Séries sobre crimes brasileiros viram tendência e geram controvérsia
Caso Evandro, do Globoplay, e a recém-anunciada série sobre Elize Matsunaga dividiram a opinião dos espectadores. Especialistas opinam
atualizado
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Casos de serial killers e crimes violentos são adaptados para os cinemas e para a televisão há bastante tempo. Recorrente em produções norte-americanas, o tema popularizou diversos criminosos como Charles Manson e fez títulos se tornarem verdadeiros sucessos nos últimos anos, como a série Mindhunter, de David Fincher, e o longa sobre o assassino Ted Bundy. A tendência também chegou ao Brasil. Após o sucesso de Bandidos na TV, da Netflix, e algumas tentativas falhas do serviço em adaptar alguns dos casos mais famosos do país, dois crimes que chocaram os brasileiros estarão disponíveis no streaming: o caso da morte do menino Evandro (Globoplay) e o caso de Elize Matsunaga – prevista para 8 de julho.
Termos ligados aos dois crimes atingiram o pico de pesquisa no Google na última semana, de acordo com o Google Trends. Além disso, a série do Globoplay ficou entre os assuntos mais comentados do Twitter neste período. O interesse por crimes é alto e mais antigo do que se imagina, como explica o professor de arte e pesquisador em história do cinema, Cezar Romerito.
“O interesse por consumir produtos que abordam crimes reais é muito mais antigo que a TV e o cinema. A gente encontra isso na mitologia grega e em várias obras da literatura ao longo da história, isso sempre gerou muito interesse. A principal tragédia grega da história, por exemplo, Édipo Rei, gira em torno de uma investigação criminal”, conta o professor.
De acordo com a coordenadora do curso de psicologia da Universidade Católica de Brasília (UCB), Ana Cristina, produções que abordam crimes reais tendem a gerar tanto interesse nas pessoas, principalmente por conta de uma curiosidade e necessidade de entender quais foram as motivações dos criminosos.
“Eu identifico duas possibilidades na necessidade de compreender esse fascínio: em um primeiro momento, entender como uma pessoa com uma vida ‘normal’ de repente faz algo tão absurdo, tão fora da curva. Por outro lado, tem uma tentativa de marcar uma “distância”. Tentar entender o porquê dessa pessoa fazer aquilo e eu não. Uma tentativa de diferenciação”, analisa a especialista.
Controvérsia
Anunciada na última terça-feira (15/6) pela Netflix, em meio a grande repercussão que envolve as buscas por Lázaro Barbosa, que cometeu uma série de crimes no entorno do Distrito Federal, a série Era Uma Vez um Crime vai abordar um fato que chocou o país nos últimos anos: o “Caso Yoki”. Na ocasião, Elize Matsunaga foi presa por assassinar e esquartejar o então marido, Marcos, presidente da empresa Yoki.
O anúncio, assim como o sucesso da série sobre o Caso Evandro pelo Globoplay, levantou um debate entre os internautas nas redes sociais, que acabaram se dividindo entre aqueles que se interessam por esse tipo de conteúdo e outros que acreditam que a exposição destes casos podem contribuir para a “naturalização” da violência e glamurização dos criminosos.
A psicóloga ressalta que, apesar de ser um debate bastante ambíguo, a depender da maneira como são adaptadas nos cinemas e na televisão, as produções sobre crimes reais são importantes para entender os comportamentos humanos e de que maneira é possível agir preventivamente para que casos tão brutais não venham a acontecer.
“Depende muito de como a história é contada, porque não deixa de ser algo que é narrado por diferentes versões. Quando isso se torna um espetáculo, seja no sentido de enaltecer, ou uma leitura única do que aconteceu, é muito arriscado, tanto para quem é alvo da história quanto para quem vive aquilo de forma indireta, como os familiares”, analisa Ana.
É o que complementa Romerito, alertando para as diferenças entre os produtos documentais, como as séries sobre os casos Evandro e Elize, e os ficcionais, como o longa sobre o serial killer Ted Bundy (2019), protagonizado por Zac Efron, disponível na Netflix.
“Todo documentário é também uma narrativa. Por mais que um documentário seja uma história baseada em fatos, ele também tem um diretor, um roteirista que vai trazer os elementos que o cinema tem para poder gerar expectativa e prender atenção. É uma história real contada através do ponto de vista de alguém. Então é muito perigoso as pessoas acreditarem em tudo o que está ali, como se fosse um fato”, explica.
“Já a ficção, por mais que seja baseada em fatos, usa dos elementos do cinema muito mais e tem uma maior liberdade criativa, mas não deixa de estar naquele universo de crimes reais. O grande problema é que quando a gente assiste algo que é ficcional, entendemos que aquilo é ficção e pronto, já com o documentário, muitas pessoas tendem a levar aquilo como verdade absoluta”, finaliza.
O Caso Evandro já está disponível no Globoplay e conta com seis episódios. Já a série documental Elize Matsunaga: Era Uma Vez um Crime chega à Netflix em 8 de julho em quatro capítulos de 50 minutos.
Veja o trailer: