metropoles.com

Peça sobre homofobia e opressão lota teatro e arranca aplausos na UnB

Revide, com direção de Bruna Dutra, faz parte do projeto Quartas Dramáticas, que ocorre todo semestre na universidade

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Thaís Moura/Metrópoles
29102018-IMG_01701
1 de 1 29102018-IMG_01701 - Foto: Thaís Moura/Metrópoles

Durante quatro meses, 13 alunos da UnB se reuniram em um teatro do subsolo da universidade para dar luz à Revide, peça teatral com roteiro de Felipe Uchôa e direção de Bruna Dutra e Guilherme Liones. A obra, orientada por André Gomes, professor e coordenador do projeto Quartas Dramáticas: Leituras Cênicas, estreou nessa quarta-feira (28/11) e lotou os 60 lugares do teatro, fazendo sucesso entre o público, que aplaudiu de pé após o espetáculo.

A peça foi marcada por um texto com fortes críticas à homofobia, opressão, manipulação pela mídia e ao excesso de masculinidade, sendo a maioria dos personagens interpretados por homens. Além disso, críticas ao estereótipo do “cidadão de bem” e ao “homem de família”, que deseja fazer justiça com as próprias mãos, se fazem presentes de forma explícita.

O enredo gira em torno de um caso de homofobia que ocorreu em São Paulo, no qual irmãos foram confundidos com um casal homossexual e acabaram sendo espancados ao caminharem na rua Augusta. Guilherme Liones e Marisa Miranda interpretam as duas vítimas da agressão cometida por Gigio, personagem principal encenado por Diego Paz. Durante a peça inteira, que se inicia com o nascimento da vítima, os atores interpretam homens violentos e com masculinidades frágeis, contendo diversas falas que criticam esse comportamento.

“Fui um menino que apanhei de outros meninos, e hoje em dia guardo minha masculinidade em meus músculos subdesenvolvidos”, repete constantemente uma das vítimas. “Não há nada de feminino em mim, portanto, não há nada de humano em mim”, relata a personagem. Enquanto isso, Gigio reencarna a homofobia, agressividade, o extremismo e veste uma camisa do Brasil durante todo o espetáculo, como uma possível crítica à atual situação política do país.

Os únicos papeis femininos foram os das âncoras, que representam uma mídia tendenciosa, parcial e manipuladora. As atrizes Gabriela Neves, Maria Clara Mendes e Daniele Souza incorporaram de forma cômica as personagens. Do início ao fim, mantiveram um sorriso no rosto, mesmo em meio à tanta violência e caos que noticiavam ao público.

Gigio é um típico cidadão de bem hipócrita, idealizador de um mundo livre de pessoas que ele não gosta, as ditas minorias. Ele é um típico eleitor do Bolsonaro”, declarou Marisa, que interpreta a vítima em Revide.

Uma interpretação que chamou a atenção do público foi a de Benjamin Figueredo, que representa o subconsciente coletivo e a opinião pública. “Meu personagem é como se fosse a caixa de comentários de um site qualquer de notícias, principalmente os comentários negativos”, disse.

A todo momento, o “subconsciente” faz apologia à vingança, sempre atuando como uma voz na cabeça das vítimas que as aconselha a revidar o ato e, até mesmo, a assassinar o personagem.

“O sonho do oprimido é ser o opressor, mas não se pode confundir a reação dele com a violência do opressor”, fala uma das vítimas durante o monólogo final. Por fim, uma vítima opta pela vingança, enquanto a outra, que permaneceu a peça inteira em silêncio e angustiada, encerra o espetáculo levantando uma pergunta para a plateia: “Eu tenho duas opções: me vingar ou perdoar. O que você faria no meu lugar?”.

A gravação completa de Revide será editada e publicada em breve no YouTube e Facebook do projeto Quartas Dramáticas.

29 imagens
O espetáculo se inicia com o nascimento doloroso de um homem, que mais tarde se tornaria a vítima principal do ataque homofóbico
A vítima principal, encenada por Marisa Miranda, permanece o espetáculo todo lendo sobre "como se tornar um homem em 24 passos"
A vítima demonstrou estar sempre desesperada e à beira de um ataque de pânico
Diego Paz interpreta Gigio, personagem agressivo, preconceituoso contra minorias e extremista
1 de 29

A vítima encenada por Gui Liones se encontra em um conflito interno entre vingança e perdão

Thaís Moura/Metrópoles
2 de 29

O espetáculo se inicia com o nascimento doloroso de um homem, que mais tarde se tornaria a vítima principal do ataque homofóbico

