Crítica: “Sexo” ainda é a melhor peça de Os Melhores do Mundo
Repaginado, o espetáculo do grupo está em cartaz no Teatro dos Bancários neste sábado (10/6) e domingo (11)
atualizado
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Experimente eleger a peça mais famosa da Cia. de Comédia Os Melhores do Mundo, trupe cômica que Brasília exportou para palcos do Oiapoque ao Chuí, e mais além. Missão difícil? Bem mais simples é definir qual espetáculo transformou o grupo nesse sucesso estrondoso que se mantém ano a ano. A resposta é: “Sexo”. Dando rasantes em palcos do país desde 1996, a peça cumpre curta temporada no Teatro dos Bancários (EQS 314/315 Sul) e terá sessões neste sábado (10), às 21h, e domingo (11), às 20h.
Antes de “Sexo”, cada temporada da trupe atraía cerca de três mil espectadores. Diante de um tema tão sugestivo, a frequência de público aumentou para mais de sete mil pessoas por temporada. O espetáculo também foi um dos responsáveis pela expansão do grupo para além das divisas do Distrito Federal e, Brasil afora, fidelizou uma legião de fãs. Na capital federal, cada sessão segue o rito de um reencontro de família, um compromisso ao qual os entusiastas de comédia não podem faltar, um pedacinho relaxante da semana, sempre temperado a gargalhadas.
Mas como o combustível de uma das peças mais encenadas nos palcos brasilienses não se esgota? O segredo talvez seja o timing perfeito. Depois de repetir à exaustão cada piada, trejeito e olhar, cada um dos seis atores do grupo encontrou a excelência e arranca o máximo de risadas da audiência. (Em “Sexo”, apenas Adriana Nunes não entra em cena).Embora o título seja sugestivo, o espetáculo não investe em cenas picantes. O ato sexual é o pano de fundo. Em linguagem cênica: serve de escada para o humor besteirol, marca registrada do sexteto. Como quem não quer nada, os atores vão enfileirando temas que poderiam despertar a ira em seguidores do deputado conservador Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Os quadros (um pouco longos) tratam de homoafetividade, infidelidade entre casais, troca de parceiros. Mas o julgamento de valor e o patrulhamento moral passam longe do texto. O grande negócio é fazer rir.
Um dos ápices cômicos da trajetória de Os Melhores do Mundo é a cena que abre a peça. Na Rodoviária Interestadual, um casal gay se despede de forma lacrimosa. O que viaja, ansioso pela experiência, finge desapego. O que fica se derrama em chantagens, cenas de ciúme e declarações de amor. O grande mérito é demonstrar que o amor, mesmo em sua faceta mais caricata, não tem gênero.
Outro destaque é a cena em que dois casais improváveis se encontram para fazer swing. Welder Rodrigues se destaca como a personagem Maria Lúcia, dona de tiradas hilárias e disposta a ter um faniquito por segundo. O clichê do mineirinho caipira ganha uma versão brejeira e divertida nas mãos de Ricardo Pipo. Os próprios colegas de cena mal conseguem controlar o riso.
É notável o esforço do grupo em manter atualizado o gancho com a realidade. Os personagens que eles alfinetam nas gags cômicas não são os que brilhavam nas manchetes de seis meses atrás. As notícias estão quentinhas. Em cena, há referências à Joesley Batista e suas delações perigosas e à recente prisão dos ex-governadores Arruda, Agnelo e Filipelli.
Na cena final, a trupe opta por desconstruir a imagem classuda do espetáculo. Saem de cena os elegantes humoristas de smoking e entram, cheios de fôlego e sensualidade, integrantes de um improvável cover da banda americana Village People. Tendo a constância e a depuração do humor como ferramentas, Os Melhores do Mundo seguem como destaque incontestável do gênero produzido na cidade. Porque, ao mesmo tempo em que se renova nas sutilezas, a trupe mantém a essência do trabalho que a consagra e alimenta.
“Sexo”
Neste sábado (10), às 21h, e domingo (11), às 20h, no Teatro dos Bancários (EQS 314/315). Ingressos a R$ 40 (meia) e R$ 80 (inteira). À venda no site, na Central de Ingresso Brasília Shopping e na bilheteria do teatro. Classificação indicativa 14 anos