Rindo de si mesmo, Whindersson entrega o seu melhor em Adulto
Com estilo consagrado no YouTube, comediante arranca risadas em seu especial da Netflix
atualizado
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Whindersson Nunes é um fenômeno da contemporaneidade: do seu quarto, no Piauí, virou uma estrela com números globais. Tem 36 milhões de inscritos em seu canal, com vídeos que ultrapassam facilmente a marca dos milhões de views. A mais nova empreitada do comediante é o especial Adulto, na Netflix – no qual, ao rir de si mesmo, o artista mostra maturidade e arranca gargalhadas da plateia (virtual ou não).
Whindersson usa sua própria história como fonte das piadas. Do passado pobre a rápida ascensão financeira, o jovem de 24 anos fala sobre o choque com o custo de produtos e serviços, o medo de voltar ao passado de restrições e as diferenças sociais e comportamentais entre mundos tão apartados.
É emblemática a passagem sobre o jantar com Neymar, em um hotel londrino. Whindersson faz graça de sua perplexidade diante de valores surreais para itens simples, como uma água. A risada vem, naturalmente, da identificação: poucos mortais achariam razoável pagar US$ 1 mil em um jantar.
Ao longo de uma hora de programa, Whindersson explora episódios parecidos, relembrando sua infância – e a impagável briga com o fortão da escola – e as diferenças entre sua família e a de sua esposa, Luísa Sonza. “A Luísa veio do Sul, a mãe e a avó falam alemão. Daí vocês imaginam a diferença quando chegaram meus amigos no casamento”, brincou o comediante.
Temas atuais
Mas o “rir de si mesmo” proposto pelo humorista é carregado de críticas e reflexões sobre a atualidade. Whindersson não cai na fórmula fácil de se autodepreciar para fazer graça. Não coloca sua condição de nordestino “novo rico” como uma escada: na verdade, ri de quem está no lugar mais alto da estratificação social por conta de seus excessos e pudores.
Até mesmo a masculinidade tóxica – mesmo que não explicitamente ou, quem sabe, intencionalmente – entra na conversa gravada em Fortaleza (CE). “Para o homem, tudo se resume a pau. É um ser bobo para caramba”, comenta o comediante.
Em seguida, Whindersson expõe que meninos não são ensinados a lidar com sexo e sexualidade. “Se você perguntar a uma mulher se ela é gay, ela responderá com naturalidade. Já o homem, veja bem, vai dar um chilique tremendo para falar de algo tão normal”, avalia o humorista.
Entre várias piadas, Whindersson se coloca como uma das grandes estrelas do humor brasileiro (certamente, a mais popular). Em outra linha da acidez do Choque de Cultura, o piauiense mostra uma nova geração cheia de graça no país. E, sem dúvidas, coloca o stand-up nacional em outro patamar.
Avaliação: Ótimo