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Descaso. GDF admite sucateamento dos espaços culturais

Em coletiva, Guilherme Reis, secretário de Cultura, disse que existe uma “cadeia de abandono histórico”

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1 de 1 Rafaela Felicciano/Metrópoles - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Com o trágico incêndio que queimou 90% do acervo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, os olhos se voltaram aos cuidados do Governo do Distrito Federal em relação à memória da cidade. Guilherme Reis, secretário de Cultura, admitiu em coletiva nesta segunda (3/9) que os equipamentos culturais da capital enfrentam sucateamento há vários anos e seguem exigindo mais atenção das autoridades. Segundo ele, o problema vem de uma “cadeia de abandono histórico”.

Ao longo da conversa com os jornalistas, Reis não escondeu que os espaços de preservação da memória de Brasília merecem investimento e manutenção. Mas creditou essa situação ao modelo de gestão do país no que se refere à cultura. “Isso não é problema político, é da vida pública”, analisou.

Apesar de Brasília abrigar mais de 60 museus e instituições similares, o Governo do Distrito Federal (GDF) é responsável por apenas seis espaços: Museu Honestino Guimarães, Memorial dos Povos Indígenas, Museu de Arte de Brasília, Praça dos Três Poderes, Catetinho e Museu Vivo da Memória Candanga.

Ele informou que, na atual gestão, foram investidos R$ 33,757 milhões em adequação de espaços, reformas e parcerias de gestão. Esse montante foi destinado a 20 equipamentos culturais, incluindo na lista a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro e a Rádio Cultura.

De acordo com Gustavo Pacheco, subsecretário de Patrimônio Cultural, o patrimônio de madeira é o que mais necessita de vistoria e reparo: Museu Vivo da Memória Candanga, Catetinho e Conjunto Fazendinha, na Vila Planalto.

De portas fechadas desde 2007, o Museu de Arte de Brasília só deve reabrir no primeiro semestre de 2019.

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Museu Nacional Honestino Guimarães: Wagner Barja, diretor do espaço, fez críticas ao estado do carpete

 

O Museu Nacional Honestino Guimarães, localizado no Conjunto Cultural da República, dispõe de sistema de climatização e segurança atualizados. No entanto, Wagner Barja, diretor do espaço, criticou o estado do carpete, que está bastante gasto. “Temos que lidar com esse tipo de anacronismo”, lamentou.

“O Brasil precisa pensar como nação. Como faremos nossas escolhas. Com problemas tão sérios quanto de saúde e segurança, por que investir em museus, ciência, tecnologia e patrimônio cultural? Enquanto não virmos essas áreas como conectadas, não vamos evoluir como nação”, disse Pacheco.

Inventários dos arquivos do Catetinho, Museu Vivo e da Catedral foram entregues na semana passada ao GDF. O próximo passo é repassar os acervos da Praça dos Três Poderes e do Memorial dos Povos Indígenas.

O secretário de Cultura anunciou ainda a criação de um Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural (Condepac). Integrantes da sociedade civil estão sendo convidados para participar do grupo de discussão.

Situação dos espaços
O Arquivo Público do Distrito Federal passa por momento delicado. No fim de 2017, um problema no ar-condicionado da nova sede fez com que um pó branco se espalhasse entre documentos e objetos. Segundo uma fonte que conhece o acervo e não quis se identificar, o espaço foi limpo com “Lysoform [um desinfetante], sem contratação de museólogos e arquivistas treinados para o trabalho”.

“Teve uma operação de abafa, limparam tudo com Lysoform, moveram as coisas para uma sala limpa e os servidores foram obrigados a se calar”, relatou. Entre 60% e 80% do arquivo foi digitalizado na gestão anterior, mas faltou a transferência de filmes e fotografias, além de conteúdo disponibilizado pelas secretarias de governo do Distrito Federal.

Em nota, o Arquivo Público afirmou que o acervo está guardado em “salas climatizadas, com controle de umidade e temperatura”. “Houve a aquisição de novos equipamentos de ar-condicionado, reforma da estrutura elétrica, revisão dos desumidificadores, desinfecção dos ambientes (chão, paredes e tetos) e dos mobiliários de guarda de documentos”, diz o comunicado.

“O acesso aos itens documentais era público antes de janeiro de 2018 e permaneceu da mesma forma. Entretanto, é importante esclarecer que o contato com o material presente na nossa instituição é dado mediante a disponibilização da versão digital do documento, uma vez que, para a preservação e conservação são adotadas todas as medidas de segurança, inclusive evitar o manuseio dos originais”, continua.

O Espaço Oscar Niemeyer, na Praça dos Três Poderes, almeja renovar cessão de uso junto ao Governo do Distrito Federal. O contrato está vencido há anos. Na proposta da Fundação Oscar Niemeyer, a ideia é manter uma exposição permanente dedicada ao arquiteto.

“A Fundação, sendo detentora dos direitos autorais e de imagem do arquiteto e sua obra, tem total interesse em gerenciar o espaço, principalmente o conteúdo da exposição. Os documentos arquitetônicos que no passado encontravam-se no Espaço Oscar Niemeyer em Brasília foram recolhidos para o Centro de Documentação no Rio de Janeiro, onde a Fundação faz a guarda do acervo de Oscar Niemeyer”, explicou a instituição, em nota.

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