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Teatro Nacional está completamente entregue ao lixo e ao entulho

No dia em que foi anunciada a reabertura do principal palco de Brasília, a reportagem teve acesso à Sala Martins Penna, fechada desde 2014

atualizado

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Daniel Ferreira/Metrópoles
Teatro Nacional Claudio Santoro
1 de 1 Teatro Nacional Claudio Santoro - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

O palco pelo qual passaram Fernanda Montenegro, Paulo Autran, Caetano Veloso e outros gigantes da arte brasileira hoje é ocupado por entulho, baratas e escorpiões. Nesta quinta-feira (12/1), dia em que o governo federal anunciou a reabertura do Teatro Nacional Claudio Santoro, o Metrópoles entrou no complexo cultural e constatou o estado deplorável do outrora glamouroso espaço. As fotos mostram, com exclusividade, o descaso total e absoluto.

Não é exagero dizer que insetos e lixo viraram as estrelas do monumento desenhado por Oscar Niemeyer. Fechado há três anos, o teatro acumula cadeiras rasgadas, carpetes soltos, palco quebrado, goteiras, vidros arrebentados e muito entulho.

Ao andar ao redor e dentro do espaço, a sensação era a de caminhar sobre ruínas. Do lado de fora, pichações na fachada, calçadas destruídas, restos de materiais usados para o consumo de drogas, especialmente crack. Uma das portas que dá acesso às salas estava aberta, sem segurança.

O interior do Teatro Nacional refletia, de forma melancólica, o resultado dos últimos três anos de má gestão de um dos cartões-postais da capital federal. Devido à poeira acumulada no carpete e no estofado das poltronas da Sala Martins Penna, o ar está pesado e é difícil até respirar.

 

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O lugar virou ponto de consumo de drogas
Goteiras e infiltrações estão espalhadas por toda a estrutura do prédio
Foyer da Sala Martins Pena: descaso
Até o estacionamento do teatro está em péssimas condições
No palco, móveis antigos e equipamentos estragados
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A fachada desenhada por Athos Bulcão está pichada

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O lugar virou ponto de consumo de drogas

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Goteiras e infiltrações estão espalhadas por toda a estrutura do prédio

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Foyer da Sala Martins Pena: descaso

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Até o estacionamento do teatro está em péssimas condições

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No palco, móveis antigos e equipamentos estragados

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Poltronas e carpetes rasgados

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Sala Martins Pena do Teatro Nacional

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A poeira domina o ar e é difícil respirar

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Detalhe do chão: carpete rasgado

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Irregularidades no piso

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O estrago é grande no espaço

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O tamanho do descaso dá a dimensão do trabalho necessário para reabrir o Teatro Nacional. O Ministério da Cultura (MinC) e o Governo do Distrito Federal (GDF) anunciaram uma parceria para revitalizar o local. A obra será feita em etapas, para que seja possível entregar ao menos parte do complexo em curto prazo.

Segundo estimativa do GDF, deve-se começar a restauração pelo foyer (onde, historicamente, foram abrigadas várias exposições) para, em seguida, cuidar da Sala Martins Penna. O projeto é mais enxuto, diferentemente do original, que previa construção de nove escadas, dois banheiros e a futura sede da Orquestra Sinfônica.

A secretária-adjunta de Cultura, Nanan Catalão, informa que, prioritariamente, serão feitas reformas pontuais. “As mais urgentes são aquelas apontadas pelos bombeiros, que dizem respeito à acessibilidade e às saídas de emergência, além de instalações hidráulicas e elétricas”.

Do luxo ao lixo
O requinte e a estrutura do Teatro Nacional atraíram nomes nacionais e internacionais desde a inauguração, em março de 1979. Produtora cultural experiente de Brasília, Milca Luna trouxe artistas do primeiro escalão do Brasil para o local. Ela conta que, em 2012, o teatro já dava sinais de colapso.

Fizemos uma peça com a Denise Fraga e um escorpião entrou no estojo de maquiagem dela. Tinha goteira e fomos obrigados a comprar baldes para contornar a situação

Milca Luna, produtora cultural

Em 2010, foi a vez de Rodrigo Lombardi e Fulvio Stefanini constatarem a situação de calamidade do espaço. “O camarim estava cheio de baratas”, recorda Milca, ressaltando que se sentia constrangida ao presenciar cenas como essas.

Globo/Tata Barreto
Rodrigo Lombardi foi obrigado a conviver com baratas no camarim

 

A atriz Adriana Nunes, do grupo Melhores do Mundo, lembra com carinho dos tempos áureos do Teatro Nacional. “Era um centro de vivência da cultura. Eu vi peças com nomes grandes, como o Antônio Fagundes. Assisti a shows. Nossos espetáculos foram criados lá.”

Prejuízo cultural e econômico
O vácuo que o fechamento do Teatro Nacional deixa em Brasília não se limita à cultura. Prejudica, também, a economia do DF. “Os espaços utilizados hoje na cidade não têm a devida estrutura. Somos obrigados a alugar o local e os equipamentos. O custo, então, passa para o ingresso e inviabiliza produções maiores”, explica Milca.

Adriana Nunes aponta que, pela falta do espaço, o grupo Melhores do Mundo tem dificuldade de se apresentar na sua cidade. “A gente passa mais tempo em São Paulo do que no Distrito Federal. Isso é surreal”, reclama.

Adriana Nunes, integrante do Melhores do Mundo: sem palco na cidade

 

Sem prazo para a reabertura
Apesar de a proposta anunciada nesta quinta (12) ser um alento para os brasilienses, ainda não há prazo para que o teatro volte a funcionar. Por ora, o Ministério da Cultura apenas deu autorização excepcional para que as obras sejam incluídas na Lei Rouanet. Dessa forma, poderão ser captados recursos, com pessoas jurídicas e físicas, para a reforma.

A ideia é possibilitar que o valor seja maior do que os R$ 39 milhões permitidos pela legislação atualmente. Segundo a Instrução Normativa nº 1, de 2013, o MinC pode autorizar recursos acima desse limite em casos de restauração ou recuperação de bens de valor cultural. A Lei Rouanet permite a pessoas jurídicas e físicas aplicarem parte do Imposto de Renda devido em ações culturais.

A ideia de bancar as obras com recursos captados via Lei Rouanet foi discutida com políticos. Um dos articuladores da “intervenção federal” no teatro, o senador Cristovam Buarque (PPS) destacou a importância do espaço para a economia da capital. “Brasília deixa de receber eventos de grande porte pela falta de locais adequados. Isso mexe com a autoestima da cidade”. Já o ministro da Cultura, Roberto Freire, disse que o fechamento do complexo cultural é “inconcebível”.

*Colaborou Felipe Moraes

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