Professora e passista da escola Mocidade leva Carnaval à sala de aula
Paula Cristina tenta transformar paixão em cultura para os alunos: “Quero levar o samba como um meio para chegar ao conteúdo”, diz
atualizado
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Rio de Janeiro – Levando o samba da Marquês de Sapucaí às salas de aula, a professora Paula Cristina, de 31 anos, é uma apaixonada por Carnaval desde criança. Nascida e criada na zona oeste do Rio, ela divide o tempo entre os ensaios da Mocidade Independente de Padre Miguel e o trabalho.
Neste sábado (23/4), a agremiação, que faz parte do grupo especial, volta a desfilar depois de dois anos sem a festividade. Para a passista, o momento é marcado por muita ansiedade e um misto de sentimentos.
Paula sempre teve o incentivo do avô para participar da folia, mas esse ano é o terceiro Carnaval sem a presença dele. “Ele torcia para mim, me procurava na televisão, sempre vibrava muito quando me via. Meu avô era folião. Não desfilava, mas gostava muito”, contou ao Metrópoles. “Existe uma memória afetiva, que com certeza vai reacender lá na hora.”
Cultura do samba
Professora de português e assídua das quadras, ela tenta levar a cultura do Carnaval para seus alunos, já que, segundo ela, o samba não é para ser vivido apenas nos poucos dias aos quais ele é reservado e quando chama a atenção do grande público.
“É algo que faz parte da nossa cultura, e fora do Carnaval não tem a importância que deveria ter como uma produção artística, musical e literária da gente. O Brasil é conhecido pelo samba, mas isso não é cultivado. Eu tento falar sobre essa temática nas aulas, levar o samba enredo como um meio para chegar a um conteúdo e mostrar para o aluno uma produção que é nossa”, explica.
Apesar das dificuldades em ultrapassar barreiras por não ser o gosto musical predileto de boa parte dos adolescentes para os quais dá aula, ela afirma que consegue se ver como inspiração para diversos deles.
“No começo, eu tinha medo de deixá-los saber que desfilo, como se aquilo fosse tirar a seriedade do meu trabalho, da minha postura como professora. Mas, com o tempo, fui vendo, principalmente com as meninas negras, uma relação diferente, uma questão sobre se inspirar em outras mulheres negras”, comemora.