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Mudanças políticas põem em xeque o futuro da arte no Brasil

Polêmicas com o fechamento da “Queermuseu” e a performance nudista no MAM explodiram nas redes sociais e chegaram ao poder público

atualizado

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1 de 1 queermuseu - Foto: Divulgação

Tema até então incomum no dia a dia dos brasileiros, as artes plásticas agora ocupam o centro de debates em redes sociais e mesas de botecos. Após o fechamento da “Queermuseu”, em Porto Alegre (RS), e da presença de crianças na performance nudista do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo (SP), o Congresso Nacional e o Ministério da Cultura (MinC) discutem mudanças na legislação.

No entanto, artistas e especialistas discordam do teor das proposições, que pretendem disciplinar dois aspectos das artes plásticas: a instalação de classificação indicativa para mostrar e exposições e a limitação do financiamento público de projetos que abordem temas LGBTs e religiosos.

O discurso conservador dos políticos foi ao encontro de uma parcela da população interessada na censura da produção artística, ainda que não frequentem o circuito

Ana Avelar, curadora e professora do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB).
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Parlamentares contrários à censura na arte se manifestaram após a visita de Marco Feliciano (PSC) ao Museu Nacional de Brasília para averiguar "denúncias"
A mostra "Não Matarás", do Museu Nacional de Brasília, trazia obras de artistas como José Zaragoza, que denunciavam a ditadura militar no Brasil
A mostra LGBT "Queermuseu" foi fechada no Santander Cultural, em Porto Alegre (RS), após ser acusada de blasfêmia e pedofilia
Uma das obras acusadas de pedofilia na mostra "Queermuseu" foi realizada pela artista da capital Bia Leite
O quadro "Pedofilia", de Alessandra Cunha, foi retirado do Museu de Arte Contemporânea de Campo Grande (MS) pela Polícia Civil após denúncia de deputados estaduais
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MPF vai investigar quem divulgou vídeos expondo as crianças que participaram da exposição no MAM

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Parlamentares contrários à censura na arte se manifestaram após a visita de Marco Feliciano (PSC) ao Museu Nacional de Brasília para averiguar "denúncias"

Daniel Ferreira/Metrópoles
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A mostra "Não Matarás", do Museu Nacional de Brasília, trazia obras de artistas como José Zaragoza, que denunciavam a ditadura militar no Brasil

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A mostra LGBT "Queermuseu" foi fechada no Santander Cultural, em Porto Alegre (RS), após ser acusada de blasfêmia e pedofilia

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Uma das obras acusadas de pedofilia na mostra "Queermuseu" foi realizada pela artista da capital Bia Leite

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O quadro "Pedofilia", de Alessandra Cunha, foi retirado do Museu de Arte Contemporânea de Campo Grande (MS) pela Polícia Civil após denúncia de deputados estaduais

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Moralidade ou oportunismo?
A discussão ganhou força com o projeto de lei 8615/2017 proposto pelo deputado pastor Marco Feliciano (PSC-SP) na Câmara. O texto apresentado no início de setembro – em regime de “urgência”, o que lhe dá prioridade sobre outras propostas – proíbe a “profanação de símbolos sagrados” em qualquer manifestação artística.

Nas redes sociais, Feliciano teceu críticas a artistas, entre eles o ceilandense Antonio Obá. Nela, o artista rala uma imagem da Nossa Senhora Aparecida até que a estrutura de gesso (totalmente branca), apareça – fazendo uma denúncia contra o racismo na religião.

Para Ana Avelar, a atuação do político é mero oportunismo. “Ele está aproveitando o momento de discussão para aparecer e iniciar uma cruzada religiosa no Congresso”. Nos comentários da postagem, muitos internautas lembram que os evangélicos não creem em imagens e que muitos adeptos à religião se portam da mesma maneira sem nunca terem sidos criticados pelo deputado.

Nesta quinta-feira (5/10), foi a vez do senador Magno Malta (PR-ES) abordar o assunto. Presidente da CPI dos Maus-tratos, ele pediu para que a população denuncie exposições de artes consideradas imorais. “Então conclamo que os conselhos tutelares cumpram seu papel de ir ao local e chamo atenção ao cidadão para denunciar, por telefone, ir ao Ministério Público e à delegacia”, argumenta.

Ministério da Cultura
O poder executivo também se mobilizou. O ministro da Cultura Sérgio Sá Leitão se posicionou contra a presença de crianças em mostras que envolvam nudez e sugeriu que se tornasse obrigatória a classificação indicativa em exposições de arte – ainda que o MAM já tivesse um aviso prévio sobre o teor do conteúdo da exposição em seu prédio.

Além disso, a Frente Parlamentar Cristã propôs que a nova Instrução Normativa que regulamenta a Lei Rouanet inclua um artigo afirmando a proibição de projetos que “vilipendiem a fé religiosa, promovam a sexualização precoce de crianças e adolescentes ou façam apologia a crimes ou atividades criminosas”.

Para o curador-adjunto na Fundação Bienal do Mercosul, Marcio Tavares, “o ministro da cultura deveria proteger a comunidade artística e não fazer atos e declarações que contribuam para a ofensiva contra a arte e os artistas brasileiros”.

Há uma perseguição por grupos fundamentalistas da Lei Rouanet que é o mecanismo que resta para o incentivo à produção de arte. Está em curso um projeto que visa inviabilizar a atividade artística no país em nome de um pensamento único

Marcio Tavares

Em nota, o Ministério afirmou que a minuta ainda está em fase de elaboração no MinC e que esse trecho ainda não foi incluído no novo documento. Porém, o órgão também confirmou que o trecho em questão “reproduz formulações de leis atualmente em vigor no Brasil, que inclusive se sobrepõem a qualquer instrução normativa”.

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