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Crítica: “Teatro dos Seres Imaginários” convida espectador à ilusão

O público vive a sensação de enfrentar seus medos em meio à escuridão

atualizado

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TSI Boneco
1 de 1 TSI Boneco - Foto: Divulgação

Uma experiência teatral inusitada e gratuita está em cartaz em Brasília, até 16 de abril, no Teatro da Caixa. Embora os diversos elementos que compõem o “Teatro dos Seres Imaginários” sejam velhos conhecidos de quem tem intimidade com as artes cênicas, o resultado é radicalmente original.

Para começo de conversa, a inspiração da peça vem de um livro de monstros escritos para embasbacar adultos. E o resultado é uma fábula visual encenada por bonecos manipulados, que confrontam o espectador com uma sensação de estranhamento e a necessidade de olhar no fundo dos olhos de cada um dos seus temores.

A encenação, que dura apenas dez minutos, se dá dentro de um quadrado, uma espécie de caixa escura, montada perto da entrada do espaço cultural. O público, de dezoito pessoas por sessão, acessa a “sala de espetáculo” por baixo – entra agachado e se encaixa em uma abertura no tecido preto, do tamanho de um bambolê. A poucos metros uns dos outros, os espectadores se sentem gigantes que invadem a intimidade de um mundo paralelo, frágil e secreto.

Quando as luzes se apagam, a poucos metros de cada rosto, tem início o desfile de marionetes. Manipuladas a partir do teto da estrutura, os títeres surgem e desparecem dos quatro cantos do cenário, criando suspense na plateia, em um jogo inteligente de utilização do espaço.

De imediato, somos apresentados ao protagonista, um senhor de mente fértil, e à curiosa fauna que brota de sua imaginação. Baseado no O Livro dos Seres Imaginários, uma bem-humorada e rebuscada espécie de enciclopédia de zoologia fantástica escrita por Jorge Luís Borges e Margarita Guerrero, o espetáculo traz um desfile de seres estranhos, criaturas coletadas em mitos, lendas e clássicos da literatura mundial.

Da imaginação do herói, surge um peixe metálico alado, um gato de sorriso irônico e olhos que brilham no escuro, uma cegonha feita de retalhos coloridos, e mais alguns animais de difícil descrição (melhor mesmo é vê-los em cena, ou lê-los na obra original). Na penumbra do “palco”, não há uma ação concreta, mas a partilha de um momento com aqueles exóticos espécimes surgidos de um criativo delírio artístico.

Assim como no livro, esse universo cênico onírico, quase místico, não é direcionado às crianças. Naturalmente, um espetáculo encenado em uma plataforma tão diferente, repleto de marionetes sobrenaturais, desperta o interesse infantil. A meninada tem uma experiência rica, mas completamente diversa dos adultos. Em cena, há partituras diferentes para públicos distintos.

A criação minimalista do diretor gaúcho Cacá Sena aproxima espectadores, e na penumbra de seu teatro de tecido, todos se vêem confrontados pelo desconhecido, a estranheza, o que intriga e assusta. A riqueza da experiência e a sensorialidade se sobrepõem à necessidade de contar uma história com começo, meio e fim. Sob os voos rasantes de fantásticas criaturas aladas, crianças e adultos se encontram, em estado de contemplação das diferenças.

Teatro dos Seres Imaginários
Na Caixa Cultural, até 16 de abril, das 17h às 21h. Classificação indicativa 10 anos. Entrada franca

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