Festas clandestinas no DF geram aglomerações e ignoram combate à Covid-19
Fiscalização e multa não têm sido suficientes para coibir eventos ilegais. Replay da Raica, no final de semana, cobrou R$ 120 por pessoa
atualizado
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As festas clandestinas viraram rotina no Distrito Federal. Apesar do número crescente de casos de Covid-19 na capital e do endurecimento das restrições a bares e restaurantes, elas seguem sendo organizadas nas redes sociais, gerando grandes aglomerações aos finais de semana. A situação tem despertado apreensão e revolta entre defensores do isolamento e produtores locais, que se submetem a regras de horário de fechamento e limitação de público.
“Nesse momento, esse tipo de evento não ajuda em nada. Além de representar riscos para a saúde, acaba atrasando qualquer encaminhamento positivo para o setor de entretenimento, para um retomada segura e positiva. Pelo contrário, desperta a antipatia das pessoas com todo o setor”, opinou um empresário local, que preferiu não se identificar.
O receio em criticar abertamente tem motivo. Parte do staff das festas clandestinas é formado por djs, fotógrafos e outros profissionais conhecidos no circuito que, sem trabalhar há nove meses, recorreram à ilegalidade para pagar as contas. É o caso do fotógrafo Allix Gabriel, responsável pelo registro da festa Replay da Raica, realizada no último final de semana.
“Eu trabalhava fotografando as festas da Vic [Victoria Haus]. Depois do início da pandemia, eu fiquei sem ajuda nenhuma. O governo ajudou com R$ 600, mas meu aluguel era R$ 550. Fiz vaquinha, distribuí currículos, mas não deu em muita coisa. Quando surgiram as clandestinas, não pensei duas vezes”, explica. “Agora já consigo pagar as contas, o aluguel, me alimentar, até viajei recentemente. O que não dá é para manter o estilo de vida antes, em que eu viajava todo mês e podia gastar em restaurantes e bares”, completa.
Em seu Instagram, o fotógrafo se denomina “terror da OMS”, em referência à Organização Mundial da Saúde. É uma forma de ironizar as críticas que recebe. “Tem gente que deseja a minha morte, pergunta se eu não tenho medo de pegar Covid. Respondo que tenho medo de passar fome”, diz o jovem. “O culto aconteceu, o parque está aberto, o governador fez um churrasco na casa dele. Só se pega Covid-19 em festa?”, ironiza.
O Replay da Raica, realizado entre as 22h de sábado (12/12) e as 02h de madrugada de segunda-feira (14/12), foi organizado privativamente nas redes sociais. Para participar, os interessados deveriam entrar em contato pelo perfil da festa nas redes sociais e pagar o ingresso de R$ 120. Só então era possível receber a localização horas antes do início do evento.
Procurada pelo Metrópoles, a promoter Raica Souza, que assina a festa, se negou a falar, zombou da reportagem e alegou estar “indo para Dubai”. Apesar disso, uma nova festa já está sendo divulgada em suas redes, batizada de Pool da Raica.
O que diz o DF Legal
Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Proteção da Ordem Urbanística do Distrito Federal (DF Legal) reforçou “que festas com cobrança de entrada ou com caráter econômico estão proibidas pelos decretos vigentes de combate à Covid-19. As penas vão de interdição do espaço a multas que podem variar entre R$ 3.628,00 – por descumprimento de normas sanitárias, como aglomeração, falta de álcool gel, distanciamento social, aferição de temperatura e autorização para pessoas dançarem – a R$ 4 mil, pela não cobrança do uso de máscaras por funcionários e participantes”.
A pasta informa, ainda, que não pode multar preventivamente, nem tomar providências depois que as festas ocorreram. “O DF Legal não pode multar preventivamente, mas monitora os anúncios. Quando toma conhecimento, vai aos locais e cumpre o que determinam os regramentos impostos pelo GDF. Por lei, também não é possível multar baseado apenas em imagens. Entretanto, sabendo da irregularidade, a pasta envia equipes ao local e passa a monitorar. Reincidindo, o infrator pode acabar multado, entre outras sanções”, conclui a nota.