso pela polícia da ditadura para nunca mais aparecer.

Entre 2009 e 2011, Maggio (que assina a coluna Tipo Assim no Metrópoles) desenvolveu um projeto com alunos da Faculdade Dulcina a partir de pesquisa sobre Honestino. O trabalho resultou numa demonstração cênica, depois apresentada a familiares do homenageado. Dona Rosa não foi. Não tinha condições emocionais para assistir.

Fiquei muito impactado com o efeito que o desaparecimento político provocou na mãe e na família. E comecei a olhar a história dos parentes do Honestino. Uma família que sofreu um baque muito forte em consequência disso

Sérgio Maggio, dramaturgo

Outras referências
Vieram então outras referências, como o filme “Zuzu Angel”, de Sérgio Rezende — sobre o drama da estilista carioca que morreu por insistir em saber que fim teriam dado ao seu filho, também desaparecido nos porões da ditadura — e o livro “Antes do Passado”, de Liniane Haag Brum, sobre o destino desconhecido de seu tio Cilon Cunha Brum, militante comunista no Rio Grande do Sul.

A partir daí, Sérgio Maggio começou a pesquisar, em horas vagas, sobre o que aconteceu com as famílias de desaparecidos políticos. E assim foi nascendo o texto de “Duas Gotas de Lágrimas no Frasco de Perfume”, em que quatro mulheres compartilham a dor de não saber o destino de entes queridos, sequestrados, presos, torturados e mortos pelos militares.

Fui vendo essa ação devastadora nas famílias. Para muitas mães e familiares, o fato de não ter concluído essa morte fez com que eles morressem junto, fossem desaparecendo também. Dona Rosa e muitas outras mães morreram de Alzheimer. Achei aí uma coisa para ser investigada

Sérgio Maggio

Divulgação

O tempo, um algoz
Por meio de Rosa, Sofia, Tuca e Lola, o autor discute a relação de tempo, que passa a ser um grande algoz na vida dessas pessoas. Elas vão atravessando décadas e décadas a esperar uma notícia que não virá. Nesse aspecto, o texto encontra uma aproximação com o clássico “Esperando Godot”, de Samuel Becket, em que os personagens estão a esperar algo que ninguém sabe o que é que nunca vem.

O que no entanto difere “Duas Gotas de Lágrimas…” de outras obras dramatúrgicas sobre a ditadura militar é a vontade de se falar disso, não com o discurso de quem foi para a luta, mas de quem ficou em casa. “Muitos desses familiares sentiam vergonha, porque o Estado ‘vendia’ seus filhos como terroristas, assaltantes de banco, davam-lhes muitos estigmas de bandido”, diz Maggio.

Trabalhei com a ideia de personas, não de personagens. É como se elas fossem uma multidão de personagens, são espectros. Passam histórias por elas, na verdade, e elas vão falando sobre isso, o que é esperar por tanto tempo por uma notícia que não vem e suas vidas irem se desfazendo junto.

Sérgio Maggio

Sérgio Martins

O pior do sentimento humano
Para o dramaturgo, o tema se torna mais necessário e atual diante das recentes manifestações de desejo pela volta da ditadura. “O fato de a gente ter na Presidência da República uma mulher que foi torturada, que foi militante da luta armada, e que, para muitos, era responsável por causar esse transtorno econômico no país, fez com que muita gente desejasse que a tortura e a ditadura militar tivessem dado um cabo nela para que nem tivesse sobrevivido. Veio aí uma escória, o pior do sentimento humano.”

Em “Duas Gotas de Lágrimas no Frasco de Perfume”, Gelly Saigg, Silvia Paes, Gabriela Correa e Tainá Baldez (as duas últimas reveladas no musical “As Canções de Odair José — Eu Vou Tirar Você Desse Lugar”, também de Maggio) dividem o palco com o ator, performer e pianista Tiago Ianuck, que toca músicas instrumentais autorais. A trilha traz mais cinco canções escolhidas pelo autor e diretor, que não são canções de época, mas “canções íntimas, que as pessoas podiam estar ouvindo dentro de casa”.

O tempo é um protagonista do espetáculo. A gente embaralhou os tempos. As atrizes, algumas na faixa dos 20 anos, falam como se estivessem nos anos 1970, mas estão aqui, agora, na rua lutando

Sérgio Maggio

“Duas Gotas de Lágrimas no Frasco de Perfume”
De 27/10 (quinta) a 20/11, às 19h. No Centro Cultural Banco do Brasil — Teatro 2 (Setor de Clubes Esportivos Sul, Trecho 2, Lote 22). Ingressos a R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). À venda na bilheteria do CCBB e no site Up Ingressos.

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