Editais oferecem R$ 9 milhões a artistas na pandemia. Veja como participar
Lançados por governos estaduais e iniciativas privadas, os recursos devem garantir a renda de milhares de agentes culturais Brasil afora
atualizado
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A primeira a ser afetada e a última a voltar à normalidade, a indústria do entretenimento passa por grande crise devido à pandemia do coronavírus e às medidas de isolamento social. Para os artistas reconhecidos nacionalmente, o novo mercado das lives tem sido uma alternativa lucrativa. Mas, são os editais emergenciais lançados por governos estaduais e iniciativas privadas que vão garantir a renda familiar de milhares de agentes culturais Brasil afora.
Levantamento do Metrópoles mostra que ao menos quatro editais de fomento públicos estão com inscrições abertas e somam R$ 9.060.000 para financiamento de projetos culturais. No entanto, estados como São Paulo utilizam outras formas de ajudar os trabalhadores do setor, a exemplo da criação de linhas de crédito.
“Atravessamos um momento de crise mundial, inédita para nossa geração. O setor cultural é fortemente atingido porque nossa premissa básica é aglomerar. A partir do momento em que estamos impedidos de promover aglomerações, artistas e técnicos não podem exercer sua profissão e ficam sem sustento. Por isso precisamos de editais de fomento capazes de estimular as pessoas a criarem novos produtos e colocarem sua força de trabalho em atividade”, avalia a produtora cultural Amanda Bittar.
O secretário de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, Bartolomeu Rodrigues, ponderou a importância em resgatar as atividades culturais. “É necessário considerar que além dos artistas, há uma gama de profissionais envolvidos direta e indiretamente, que formam a rede da economia criativa, como os operadores de som, de luz, maquiadores, cenógrafos, pipoqueiros, e até mesmo os motoristas de táxi ou aplicativo, que conduzem o público aos eventos. Portanto, é uma força econômica de peso”, falou ao Metópoles.
Para Tânia Montoro, professora da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em políticas públicas na área da cultura, o setor deve ser entendido como um dos pilares da economia e, por isso, no contexto de crise deve receber auxílio do poder público.
“A cultura é um sistema integrado de capilaridade que gera emprego e movimenta a economia. Sendo uma grande saída para o confinamento. Imagine passar por esse momento sem arte? É papel do Estado amparar os agentes culturais”, afirma a especialista.
Confira os editais
Distrito Federal — R$ 4 milhões
A Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec) lançou, no dia 5 de maio, o FAC Prêmios – Cultura Brasília 60. O edital vai investir R$ 2 milhões em prêmios destinados aos artistas com histórico de contribuição ao desenvolvimento artístico ou cultural do DF e Entorno. Em abril, a pasta havia lançado o FAC Apresentações On-line, também no valor de R$ 2 milhões de recursos para o segmento.
Dividido em 17 categorias, o FAC Prêmios vai selecionar 500 agentes culturais. Cada premiado receberá R$ 4 mil. Podem concorrer artistas de 17 modalidades, entre elas circo, literatura, grafite, teatro, artesanato e música. Para participar, os interessados deverão preencher um formulário e enviar um portfólio. O edital permite a inscrição de projetos de artistas de rua ou sem cadastro ativo junto à Secec. As inscrições estão abertas e vão até o dia 25 de maio com cadastro feito virtualmente.
Rio de Janeiro — R$ 3,7 milhões
No Rio de Janeiro, os artistas podem se inscrever para o edital Cultura Presente nas Redes. O projeto vai premiar 1,5 mil artistas de todo o estado com o valor de R$ 2,5 mil por produção. O valor total é de R$ 3.750 milhões e os recursos são do Fundo Estadual de Cultura. Serão contempladas ações culturais exclusivamente realizadas no âmbito estadual. Para mais informações, acesse o site.
Espírito Santo — R$ 360 mil
No Espírito Santo, a seleção contemplará 300 prêmios de R$ 1.200, divididos entre conteúdo digital e atividades depois do fim da pandemia da Covid-19. Podem participar artistas e técnicos tanto com projetos de apresentações quanto de capacitação na área de cultura. Todos os procedimentos serão simplificados, com o objetivo de dar uma resposta rápida ao setor cultural capixaba.Os recursos são do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura) e farão parte de uma programação executada e divulgada pela Secult. Para mais informações, acesse o site.
Ceará — R$ 1 milhão
O Edital Festival Cultura DendiCasa: Arte de Casa para o Mundo foi lançado pelo secretário da Cultura, Fabiano Piúba, em live no Facebook da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult-CE). Ao todo, serão selecionados até 400 projetos com o valor fixo de R$ 2.500, totalizando investimento de R$ 1 milhão. O projeto emergencial selecionará conteúdos artísticos para compor uma programação especial de difusão em plataformas digitais, redes sociais, canais de comunicação diversos, redes televisivas e radiodifusoras. Para mais informações, acesse o site.
Polêmica
O edital Arte como Respiro: Múltiplos Editais de Emergência, lançado pelo Itaú Cultural, ofereceu valores em dinheiro para profissionais em diversas áreas artísticas. Ao todo, 80 inscritos, de várias partes do Brasil, foram selecionados para receber a quantia de R$ 5 mil.
Contudo, a divulgação da lista de aprovados pelo edital de música, em 8 de maio, gerou polêmica nas redes sociais. Isso porque nomes de pessoas famosas como Luedji Luna, Jards Macalé, Luiz Tatit, Zélia Duncan e Anelis Assumpção estão entre os premiados.
“Não estou desmerecendo de forma alguma o trabalho desses artistas, mas é tecnicamente impossível competir com eles. Com todo o meu respeito, é imoral que participem de editais como esse”, escreveu o músico Caio Chiarini. “Arte como respiro, mas o ar é para poucos”, concluiu a artista Flavia Milioni. Em resposta, o Itaú Cultural argumenta que artistas do calibre de Zélia Duncan e Jards Macalé representam cerca de 10% de todos os selecionados. Demais segmentos do edital, como literatura, seguem com inscrições abertas.