Silvero Pereira revela identificação e história com obra de Belchior
Ao Metrópoles, Silvero Pereira fala sobre sua aproximação com Belchior e a contemporaineidade da obra do conterrâneo
atualizado
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O ano era 2017. Após trilhar caminho no teatro, Silvero Pereira estrelava seu primeiro trabalho na TV em A Força do Querer, de Gloria Perez. O ator vivia o motorista Nonato, que encarnava a drag Elis Miranda nos momentos de folga. Seis anos depois, já consagrado como ator e diretor, Silvero explora agora o talento na música. De 8 a 10 de dezembro, ele apresenta o show Silvero Interpreta Belchior na Caixa Cultural Brasília. Os ingressos são vendidos no local e no site da Bilheteria Digital.
Em entrevista ao Metrópoles, o artista conta que a relação com Belchior é antiga: seu pai, apaixonado por música, costumava colocar faixas do conterrâneo cearense para tocar, mas os versos ainda eram confusos para o pequeno Silvero. “Não tinha experiência de vida suficiente para compreender a profundidade das questões que envolve suas canções. Nos últimos 10 anos, e mais vivido, resgatei essa memória e a identificação”, diz.
Durante uma pesquisa para um espetáculo de teatro, o ator percebeu ter um setlist coerente com uma série de discussões que desejava levar ao público e revolveu mostrar sua faceta de cantor solo. “Fui criando uma dramaturgia a partir das histórias de dois conterrâneos que saíram do interior do Ceará, estudaram em Fortaleza e seguiram no mundo da arte, Belchior e eu. Assim, as músicas contam essa linha do tempo e histórias que se cruzam”, explica.
Mais que promover o encontro de Silvero com a obra de Belchior, dois artistas cearenses, o projeto estimula a aproximação do público com a cultura nordestina, sua riqueza sonora, poética e seus costumes. O setlist de 18 canções inclui sucessos como Sujeito de Sorte, Como Nossos Pais, Medo de Avião, A Palo Seco, Paralelas, entre outras interpretações únicas de Silvero, que seguem atuais.
“Belchior é um artista temporal, visionário. Ele não escreveu sobre 1976 como diz a sua música A Palo Seco. Em 2013, por exemplo, durante as manifestações políticas, ele viu suas músicas se tornarem temas das manifestações e ficou feliz em saber que elas continuavam atuais como são até hoje, em 2023”, afirma Silvero.
“A gente ainda fala sobre xenofobia de maneira diferente através das redes sociais, com os haters e tal, mas ainda se fala muito sobre esse lugar da xenofobia, da não aceitação do nortista que vem pro Sul e é obrigado a viver na rua, maltratado, castigado… Velha Roupa Colorida fala dessa revolução que esse país ainda precisa na política, na sociedade, nas relações… então sem sombra de dúvida ouvir Belchior em 2023 é ainda falar de um país presente, o que significa que não mudamos tanto e que a gente ainda precisa de muita evolução”, reflete.
Silvero Interpreta Belchior conta também com dramaturgia, troca de figurinos, o desenho de luz e a musicalidade da banda que acompanha Silvero desde 2021: Geremias Rocha (teclado), Brunu Chico (violão e baixo), Wallace Lopes (direção musical e guitarra), Vladya Mendes (bateria) e Vitor Lima (sopros).
Sujeito de sorte
Com uma lista extensa de trabalhos êxitosos como Força do Querer, na TV, e Bacurau, nos cinemas, Silvero também será protagonista de Maníaco do Parque, true crime que é aposta do Prime Video para 2024. Poderia ser a trajetória de um “Sujeito de Sorte”, como canta Belchior, mas o artista prefere atribuir o sucesso à “garra” e “atrevimento” que considera serem marcas de seu trabalho.
“Sou um garoto que atravessou a pobreza, fome e sede do sertão nordestino e que, com muito estudo e determinação, correu atrás de sonhos. Hoje, me considero um artista realizado nas diferentes áreas e com trabalhos que tive muito prazer em fazer e resultados maravilhosos. Eu sou um apaixonado pela arte”, afirma.
A relação com a arte é tanta, que mesmo diante de um novo projeto, Silvero esteve em três filmes em 2023 e se dedicou à música nos momentos de folga. “É muito exaustivo às vezes, mas extremamente gratificante. Tenho prazer em estar em ação, fazendo meu ofício e essas transformações são bem pontuais, ou seja, cada personagem tem um processo de construção corporal que permite diferenciar”.
Silvero Interpreta Belchior
Na CAIXA Cultural Brasília, dia 8/12 às 20h; 9/12 às 17h (sessão com libras) e 20h (sessão com bate-papo); e dia 10/12 (domingo) às 19h (com bate papo). Endereço: Lotes 3/4, SBS Q.4 – Asa Sul, Brasília (DF), 70092-900. Ingressos: R$30 (inteira) e R$15 (meia). Classificação indicativa: Livre para todos os públicos. Informações: (61) 3206-9448
