Festivais de música aquecem mercado cultural em Brasília após crise
Após dois anos de isolamento, a capital federal vira rota de grandes eventos de músicas, para todos os gostos e bolsos
atualizado
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Após mais de dois anos de shows adiados e público isolado, a cena cultural de Brasília voltou a ferver. Além de retomar a programação tradicional, com festas no Setor Comercial Sul, shows no Centro de Convenções Ulysses Guimarães e exposições, a capital recebe em 2022 uma série de festivais e grandes eventos, para todos os gostos e bolsos.
O movimento aquece a economia criativa, que perdeu mais de 900 mil postos de trabalho só na primeira onda da pandemia de Covid-19, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado em janeiro deste ano. No final de 2019, o setor tinha 5,5 milhões de pessoas empregadas – 600 mil a mais do que no início de 2018. No terceiro trimestre de 2020, esse número havia se reduzido para 4,6 milhões.
O estudo aponta que a retomada começou ainda em 2021, quando o setor recuperou 300 mil postos de trabalho e fechou o segundo trimestre com 5 milhões de empregados.
A organização do Na Praia, que dará start em suas atividades no próximo sábado (2/7) e se estenderá até 11 de setembro, confirma o otimismo com o qual o setor encara o momento. Este ano, o evento espera receber 300 mil pessoas ao longo dos dois meses de festival e gerar 30 mil empregos. Os idealizadores ainda planejam arrecadar 300 toneladas de alimentos, doados pelo público dos shows, que também inclui turistas.
“Sempre tivemos como missão posicionar Brasília como um pólo de diversão para o país. Cada vez mais, sentimos que o brasiliense abraçou essa ideia. Juntos, estamos mudando a percepção do restante do país sobre a nossa cidade e isso se reflete, por exemplo, no número crescente de turistas que recebemos a cada edição dos nossos eventos e festivais”, avaliou Thiago Reis, Diretor de Comunicação do Grupo R2, responsável pelo evento.
Thiago Reis, produtor cultural
Na opinião do produtor, a tendência é que a cidade ocupe um lugar de destaque cada vez maior no calendário de grandes eventos brasileiros. “É um caminho sem volta. Cada vez mais iremos nos divertir em eventos com projeção nacional acontecendo na nossa cidade”.
O DJ Rodrigo Barata, que representa o coletivo Criolina, também destaca o impacto dos festivais para os artistas locais, em sua maioria empresários autônomos. No início do mês, o Festival Criolina voltou a ocupar o Setor Comercial Sul, após cinco anos sem novas edições. Em uma versão pocket, o evento mesclou artistas nacionais e brasilienses, como Francisco El Hombre, Rachel Reis, Siba, Ops e Júlia Carvalho, Saci Wèrè, Pati Egito, Umiranda e Odara Kadiegi, e já pensa em uma edição maior.
“Foi incrível colocar o bloco na rua e ver o Setor Comercial ocupado, com os artistas e o público em uma catarse coletiva! As pessoas felizes com os reencontros, os trabalhadores do segmento em plena atividade. Já temos a próxima edição do festival captada. Ela terá o dobro do tamanho. Mais artistas, mais público e mais espaço”, comemorou Barata, que está buscando parceiros do setor privado para a próxima festa.
Rodrigo Barata, DJ e produtor cultural
Importância de incentivos públicos e privados
O Metrópoles apurou que até o final do ano, pelo menos dez festivais devem ocorrer na capital federal — entre eles o Festival Coma, o Festival Ibero-americano de Artes Integradas de Brasília e o Favela Sounds. Esse último, marcado para ocorrer de 25 a 30 de julho no Museu Nacional da República (Eixo Monumental), terá entrada franca e de acordo com o produtor Guilherme Tavares, apresentará sua maior edição, desde a primeira, em 2016.
Isso porque, para além dos shows, o Favela tem um papel social consolidado e, ao longo dos anos, se tornou uma uma plataforma de conteúdos sobre cultura e criatividade periférica. “É festival anual, mas também trabalhamos projetos de formação, empreendedorismo, audiovisual e produção de conteúdos para o digital”, explica Guilherme.
Segundo o agitador cultural, o destaque desse ano é a criação do Favela Talks, primeiro ambiente de mercado da criatividade periférica que promove o encontro de grandes players da música e de outras linguagens criativas com jovens criativas e negócios gestados em periferias do DF, como oficinas, talks, sessões de mentoria com bancas de ideias, rodadas de negócio e showcases inéditos que evidenciam a cultura de favela do Distrito Federal.
Ele ressalta que essa iniciativa só foi possível graças aos incentivos públicos recebidos e destaca a importância do investimento em cultura. “O Favela Sounds gera cerca de 200 empregos diretos e 800 indiretos. Mesmo gratuito, conta com incentivos que permitem fomentar a cadeia produtiva local, mobilizando não só artistas e produtores culturais para os shows, mas uma série de fornecedores e prestadores de serviço que se beneficiam da existência do festival”, diz.
Guilherme menciona que, em 2021, o Fundo de Apoio à Cultura investiu em dois mercados de ampla empregabilidade na cultura, buscando projetos do audiovisual e o de festivais. “Acredito que em função destes gerarem grande número de contratações. O efeito desta escolha de olhar para as duas cadeias produtivas já pode ser visto em 2022, tamanha é a quantidade de novos projetos surgindo”.
Para além de aquecer o mercado, gerar mais empregos e impulsionar a cultura local, o produtor cita a ocupação dos espaços públicos como outro um efeito positivo dos festivais.
“Brasília é um parque a céu aberto e eu sempre defendi que a grande vocação da cidade são os festivais na rua. É onde a gente se sente mais candango. No ano passado, muitos festivais se juntaram para montar uma agenda em que o período da seca fosse aproveitado a cada final de semana, tentando ao máximo evitar choques de datas, como uma temporada de verão na Europa, com festival rolando para tudo que é lado. O que falta agora é abrir diálogos transversais: Turismo e Cultura precisam andar juntos para que a visibilidade dos festivais daqui sejam uma realidade para fora da bolha da música”.
Guilherme Tavares, idealizador do Favela Sounds
Para fins de comparação, Guilherme cita o exemplo de Edimburgo, na Escócia, capital dos festivais na Europa. “Tem orçamento garantido para fomentar 12 grandes festivais, um a cada mês, por estes representarem grande impacto à economia da cidade”, completa.
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