Espaços culturais do DF fechados há anos deixam comunidade órfã
Quatro dos principais ambientes artísticos da capital se encontram em reformas que passam por atrasos recorrentes
atualizado
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Em 2014, quando fazia campanha para assumir o Palácio do Buriti, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) afirmou que a cultura na capital estava “abandonada” e prometia melhorar a situação da “sucateada e deficiente” Secretaria de Cultura do DF.
Três anos após o início da gestão, no entanto, o panorama ainda é parecido, principalmente no que diz respeito a três dos principais espaços culturais públicos de Brasília: o Centro de Dança do DF, o Espaço Cultural Renato Russo e o Museu de Arte de Brasília (MAB). Fechados há anos e passando por reformas com atrasos recorrentes, os locais estão completamente inutilizados, deixando órfãos a comunidade artística e o público da capital.
O recordista em tempo fechado é o Museu de Arte, que não recebe visitantes há 10 anos. Fundado pelo GDF em 1985, o espaço de 4,8 mil m² abrigava obras de arte moderna e contemporânea, produzidas entre 1950 e 2001.
Apesar de constituído como museu em 1985, o prédio do MAB, no Setor Hoteleiro Norte, foi erguido em 1960 e já havia abrigado o Clube das Forças Armadas e o Casarão do Samba. A junção do edifício antigo com a falta de manutenção adequada se mostrou prejudicial e levou ao fechamento do espaço.Em 2007, o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) ajuizou ação civil pública denunciando as péssimas condições de conservação das obras de arte mantidas no local. Segundo o órgão, a situação representava risco para o acervo que estava no prédio. Com a recomendação do MP, o museu foi fechado e, apesar de diversas promessas de reabertura, continua interditado para o público uma década depois.
No início deste ano, o GDF abriu licitação para a reforma. As obras, orçadas em R$ 7.698.574,15, tiveram início em outubro. Segundo o Executivo, a expectativa é de que o Museu de Arte de Brasília fique pronto em novembro de 2018.
Atrasos
Se o ritmo da reforma do MAB seguir o mesmo de outros dois espaços em recuperação pelo GDF, no entanto, o público pode dar como certo o atraso na entrega. O Centro de Dança do DF, por exemplo, já teve três supostas datas de finalização das obras: novembro de 2016, primeiro semestre deste ano e segundo semestre de 2017. Até hoje, porém, ainda não foi reaberto ao público. A última previsão é de que isso ocorra nos próximos dias, em janeiro de 2018.
O espaço foi fechado em 2013 por problemas estruturais. As obras deveriam ter início em 2014, ainda durante o governo Agnelo Queiroz (PT). A promessa, no entanto, não foi cumprida e a reforma só foi retomada em dezembro de 2015, já sob a gestão Rollemberg. Desde então, os prazos têm sido novamente descumpridos.
Segundo a Secretaria de Cultura do DF, a revitalização “sofreu algumas pequenas interrupções ao longo da reforma por dificuldades orçamentárias da Terracap, que financiou a obra”. As melhorias foram orçadas em R$ 3,2 milhões. A pasta assegura, no entanto, que o espaço será devolvido ao público no próximo mês.
Criado em 1993, o Centro de Dança do DF funcionava em um prédio no Setor Cultural Norte, reunindo diversos grupos de dança que atuam na capital. Segundo um dos organizadores do Movimento Brasília Tem Dança, João Carlos Corrêa, a perda do espaço provocou um forte baque na comunidade artística local.
“O Centro de Dança não era só um prédio, era lá que se estabeleciam as políticas públicas para todo o segmento e tinha início o diálogo com a sociedade civil e o poder público. Com o fechamento do espaço, Brasília ficou sem local para desenvolver a atividade e sumiu do cenário nacional. Ficamos órfãos mesmo”, afirma. Ainda de acordo com Corrêa, a promessa de reabertura é positiva mas, após tantos atrasos, “resta ver para crer”.
Renato Russo
Outra obra cultural que já deveria ter sido entregue mas foi adiada por pelo menos três vezes é a do Espaço Cultural Renato Russo (foto em destaque), na 508 Sul. Também fechado em 2013 após representação do MPDFT que apontou problemas graves na estrutura do local, o espaço deveria ser finalizado em março deste ano. O prazo, no entanto, não foi cumprido.
Em seguida novas promessas foram feitas para outubro e, a mais recente, para fevereiro do ano que vem. No entanto, nem essa previsão deve ser respeitada, segundo a Secretaria de Cultura. A pasta afirma que as obras só serão entregues em abril de 2018, e o motivo para os atrasos é o mesmo: problemas financeiros da Terracap, responsável por financiar o empreendimento.
A Secult afirma que, desde o início da reforma, em setembro de 2016, “já foram feitas as demolições no piso térreo e em parte das paredes. As estruturas metálicas da cobertura foram pintadas e salas, vestiários e copa estão na fase de alvenaria. Desde a última semana, telhas novas são instaladas”. As obras foram orçadas em R$ 5,6 milhões.
Uma notícia positiva no último mês foi a reabertura do foyer do Teatro Nacional Cláudio Santoro. No dia 7 de dezembro, o espaço foi reinaugurado após ficar fechado por quatro anos, também por recomendação do Ministério Público. Apesar da reabertura, ainda não há programação cultural no local. A previsão é que, no ano que vem, a sala Martins Pena também seja revitalizada.
Biblioteca Demonstrativa
Fora do âmbito do governo local, também existem obras de revitalização de espaços culturais da capital atrasadas. A Biblioteca Demonstrativa Maria Conceição Salles, sob responsabilidade do Ministério da Cultura (MinC), é outro local fechado há anos e que passa por um processo conturbado de reformas. O espaço, localizado na 506/507 Sul, foi interditado em 2014, também por apresentar problemas estruturais, como infiltrações e risco de desabamento.
Em 2016, o MinC prometeu a reabertura da biblioteca para o fim do ano. O prazo não foi cumprido. Depois, a expectativa era de retorno das atividades até dezembro de 2017, porém, mais uma vez, os usuários terão de esperar para poder usar o espaço novamente.
Segundo o ministério, “será publicada, em janeiro de 2018, uma nova licitação para executar a obra de revitalização e modernização da Biblioteca Demonstrativa Maria da Conceição Moreira Salles”.
De acordo com a pasta, a última licitação, lançada em novembro deste ano, foi suspensa por impugnação de licitante e o edital terá de passar por adequações nas planilhas de custo. A nova previsão é de que a biblioteca seja reaberta em dezembro de 2018, “revitalizada, moderna e acessível”, segundo o MinC. A reforma foi orçada em R$ 2.689.234,64.