Após sair do Zorra, Luis Miranda leva a preconceituosa Madame Sheila à web
Ator afirmou que personagem vai escrachar preconceitos e mazelas sociais, em texto baseado em sua observação acerca do comportamento humano
atualizado
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Uma grã-fina brasileira de quarentena em sua mansão em Paris, cercada por empregados que até então lhe pareciam invisíveis, escrachando todos seus preconceitos e desigualdades evidenciadas pela pandemia do novo coronavírus. A personagem é Madame Sheila, vivida pelo ator Luis Miranda, que estreia pelo projeto Teatro Unimed em Casa adaptada ao contexto atual, com sessões on-line e gratuitas.
Serão oito atos de oito minutos, um a cada semana, com exibição sempre às quintas-feiras, às 21h, a partir de 1º de outubro.
Velha conhecida dos fãs de Terça Insana e 5X Comédia, a desaforada personagem de Luis Miranda ganha seu próprio espetáculo solo. E, apesar de determinada a levar o público a dar muitas risadas, aparece abordando temas sérios como o comportamento da sociedade e dos representantes políticos.
Em coletiva de imprensa nesta terça-feira (29/09), Luis contou que o humor ácido que a personagem levará aos palcos tem origem em sua própria observação acerca desses assuntos. “Aconteceram coisas horrorosas. Desmando de governo, alta sociedade jogando filho dos outros do prédio, George Floyd, gente que não teve empatia com a questão racial abrindo lives para se aproveitar do momento”, elencou.
“Eu tenho muita vergonha toda vez que vejo as pessoas usando esse lugar. A minha busca foi fazer uma reflexão interna. Cuidei muito de planta, de cachorro, do meu jardim. Foi nesse nesse espaço de tempo que eu observei todas essas mazelas humanas, o desejo de muitos de voltar pro shopping, a relação abusiva de patrão e empregados. Então todas essas coisas foram observadas e vividas com um governo confuso e uma sociedade dividida. Essa foi a minha reflexão e talvez daí venha a acidez de Sheila”, completou o ator.
Recentemente reconhecido pelo Prêmio Shell de Teatro, um dos mais importantes do gênero, Luís diz estar sempre buscando se aperfeiçoar como ator Madame Sheila, é claro, tem contribuído com esse processo, mas não é a única personagem com a marca de Luís, que se afastou da Globo justamente para trilhar os próprios caminhos artísticos.
“O meu transtorno como ator é não ficar no mesmo lugar. É por isso que eu pedi afastamento do Zorra, pedi pra casa rever a composição lá dentro, porque eu não quero ser apenas comediante, eu não quero ser um comediante da piada pronta, do requentado, do lugar comum, que usa excesso de perucas e trejeitos”, afirmou.
Teatro on-line veio pra ficar?
Dirigida pela cineasta, também baiana, Monique Gardenberg, que já esteve à frente de filmes como Ó Pai Ó (2007) e Paraíso Perdido (2019), a versão solo de Madame Sheila surgiu primeiro como filme e foi repensado como espetáculo. A peça entraria em cartaz em 1º de setembro deste ano, mas todos tiveram que parar.
Apesar de ter encontrado no ambiente online uma alternativa para fazer “o show continuar”, Luís não acredita que o formato “tenha vindo pra ficar”.
“Definitivamente não é o que a gente deseja pro teatro, a gente quer as pessoas na plateia, assistindo nossos espetáculos. É uma opção que vai de encontro ao que estamos vivendo e um ato de resistência. Se isso acontecer, terá que ser migrado para outra coisa e não para o teatro. Quando a gente realiza uma peça na capital e transmite pro interior, a a gente tá matando a possibilidade de levar um espetáculo fresco pra lá”, opinou.