Thaís Moura/Metrópoles
3 de 29

A vítima principal, encenada por Marisa Miranda, permanece o espetáculo todo lendo sobre "como se tornar um homem em 24 passos"

Thaís Moura/Metrópoles
4 de 29

A vítima demonstrou estar sempre desesperada e à beira de um ataque de pânico

Thaís Moura/Metrópoles
5 de 29

Thaís Moura/Metrópoles
6 de 29

Diego Paz interpreta Gigio, personagem agressivo, preconceituoso contra minorias e extremista

Thaís Moura/Metrópoles
7 de 29

Thaís Moura/Metrópoles
8 de 29

Gigio é visto como o vilão principal de peça, sendo defendido apenas por seu pai

Thaís Moura/Metrópoles
9 de 29

O pai de Gigio, interpretado por Pedro Elias, utilizou uma cruz como se fosse arma

Thaís Moura/Metrópoles
10 de 29

Pai de Gigio é um personagem fanático religioso e extremista, assim como o filho

Thaís Moura/Metrópoles
11 de 29

Gigio usou ou carregou a bandeira do Brasil durante a peça inteira

Thaís Moura/Metrópoles
12 de 29

Benjamin Figueredo faz o papel do "subconsciente", da vingança que fala alto na mente dos personagens

Thaís Moura/Metrópoles
13 de 29

O personagem de Benjamin é glorificado pelas âncoras por desejar a morte de Gigio

Thaís Moura/Metrópoles
14 de 29

Gigio, enquanto foragido, é preso e ameaçado pelo subconsciente das vítimas

Thaís Moura/Metrópoles
15 de 29

Em Revide, a imprensa é retratada de forma humorística e ironizada

Thaís Moura/Metrópoles
16 de 29

A vítima e o subconsciente permaneceram em um diálogo conflituoso sobre o certo e o errado a se fazer

Thaís Moura/Metrópoles
17 de 29

Em cena forte, pai de Gigio encena afogamento no sangue que o filho derramou

Thaís Moura/Metrópoles
18 de 29

O subconsciente ensina a vítima a lutar, com o objetivo de se vingar de Gigio pelo ataque

Thaís Moura/Metrópoles
19 de 29

O pai de Gigio aparece como uma figura que, ao mesmo tempo que incentiva o comportamento agressivo do filho, sente vergonha dele

Thaís Moura/Metrópoles
20 de 29

As âncoras se encontram presentes em quase todas as cenas, sempre narrando os fatos de forma tendenciosa e parcial

Thaís Moura/Metrópoles
21 de 29

A mídia narra os acontecimentos enquanto eles ocorrem em tempo real

Thaís Moura/Metrópoles
22 de 29

As âncoras que representam a mídia mantêm um sorriso no rosto a todo momento

Thaís Moura/Metrópoles
23 de 29

O cenário com a frase "Os puros de coração serão sempre acertados no rosto" permanece no palco do início ao fim

Thaís Moura/Metrópoles
24 de 29

Thaís Moura/Metrópoles
25 de 29

Thaís Moura/Metrópoles
26 de 29

Thaís Moura/Metrópoles
27 de 29

A obra se encerra com cena congelada onde o subconsciente e a vítima se preparam para matar Gigio, enquanto a imprensa nada faz para salvá-lo

Thaís Moura/Metrópoles
28 de 29

A vítima levantou questões importantes no final do espetáculo, fazendo perguntas diretamente ao público

Thaís Moura/Metrópoles
29 de 29

"Eu tenho duas opções: me vingar ou perdoar. O que você faria no meu lugar?", questiona a vítima ao público

Thaís Moura/Metrópoles

Reação do público
Com uma plateia bem receptiva ao roteiro de Revide, que recebeu risadas em momentos de sátira e aplausos estrondosos no final, tornou-se difícil encontrar algum espectador que tivesse críticas negativas ao espetáculo.

Fernanda Neves, irmã de uma das âncoras, conta que realmente se sentiu tocada pela mensagem transmitida pela peça. “O que eu mais gostei foi o final, no qual eles deixaram o público escolher entre a vingança e o perdão”, disse Fernanda. “Também senti que o Diego, ator de Gigio, deu tudo de si e levou o personagem para casa para conseguir interpretar esse papel”, continuou a espectadora.

Já Marcelo Alves, que assistiu ao lado de Fernanda, compartilha da mesma visão. Porém, ele chama atenção para o papel das âncoras. “O que me pareceu mais interessante foram as jornalistas representando de forma engraçada algo que não tinha graça alguma”, conta.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comEntretenimento

Você quer ficar por dentro das notícias de entretenimento mais importantes e receber notificações em tempo real?