Parte do teto da sala do Teatro Dulcina de Moraes desaba no Conic
De acordo com movimento cultural, o problema ocorreu por conta de uma obra. Prefeitura do Conic contesta versão
atualizado
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O teto da Sala Conchita de Moraes, espaço adjacente ao complexo Dulcina de Moraes, desabou e danificou o lugar, destinado a apresentações teatrais e outras manifestações culturais. Placas de gesso se desprenderam e teriam despencado após uma obra realizada na laje acima do local, na Praça do Conic.
O acidente, ocorrido na noite de terça-feira (19/6), causou comoção do movimento cultural: nomes como Rênio Quintas e Célia Porto foram ao espaço em protesto contra a realização da obra. Nesta quinta (21), integrantes dos coletivos de preservação do Dulcina seguem cobrando providências em relação aos estragos, que teriam, inclusive, impedido a realização de peças e aulas na Faculdade Dulcina de Moraes.
Raíssa Gregore, presidente da Fundação Brasileira de Teatro – responsável pela administração do Teatro Dulcina de Moraes –, discorda da maneira como a obra foi executada. “Para realizar reparo em espaço público, com possibilidade de reverberação em um patrimônio cultural da cidade, é preciso antes estar munido de laudos técnicos de avaliação do risco”, pondera.
Agente cultural e integrante do movimento Dulcina Vive, Kaka Guimarães afirma que os danos na estrutura afetam toda a agenda da faculdade. “Estamos em final de semestre e várias atividades dos alunos foram canceladas. Nós acabamos de recuperar o teatro e diversos ensaios terão de ser remanejados”, lamenta.
Tombamento
Desde 2007, o Teatro Dulcina de Moraes é considerado patrimônio cultural pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal (Secult). De acordo com o órgão, “o tombamento inclui o teatro e suas dependências destinadas às atividades cênicas [plateia, palco, camarins, foyer, acessos e circulações adjacentes], bem como os acervos fotográficos, textuais e cênicos remanescentes dos espetáculos protagonizados pela atriz que dá nome ao espaço”.
No entanto, o órgão não soube informar se a Sala Conchita de Moraes estaria dentro do escopo do tombamento. Qualquer obra em áreas consideradas patrimônio cultural precisam de autorização da Subsecretaria de Patrimônio Cultural da Secretaria de Cultura do Distrito Federal.
Segundo a assessoria de comunicação da Secult, técnicos da pasta estão realizando vistorias na sala para avaliar se os danos causados estariam ferindo o tombamento. Caso sejam constatadas irregularidades, as penas possíveis estão previstas no artigo 3 do Decreto nº 28.215, de 2007.
A Administração do Distrito Federal, no âmbito de sua competência e nos termos da legislação civil e penal, adotará providências visando a apuração penal e o ressarcimento dos danos causados por atos de vandalismo, destruição, deterioração e mutilação que venham a ser praticados em relação aos Bens Tombados e na Área de Tutela de Teatro Dulcina de Moraes
Artigo 3, do decreto 28.215 de 2007
Acionada pelo movimento cultural, a Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis) embargou a obra.”Após a denúncia de danos na estrutura do Teatro Dulcina, [a intervenção] recebeu ação dos auditores da agência e foi, além de embargada, notificada a apresentar laudo de risco”, reforça a Agefis em nota.
O outro lado
A Prefeitura do Conic, no entanto, nega que as obras realizadas na praça do local tenham qualquer relação com o desabamento do teto da Sala Conchita de Moraes.
Flávia Portela, prefeita do centro comercial, informa que as reformas são necessárias e visam garantir a segurança dos cerca de 30 mil transeuntes que passam, diariamente, pelo Conic. “Enviamos um engenheiro à sala e, caso algum problema seja detectado, nos colocamos a disposição para reparos”, atesta.
“A prefeitura foi orientada a abrir alguns trechos de laje para avaliar a segurança. Nosso espaço está comprometido, precisamos tomar medidas e evitar acidentes maiores, como o ocorrido com o viaduto há alguns meses”, disse, em entrevista ao Metrópoles.
Confira íntegra da nota da Prefeitura do Conic:
“No ano de 2000, a Defesa Civil interditou as garagens dos lotes T2, T3 e T4, situadas no Setor de Diversões Sul em razão da precariedade das estruturas e do alto risco que significava para a segurança do Setor, local por onde transitam diariamente cerca de 30 mil pessoas.
Desde então, a Prefeitura tem mobilizado todos os esforços para a resolução do problema, tendo encaminhado por diversas vezes documentação solicitando previdência à Terracap, então proprietária dos lotes.
Em janeiro de 2018, os mesmos foram licitados e vendidos para a iniciativa privada.
Com o início das obras de reforma e recuperação estrutural dos referidos lotes verificou-se que o estado de conservação das lajes, vigas e pilares é por demais preocupante correndo inclusive o risco de desabamento, conforme laudos apresentados por responsável técnico.
No intuito de preservar a segurança de todos no Setor, a Prefeitura iniciou procedimento de contratação de laudos especializados e avaliação das condições físicas da referida estrutura. Tal procedimento foi comunicado aos interessados.
Assim que os estudos estiverem conclusos a Prefeitura os encaminhará para a Administração Regional de Brasília para as devidas providencias.”