A flauta mágica de Néia & Nando: o grupo que encanta as crianças do DF
De espetáculos em teatro a shopping, grupo movimenta 2,5 mil espectadores por final de semana e emprega 34 funcionários
atualizado
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Néia e Nando vivem sob um mundo de sonhos. Enquanto conversamos na sala de ensaio para a entrevista ao Metrópoles, com cafezinho, biscoitos de queijo e bolo de chocolate, milhares de figurinos estão sobre as nossas cabeças. Na 510 Sul, local da sede, o segundo andar inteiro é dedicado a armazenar as roupas dos 120 espetáculos em repertório. Organizados em araras, encontramos ali os trajes das personagens que há 17 anos encantam e divertem pais e filhos em Brasília.
Temos dois galpões só de cenário
Nando Villardo
Olhando tanta roupa, dá para imaginar a força da Néia e Nando Cia. de Teatro. Só no final de semana passado, eles movimentaram um público de 2,5 mil pagantes em espetáculos realizados em três shoppings e três teatros. Neste final de semana, repetem o feito.
Para mostrar a produtividade, Nando abre uma agenda tamanho A3 com a programação de junho. Está tudo lotado, com cinco ou seis atividades a cada dia do fim de semana. A empresa atua em três linhas: a pedagógica (com 234 alunos matriculados neste semestre), a de apresentações em shopping (quase todos) e a de espetáculos em teatro (neste momento, com “Uma Aventura no Mar”, na Escola Parque 308 Sul; “As Aventuras de Miraculous”, no Teatro Caesb, e “Lalallopsy”, no Teatro Brasília). Desde que chegaram a Brasília, os dois bem apaixonados, nadaram de braçada num mercado desértico para o teatro infantil.
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Nando
Zeus e Vênus
Armando Villardo Filho, Nando, e Alcinéa Paz das Neves, Néia, conheceram-se no Rio de Janeiro, no palco, quando faziam a peça “Ato Fálico”, uma comédia grego-erótica. Ele interpretava Zeus. Ela, Vênus. Apaixonaram-se e vieram a Brasília, onde reside a família de Néia, para fazer uma animação gratuita numa festa de parentes dela.
“Chegando aqui, resolvi colocar um anúncio no jornal: ‘Néia & Nando estão chegando no Distrito Federal para fazer da sua festa um momento especial’. Cleucy Estevão leu e contratou a gente. Ainda morávamos e trabalhávamos no Rio. Fizemos e foi um sucesso”, comemora Nando.
O boca a boca e a indicação da anfitriã (e da poderosa decoradora da festa, Almerinda Lopes) foram tão potentes que, um mês depois, não havia um final de semana sequer sem apresentações. Eles se casaram, mudaram-se para o DF e o início foi de batalha. O casal foi morar com a família de Néia, que cozinhava brigadeiros para Nando vender no Minhocão da UnB.
Após as experiências frustradas com uma casa de animação de festas no Lago Sul, a companhia dedicada ao teatro nasceu em 2000. A primeira entrada nos shoppings foi marcada por frisson. Pais e filhos subindo em mesas da Praça de Alimentação. Não havia esse mercado em Brasília. Rapidamente, a criatividade da dupla conquistou os gerentes de marketings.
Orgulho e preconceito
A montagem de “O Mágico de Oz” é um amuleto pra Néia e Nando. Sempre iniciam projetos com essa adaptação. Foi assim no Teatro da Escola Parque da 308 Sul, que ocupam há quase duas décadas. Quando chegaram lá, a sala que teve uma importância histórica para o teatro de Brasília nas primeiras décadas, estava sucateada e infestada de pulgas. Eles reformaram e equiparam o espaço.
Durante esse tempo, o grupo recebeu críticas da classe artística por essa ocupação. Alguns os consideravam como donos do espaço público. “Uma vez, quando essas críticas estavam fortes, a administração resolveu alternar as companhias. Mas, infelizmente, muitas não tinham condições de oferecer a infraestrutura que tínhamos e acabaram desistindo. Então, o teatro voltou para a gente”, observa Nando.
O preconceito também se estende ao repertório, dominado por desenhos da Disney. “A criança quer ver o desenho no teatro. É um mercado. Procuramos fazer isso com qualidade e muita gente crítica sem assistir”, justifica Nando.
Geração de artistas
Néia e Nando têm formado uma geração de atores de destaque na cena. Gabriela Correa (“Eu Vou Tirar Você Deste Lugar – As Canções de Odair José”), Similião Aurélio (“Inominável), Louise Portela (“O Fole Roncou – Uma História do Forró) e Vinicius Ferreira (“Cru”) são alguns deles. Lá, os alunos aprendem o fazer teatral, dos bastidores ao palco. Quando estão em cena, os atores ganham o cachê partilhado da bilheteria.
A trupe é uma família. Alguns funcionários foram alunos de Néia e Nando Cia. de Teatro. Antonio, assessor de imprensa, é um deles. Além de divulgar as ações do grupo, vive o Lobo Mau em “Chapeuzinho Vermelho”
Uma das felicidades do casal está na observação de que alguns dos pequenos espectadores cresceram e tiveram filhos. E essas crianças formam uma segunda geração que assistem às estripulias de Néia e Nando no palco. “É a glória”, comemoram.