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Rainha das lives, Teresa Cristina combate a depressão e quebra recordes

Com apresentações diárias no Instagram, ela mais que triplicou o número de seguidores, ganhou o primeiro patrocínio e um fã-clube

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1 de 1 Teresa-Cristina-cantora - Foto: Instagram/Divulgação

Teresa Cristina é a rainha das lives. Quanto a isso, não há dúvidas. Grande parte dos artistas fizeram as suas apresentações on-line, mas ninguém como ela. Foram mais de 120 apresentações desde 26 de março, data da primeira. Naquele dia, nem a sambista nem ninguém sabia que as transmissões ao vivo se tornariam um fenômeno com público cativo.

Alguns números servem para dimensionar o tendência: a cantora tinha 98 mil seguidores no Instagram no dia da live inaugural. Hoje, são 330 mil. No Twitter, as menções a ela, que eram raras antes da pandemia (quando muito chegavam perto de 100), atingiram 7,2 mil em 30 de maio, quando fez a sua primeira live no YouTube – as apresentações diárias acontecem no seu perfil no Instagram.

No começo, entretanto, era apenas uma forma de Teresa lidar com as consequências psicológicas do isolamento social. “Começou com uma preocupação séria: o medo de entrar em um quadro depressivo. As notícias começaram a ficar cada vez mais fortes e aterrorizantes. Minha mãe tem 80 anos e me bateu um grau de ansiedade muito forte. Perdi o sono. Não conseguia dormir”, disse ela ao (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles.

A ideia inicial não era produzir as lives diariamente. Ela começou a cantar nas redes sociais para satisfazer um prazer imediato, mas nenhum repertório das suas apresentações transmitidas ao vivo a agradava 100%. Um dia ela decidiu ouvir Dona Ivone Lara em casa sozinha e ficou até as 6h da manhã estudando as gravações da sambista. “Escutei músicas dela que nunca tinha ouvido, foi uma descoberta”, contou.

“Como todo mundo estava fazendo live, pensei em criar uma fórmula diferente e mostrar as músicas dela aos meus seguidores. No mesmo dia, alguém no Twitter escreveu em um post sobre samba de terreiro como se fosse de Umbanda ou Candomblé. Acabei lendo vários comentários na publicação com outros tipos de informações incorretas sobre o assunto. Decidi fazer uma transmissão ao vivo explicando tudo isso, mas não coube tanto conteúdo em uma hora só”, contou.

Teresa já organizava apresentações virtuais com a mãe em um canal do YouTube — chamado de Jovens Lives de Domingo — e foi repetindo esporadicamente os shows no Instagram. “A pandemia piorou, as declarações do presidente se tornaram ainda mais perigosas e, quando vi, estava produzindo lives todos os dias. Me animei a continuar também porque eu gosto do processo de pesquisar os temas e trocar ideia com muitas pessoas sobre o assunto da transmissão seguinte”, prosseguiu.

Para quem não conhece, as lives de Teresa Cristina são temáticas. Há os assuntos repetidos toda semana — como samba de terreiro e músicas de novela — e outros pontuais, geralmente homenageando um artista brasileiro. Os recordes de público aconteceram nas odes a Marisa Monte (15 mil pessoas) e Chico Buarque (14,5 mil).

O esforço para formar um público on-line lembra o começo da carreira da cantora, com apresentações no bar Semente, no Rio de Janeiro. “Na primeira noite, 20 pessoas apareceram, a lotação da casa permita a entrada de 104. E daquele bar, eu cresci, aumentei o meu público. Tudo aconteceu muito devagar, lento, mas com força. A live também apresentou um pouco desse perfil. Começou com poucos seguidores assistindo e tomou essa proporção”, lembrou

Com o sucesso virtual, vieram ganhos financeiros reais. Teresa Cristina teve o primeiro patrocínio da vida (da cerveja Original) e também um fã-clube inédito, os Cristiners. Mas, a cantora ainda consegue apontar erros no processo de transmissão. “A falta de apoio aos cantores de samba não é de agora”, afirmou.

“Os cantores de samba, em sua maioria – salvo algumas exceções – sempre tiveram cachês mais baixos. A relação com os contratantes acontece na base do ‘tudo tá bom’. Nunca precisou de um som incrível, uma grande produção. A falta de patrocínio nas lives é um reflexo desse preconceito estrutural”, revelou.

As reclamações quanto ao tratamento dos artistas do samba logo chegam na sociedade brasileira como um todo. “A pandemia jogou uma lente de aumento em várias situações. Tivemos de passar por isso para entender que nem toda a população tem acesso a água encanada, luz, tratamento de esgoto. As pessoas vivem em condições precárias. Quando começamos a falar sobre usar o álcool em gel, por exemplo, esqueceram que algumas famílias nem água em casa possuem”, disse.

Quem ainda não assistiu uma live da Teresa Cristina, prepare-se para a redenção. Elas devem continuar enquanto houver a pandemia. “As ideias aparecem também como uma fuga da realidade. Tento apagar o mundo lá fora e mergulho nessas ondas. O repertório não vai acabar porque o cancioneiro popular brasileiro é muito extenso. Eu só preciso ter cultura para falar de tudo isso”.

 

 

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