Sertãopunk: o Nordeste sob uma ótica futurista e tecnológica
Movimento batizado como sertãopunk mistura gêneros para apresentar um Nordeste futurista, sob a perspectiva de artistas da região
atualizado
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Admirável Mundo Novo, 1984, Uma Odisseia no Espaço e outras tantas obras de sucesso integram o rol de ficções científicas mais famosas do mundo. E quando o assunto é ficção, não há como não se derramar em reflexões sobre o futuro, o avanço tecnológico e até em achar referências do momento atual em obras escritas há mais de 20 anos.
No Brasil, um movimento também busca apresentar o Nordeste “do futuro”: o sertãopunk se populariza vagarosamente no país e traz um movimento de ficção futurista que imagina a região como um polo de avanço cultural, tecnológico e político.
“O sertãopunk utiliza como referências o solarpunk, o afrofuturismo e o realismo mágico. Uma obra que imagine o Nordeste dessa forma usando quaisquer uma dessas referências do movimento, de maneira explícita ou implícita, pode ser considerada sertãopunk”, explica G.G Diniz, cocriadora do movimento.
G.G. Diniz, Alan de Sá e Alec Silva, responsáveis pelo conceito do sertãopunk, buscam apresentar um Nordeste sem padrões ou distante dos esteriótipos. Em A Diplomata, por exemplo, estreia da escritora pela Plutão Livros, Diniz traz Feitosa, uma sobrevivente em um mundo devastado — tendo Fortaleza como cenário — no qual somente os super-ricos puderam sair da Terra, e deixaram para trás todos os outros.
O movimento é formado por três bases. São elas:
- Afrofuturismo: traz a participação das pessoas negras na cultura, polícia e tecnologia da região;
- Solarpunk: traz a questão das energias renováveis, considerando que o Nordeste é um polo para energia solar e eólica;
- Realismo mágico: traz o credo e as crenças, um aspecto muito importante da cultura do Nordeste, que poderia ficar de lado por ser um movimento de ficção futurista.
“Dominação mundial”
Sertãopunk: Histórias de um Nordeste do Amanhã, Morte Matada e Outras Histórias, Raízes do Amanhã, Xuxa Preta, Causos de um Nordeste Atemporal e outros representam o movimento que ainda tenta ganhar o mundo. G.G. Diniz, inclusive, afirma que a intenção é dominar o mercado.
“O mercado literário ainda é muito focado no eixo Rio-São Paulo. O acesso de autores nordestinos a grande editoras não é tão expressivo. Entretanto, eu também acredito que seja porque o movimento ainda está no seu início. Vai demorar um tempo até mais gente comprar a ideia, produzir, as editoras se interessarem”, opina G.G.
“Eu sempre brinco dizendo que meu objetivo é a dominação mundial. Mas, de verdade, eu quero que o movimento seja tão conhecido que alguém olhe para algum livro, algum filme e consiga dizer que é sertãopunk, do mesmo jeito que acontece com o afrofuturismo e o cyberpunk”, finaliza a escritora.
André Caniato, editor-chefe da Plutão Livros, responsável pelo livro A Diplomata, de G.G, opina: “Nunca cogitei não estar aberto ao sertãopunk — nem a nada mais ligado à ficção-científica. Seja um estilo novo ou já estabelecido. Acho que a literatura é plural, e a ficção científica mais ainda. Como responsável por uma editora independente, não quero e nem tenho por que fechar as portas.”