Quarenta anos depois, Françoise Fourton ainda é lembrada por “Estúpido Cupido”
Personagem da atriz na novela de 1976 inspira musical que fez temporada de sucesso no Rio de Janeiro e agora estreia em São Paulo
atualizado
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A atriz Françoise Forton até já se acostumou. Basta o DJ da festa descobrir que ela está presente para tocar, em alto e bom som, a música “Estúpido Cupido”, na voz de Celly Campello. “Vejo como homenagem e até arrisco uns passinhos”, diverte-se ela, que se tornou a principal referência da novela “Estúpido Cupido”, exibida pela Globo em 1976, grande sucesso de audiência.
Com exceção dos dois capítulos finais (de um total de 160), exibidos em cor, “Estúpido Cupido” foi a última novela da Globo gravada em preto em branco. Escrito por Mário Prata, o folhetim estreou em agosto de 1976 no horário das 19h e, apesar de apresentar uma trama inocente (as paixões e as diversões de um grupo de jovens de uma pequena cidade do interior paulista, nos anos 1960), houve intervenção da censura federal, situação infelizmente comum daquela época de ditadura militar.
Um dos alvos principais, por exemplo, era a irmã Angélica, a religiosa com ideias revolucionárias, vivida por Elizabeth Savalla. Em um dos capítulos, ela decide montar a peça “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna. Mas as cenas não foram ao ar porque os censores implicaram com o fato de surgir um Cristo negro na história.
Uma outra história
No papel de Maria Tereza, a Tetê, Françoise encarnou com perfeição o modelo de menina dos anos 1960, pudica, mas sempre curiosa ao que era considerado proibido. E, no fim, seu rosto angelical e suas formosas curvas ajudaram-na a se consagrar Miss Brasil de 1961. É justamente das reminiscências desse período dourado e tão distante de que trata o musical “Estúpido Cupido”. — o espetáculo cumpriu bem-sucedida temporada no Rio de Janeiro e sábado 927/2) estreia em São Paulo, no Teatro Gazeta.
A personagem principal chama-se Tetê, mas não tem relação com a da novela. Assim como os outros personagens do espetáculo, que se passa nos dias atuais. A forma ardilosa com que Flávio Marinho construiu o texto faz com que todo um grupo de amigos volte no tempo e recrie, de alguma forma, aquele universo do folhetim. “Não tinha motivos para voltarmos à novela, que pertence à Globo. A solução foi criar uma festa de reencontro de colegas da escola, aquele momento em que se descobre como as pessoas mudaram fisicamente.”
‘Estúpido Cupido’ brinca com a relação do tempo, o ontem e o hoje. Uma peça que se passa na atualidade, resgatando a ingenuidade, num descompromisso que tínhamos. O compromisso maior dos anos 1960 era de se apaixonar, aí entra a figura e a ideia do Cupido
Gilberto Gawronski, diretor
Apresentadora de um programa de TV chamado “Sossego”, Tetê, também atriz famosa, é convencida por uma amiga, Ana Maria (Clarisse Derzié Luz), a ir num reencontro da turma de colégio, uma festa com músicas e figurinos dos anos 1960 e 1970. Lá, Tetê reencontra não só a rival Wanda (Sheila Matos), como também o ex-marido Frankie (Renato Rabelo) e uma antiga paixão, Teddy (Luciano Szafir), um namorico do colegial.
É nesse momento que o conflito entre passado e presente se torna mais denso. “A encenação está baseada no espelhamento, que propõe um jogo teatral, onde saímos do realismo e o espetáculo ganha um tom mais poético”, explica Gilberto Gawronski que, pela primeira vez, em 35 anos de carreira, dirige um musical.
A trilha sonora não poderia ser outra — inteiramente baseada no rock daquela época, 20 músicas que pontuam a ação dramática. Além da canção que inspira o título do musical, destacam-se “Banho de Lua”, “Lacinhos Cor de Rosa”, “Tetê”, “Juntinhos”, “Broto Legal” e “Biquíni de Bolinha Amarelinha”, entre outras. Os arranjos são baseados nos originais.