Rita Von Hunty fala sobre militância LGBT: “Luta essencialmente política”
A drag quen participa da 18ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty, em mesa virtual de debates, realizada no dia 19 de janeiro
atualizado
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A drag queen Rita Von Hunty é uma das vozes brasileiras mais atuantes na militância LGBTQIA+. Persona criada pelo ator e professor de língua e literatura inglesa, Guilherme Terreri Pereira, 30 anos, a artista participa, no dia 19 de janeiro, da 18ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty.
Convidada pela Saíra Editorial, Rita Von Hunty acompanha nomes como o multi-instrumentalista André Abujamra e a pedagoga e travesti Letícia Nascimento, entre outros, em debate sobre temas importantes como representatividade, literatura com causa e o livre pensar. “Aceitei com entusiasmo o convite”, diz Rita.
Trajetória
Nascido e criado em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, Guilherme estudou boa parte da vida em colégio católico. “Tive uma infância tranquila, mas em todos os ambientes eu sempre era igualmente amado e inconveniente”, conta. Na mesma época, começou a passar pelo processo de entendimento enquanto LGBTQIA+. “Minha mãe foi central para que fosse menos doloroso”, lembra.
Por volta dos 7 anos, descobriu o gosto por se montar, durante uma encenação de Sonho de Uma Noite de Verão, do grupo de teatro da escola. “Preparei um figurino completamente absurdo para meu personagem Oberon, o rei dos duendes. Ele tinha cetro, capa e toda parafernalha com a qual uma criança viada poderia sonhar na época”, revela. De acordo com o professor, o universo dos signos ditos e entendidos como femininos sempre exerceram maior fascínio sobre ele por oferecer mais opções de expressão, sem que isso fosse atrelado às mulheres propriamente ditas.
Desde a mudança definitiva para São Paulo, em 2012, após a perda da mãe, a convivência com a família se tornou esporádica. “Me lembro sempre de um amigo psicanalista que me disse que o maior ensinamento de Cristo foi o desdém pela família. Os maiores males que conhecemos foram feitos em nome de Deus, da pátria e da família. Prefiro manter-me mais ou menos indiferente aos três”, considera.
Nasce Rita Von Hunty
A personagem Rita Von Hunty nasce em 2013, durante a maior celebração de liberdade e alegria do país, o Carnaval. “Mas ela sempre esteve em processo, e ainda está. Gosto de pensar que o processo de criação de uma persona acompanha o amadurecimento da pessoa que a desempenha”, ressalta.
O artista conta que o nome é uma homenagem à atriz Rita Hayworth e, Hunty, uma gíria da comunidade queer. “É uma palavra usada para referirmo-nos a alguém que amamos odiar ou odiamos amar, tem a ver com o humor da Rita e a minha dificuldade em ser agradável em ambientes hostis”, explica.
A lista de inspirações para a criação da Rita Von Hunty é longa, segundo Guilherme. Nela estão artistas cis e trans; homens, mulheres e pessoas que se engajaram com a arte da destruição do gênero como natural ou produzido pelo sexo. “Filio-me à revelia, ao estardalhaço e ao rompimento com o que não serve, não presta. São estas as minhas referências para drag hoje, do deboche ao enfrentamento, sem perder a consciência de que esta luta, como as demais, é essencialmente política”, acredita.
Sucesso
O reconhecimento nacional veio após participação na primeira temporada no reality brasileiro Academia de Drags (2014), exibido pelo YouTube, com júri formado por nomes como a drag queen Silvetty Montilla, o estilista Alexandre Herchcovitch e o maquiador Eliseu Cabral.
“Eu, que sempre fui partidário de aventuras e desbravamentos, me candidatei para participar. Lá aprendi que sempre devo avisar as pessoas que elas estão pisando no meu pé, aprendi a não baixar a cabeça a quem eu não considero apto a me criticar e aprendi a defender meu ponto de vista sobre o meu fazer artístico”, ressalta Guilherme.
A repercussão inspirou o arte-educador a criar o próprio canal no YouTube, o Tempero Drag, onde soma mais de 684 mil inscritos e conquistou mais de 27,5 milhões de visualizações com seus vídeos. A atração rendeu mais de 520 mil seguidores, apenas em seu perfil no Instagram, e colocou a voz da artista entre as das maiores influenciadoras do campo progressista. Mesmo com o alto número de fãs, Rita rejeita o título de digital influencer. “Sou uma drag queen e um professor que produz conteúdo para a internet. Qualquer coisa além disso é leitura”, conclui a drag.