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Quadrinhos de Philippe Druillet e Mathieu Bablet chegam ao Brasil

Um dos fundadores da revista Metal Hurlant e uma jovem promessa dos quadrinhos têm suas obras publicadas pela primeira vez no país

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Pipoca e Nanquim/Divulgação
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1 de 1 Cena-de-As-Seis-Viagens-de-Lone-Sloane-de-Philippe-Druillet-clássico-dos-quadrinhos-franceses-de-ficção-científicapipoca-e-nanquim - Foto: Pipoca e Nanquim/Divulgação

Dois dos principais quadrinistas franceses de ficção científica estão tendo seus trabalhos publicados pela primeira vez no Brasil: Philippe Druillet, um dos maiores ilustradores europeus do século 20, e Mathieu Bablet, revelação dos quadrinhos do país. Diferentes gerações com linguagens semelhantes.

Druillet, 74 anos, é autor de Lone Sloane, saga publicada entre 1966 e 2012, com suas melhores histórias reunidas em um álbum pela editora Pipoca & Nanquim. A obra narra as aventuras do personagem-título, um viajante do espaço que se depara com divindades além da compreensão humana, semelhantes às criações lovecraftianas. O protagonista se assemelha a Han Solo, e George Lucas nunca escondeu a influência que teve de Lone Sloane, tanto temática quanto graficamente, em Star Wars.

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Cena da HQ Shangri-La, de Mathieu Bablet
Página dupla de Gail, uma das histórias clássicas de Philippe Druillet reunidas em Lone Sloane
Painel de página inteira de Philippe Druillet na HQ Lone Sloane
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Cena da HQ A Bela Morte, de Mathieu Bablet

Sesi-SP/Divulgação
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Cena da HQ Shangri-La, de Mathieu Bablet

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Página dupla de Gail, uma das histórias clássicas de Philippe Druillet reunidas em Lone Sloane

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Painel de página inteira de Philippe Druillet na HQ Lone Sloane

Pipoca e Nanquim/Divulgação

Ao lado de Jean Giraud (apelidado de Moebius), Druillet foi um dos fundadores da revista Métal Hurlant, publicação que ajudou a elevar os quadrinhos ao patamar de arte nos anos 1970 e que já abrigou em suas páginas autores como Alejandro Jodorowsky, Milo Manara, Paolo Serpieri e Guido Crepax. As histórias cósmicas de Druillet e Moebius foram responsáveis pelo conceito visual que se tem de espaço em HQs e no cinema.

Druillet é conhecido pelas inovações gráficas em suas páginas — como os painéis emoldurados e as divisões incomuns entre quadros — e por um estilo absurdamente detalhado de desenho, com traços finos e modelados à exaustão, com ilustrações de torres e ambientes com arquiteturas que chegam à extravagância.

Já Mathieu Bablet tem menos da metade da idade de Druillet, mas admite a influência dos quadrinistas da Métal Hurlant sobre suas obras. A editora Sesi-SP lançou no Brasil recentemente A Bela Morte, seu trabalho de estreia, e Shangri-la, uma HQ espacial.

O pós-apocalíptico A Bela Morte conta acompanha um grupo de sobreviventes que precisa aprender a conviver em uma cidade deserta, enquanto uma história de mistério sobrenatural se desenvolve subjacente à trama principal, recuperando os temas lovecraftianos de Druillet.

Em Shangri-la, Bablet retoma os cenários cósmicos expansivos explorados por Lone Sloane, e não por acaso: “Druillet e Moebius são enormes influências na forma como criam mundos de ficção científica repletos de detalhes para permitir ao leitor literalmente sentir o mundo criado diante de seus olhos”, afirmou ele em entrevista ao Estado.

Esse é um momento ímpar para os leitores brasileiros de quadrinhos, que estão tendo seus primeiros contatos com obras relevantes de criadores europeus. Cinco Por Infinito, saga espacial episódica do espanhol Esteban Maroto nos moldes de Star Trek, e Druuna, distopia futurista com traços eróticos do italiano Paolo Serpieri, são alguns dos álbuns consagrados que chegam pela primeira vez ao Brasil recentemente. O clássico Lone Sloane e as obras do promissor Bablet somam-se às lacunas recém-preenchidas nas prateleiras nacionais.

Leia a entrevista do quadrinista francês Mathieu Bablet ao Estado:

Tanto Shangri-la quanto A Bela Morte abordam a solidão de maneiras diferentes. Como a ideia de estar sozinho em um planeta ressoa em um mundo superpopulado como o nosso?

As duas HQs falam da natureza humana, e com Shangri-la, especialmente como essa nós não somos nada comparados ao espaço ao redor de nosso pequeno planeta azul. Há sempre uma questão de escala entre nós e o mundo ao nosso redor. Acho que a solidão pode ajudar a demonstrar quão ínfimos somos nós, como nossas vidas passam rápido, como deveríamos pensar no todo. Em um mundo superpopulado e conectado, a solidão pode também ser vista como uma maneira de dar uma pausa e refletir sobre nós e o que nos circunda.

Como os temas de ficção científica como os que você usa ajudam a falar de dramas particulares e questões universais?

Acho que a ficção científica é a melhor forma de falar das questões contemporâneas. Ela permite contar uma história e falar dos problemas atuais, pois leva os leitores a lugares que eles não querem de fato estar no futuro próximo. Pode ser um aviso, um manifesto ou como deveríamos reagir para evitar que nosso mundo se torne esse lugar.

Philippe Druillet também está sendo publicado pela primeira vez no Brasil. Seus estilos são visualmente diferentes, mas vocês discutem temas em comum. Ele é uma influência de alguma maneira?

Ótimo palpite! Na verdade, Druillet e Moebius são enormes influências na forma como criam mundos de ficção científica repletos de detalhes para permitir ao leitor literalmente sentir o mundo criado diante de seus olhos. A revista Metal Hurlant, onde ambos trabalharam, é o tipo de ficção que quero fazer, porque o sci-fi dos anos 1970 foi um período muito rico para os quadrinhos, com pessoas inventando visuais malucos e histórias sombrias.

Pode ser uma impressão superficial, mas os quadrinhos sci-fi franceses parecem mais contemplativos do que os de outros países.

Eu concordo que os quadrinhos franceses de ficção científica são mais contemplativos e filosóficos. Acho que isso se deve parcialmente ao nosso mercado editorial. Não há 32 páginas mensais para fazer como nos EUA, ou capítulos de 12 páginas semanais como nos mangás japoneses. Como artistas, somos livres para desenhar quantas páginas quisermos, no ritmo que desejarmos. Acho que há uma certa eficiência nos mercados desses países, o que é bom. Mas sinto que os quadrinhos europeus são mais experimentais em seus estilos artísticos e narrativos.

Você acredita que o sucesso comercial dos super-heróis no cinema pode ter algum impacto, positivo ou negativo, em outros tipos de quadrinhos?

Quanto mais leitores os filmes criarem, melhor para os livros no geral. É claro que o público não é exatamente o mesmo que o meu, mas as pessoas sabem que os personagens que amam vêm de livros ou quadrinhos, então isso pode criar uma conexão e permitir que eles descubram novos quadrinhos, mesmo que mais independentes.

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