Sucesso na web, Ana Apocalypse venceu preconceito com ajuda de novela
Mulher trans de 62 anos, ela fez a transição em 2017 e ganhou fama nas redes sociais. Ao Metrópoles, Ana conta sua história
atualizado
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“Tamanha é a minha alegria de poder me encontrar comigo.” Esta é a definição que a paulista Ana Carolina Apocalypse, de 62 anos, define para sua nova vida. A motorista, agora conhecida como a “deusa inspiradora” das redes sociais, ficou famosa no Twitter – hoje, são 54,5 mil seguidores –após publicar o antes e depois de sua transição de José Francisco para a Ana. Ela contou ao Metrópoles sobre o que precisou enfrentar antes de se assumir como uma mulher transgênero. Mas garantiu: “Nunca fui infeliz”.
Gente tudo muda tão rápido né. !
Veja só que eu tirei essa foto em março de 2016. E olha como estou hoje ! ?? pic.twitter.com/t5BBKq3Se7— Ana Carolina Apocalypse (@josefranciscoap) June 17, 2020
“Eu sempre usei lingerie feminina, a minha vida inteira. Mesmo quando eu dirigia caminhão, eu me portava de Zé e usava calcinha. Era um conforto, eu não me sentia triste. Eu sabia que, se fosse pelo outro lado, não teria como ganhar meu dinheiro. Sempre me senti uma menina no corpo de um menino, eu ficava com meninos e depois saía na rua como um menino”, revela Ana.
“Eu nunca sofri exatamente por não me colocar como menina. Via que não podia ir por aquele caminho e não afrontava. Em vez de infeliz, eu fui sábia”, completa ao falar de sua adolescência.
Ana, que já conquistou o direito ao uso do nome social em seus documentos, revelou que tomou coragem para se assumir como transgênero em 2017, quando a Rede Globo levou ao ar a novela A Força do Querer. Na trama, a atriz Carol Duarte interpretava Ivan, um homem trans que precisava lidar com todos os preconceitos da sociedade.
“Quando a Globo colocou a novela no ar, percebi uma certa aceitação, senti uma melhora na homofobia. Aí pensei: ‘É esse o momento’. Então fui no SUS [Sistema Único de Saúde], comecei um tratamento de hormonoterapia, [tive consultas com] psiquiatra, endocrinologista. Tudo serviu para que eu entendesse: ‘Ana, você é assim, presta atenção’ (risos)”, relatou.
Sobre o sucesso repentino nas redes sociais, Ana não esperava uma repercussão tão rápida. Minutos após postar a foto do antes e depois, ela ganhou 300 seguidores. Atualmente, possui 12,7 mil fãs no Instagram e 54,5 mil no Twitter. Em um ambiente marcado pelo ódio, ela garante receber mais amor. Ana conta que é carinhosamente chamada de “inspiração” e “deusa”. “Sempre tem mensagens de ‘ficou velho e se assumiu ‘viado”, mas, de forma geral, os seguidores me apoiam e me amam muito”, confidenciou, visivelmente emocionada.
“Eu nasci assim [homem em corpo de mulher] em 1958, era outra vida. Mas eu sempre fui muito feliz, eu me realizei, fui casada com uma mulher, tenho uma filha de 30 anos e ela me ama. As pessoas falam: ‘Nossa, você foi uma pessoa infeliz’. Eu fui guardando a Ana dentro de mim. Eu tenho 62 anos por ter me guardado a vida inteira. Eu sou uma transgênera”
Ana Carolina Apocalypse
Procedimentos estéticos
Quem acessa o perfil de Ana nas redes sociais logo dá de cara com suas fotos mostrando os cabelos compridos, a maquiagem sempre bem feita e o sorriso no rosto de quem vive uma vida realizada. Além disso, também se depara com as mudanças no corpo pelas quais a motorista passou – entre elas, o implante de silicone.
Ana, que não considera o momento certo para fazer uma cirurgia de mudança de sexo, anda com suas unhas pintadas de vermelho para onde vai. O motivo? Ela prometeu que só usaria a cor quando colocasse o silicone. Em 2019, a motorista realizou o sonho e realizou o implante das próteses de 350 ml, além de ter feito tratamento com hormônios femininos.
“Eu só pintava a unha de rosinha claro, andava bem discreta. E falei que quando colocasse silicone iria pintar de vermelho. Minha mãe até falava: ‘Não pinta dessa cor, vão te chamar de viado'”, riu Ana.
Fake news
Logo que estourou nas redes sociais, Ana precisou lidar com uma fake news sobre sua história. Uma matéria afirmava que a motorista foi renegada pela família logo após ter se assumido transgênera. Segundo ela, porém, a história é uma “completa mentira”. Seus familiares, incluindo a filha, e amigos sempre a apoiaram
“Minha filha sabia de tudo, via minha lingerie dentro da gaveta e até comentava: ‘Pai, eu não sabia o que você era, se era travesti, se era gay’. Nunca tive problema com a família, até porque eu dou conta do que eu faço”, concluiu.