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Por que o luto é fonte constante de inspiração para cultura pop?

Tema de produções de sucesso da cultura pop, o luto aparece em várias obras. Especialistas avaliam que a arte ajuda no processo

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A série The Bear é uma das produções de maior sucesso da atualidade, com seis indicações ao Emmy 2024, entre elas a de Melhor Série de Comédia. No programa, o telespectador acompanha a história de um cozinheiro que quer abrir um restaurante premiado. Porém, um mergulho maior na jornada do protagonista Carmy (Jeremy Allen White) mostra que o “chef” está lidando com o luto da morte do irmão, Michael (Jon Bernthal). A atração usa a dor da perda como uma fonte de inspiração. Mas por que isso ocorre com tanta frequência na cultura pop?

A cada temporada, aumenta o número de produções, dos mais variados gêneros e estilos, que abordam o tema. Anatomia de Uma Queda, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original em 2024, conta a história de uma família que lida com as consequências da morte do pai. No mundo da música, são bons exemplos os hits The Scientist e Fix You, da banda Coldplay; ou a faixa See You Again do rapper Wiz Khalifa, feita em homenagem ao ator Paul Walker – que morreu em 2013.

A popularidade do luto como tema na cultura pop pode estar ligado à identificação. Infelizmente, boa parte das pessoas, em algum momento da vida, passará por uma situação de perda. Assim, a arte ajuda a processar a morte, seja na conexão com a história de um personagem que passa por algo similar ou a descoberta de uma forma de superação. Ou, até mesmo, como uma distração.

“O compartilhamento de experiências entre pessoas que passaram pelo luto, como em livros biográficos ou relatos, pode ser útil”, defende a psicóloga Gabriela Casellato, especialista em luto.

“Esses materiais ajudam a entender o que é o luto e podem ser fonte de repertório para alguém enfrentar essa situação. Também podem servir como apoio no processo de adaptação e enfrentamento, permitindo que a pessoa se identifique com experiências descritas e encontre orientações sobre como lidar com o sofrimento”, completa a especialista.

“Ajudar a criança também é ajudar os pais”

A escritora Sophia Nogueira lançou, na última sexta-feira (16/8), o livro infantil O Dia Em Que Eu Entendi O Adeus. “A nossa dificuldade coletiva de lidar com luto na fase adulta está diretamente relacionada a nossa criança que várias vezes não consegue racionalizar as emoções”, comenta.

“O luto para todo mundo traz sentimentos muito conflitantes. Os adultos tentam mais entender os sentimentos do que senti-los”, afirma Sophia.

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É muito recorrente que a arte seja um mediador, já que, muitas vezes, os adultos não sabem como conversar sobre o luto com as crianças, explica a Dr. Gabriela.
Livro infantil aborda o luro
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O livro de Sophia aborda o luto com delicadeza e honestidade, ao mesmo tempo, sem usar elementos de fantasia presentes na literatura infantil

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É muito recorrente que a arte seja um mediador, já que, muitas vezes, os adultos não sabem como conversar sobre o luto com as crianças, explica a Dr. Gabriela.

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Livro infantil aborda o luro

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Boris Zhitkov/ Getty Images

Com o foco em ajudar as crianças a se prepararem melhor para a perda, a obra aborda o luto com delicadeza e honestidade, ao mesmo tempo, sem usar elementos de fantasia presentes na literatura infantil. Apesar de valorizar este formato de narrativa, Sophia sentia falta de representações reais desses temas que são complexos de que as crianças vão viver.

“Elemento de fantasia, como ‘está morando no céu, virou estrelinha ou vive com os anjos’, pode ser interpretado de maneira literal por crianças e causar muita confusão. É preciso um preparo para a criança entender que as pessoas vão estar tristes em um velório ou um enterro”, comenta.

Sophia defende que, muitas vezes, a inteligência de crianças é subestimada por adultos, o que faz com que os pequenos neguem esse sentimento difícil. “Eu acredito que essa negação pode criar adultos muito despreparados para lidar com essas situações”, pontua.

A autora ainda afirma que o luto não se limita apenas à morte de um ente querido e o livro pode ser usado para outras situações, como a perda de um animal de estimação ou a mudança de um colega para outra cidade.

Processo individual

No entanto, não há fórmula exata de como produções culturais podem ajudar no processo de luto. Gabriela explica que o processo de luto é volátil, como uma gangorra, com um embate entre a dor da perda e a vida que continua. Como o processo é bastante individual, a psicóloga não gosta de indicar produções “gerais” e prefere sugerir produtos que têm a ver com o que a pessoa está sentido. “De repente, um paciente está vivendo uma perda traumática e tem um livro com essa experiência, então eu indico. Às vezes, um filme que é muito significativo e que dentro da experiência dele pode fazer sentido, eu oferecer o nome”, completa.

A especialista completa, que muitas vezes, os próprios pacientes citam produções culturais que os impactaram. “Como, por exemplo, eles falam que leram certo livro, ouviram uma história ou uma música, e que isso o tocou e o fez pensar. Isso pode gerar um material lindo durante uma sessão”.

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