Artistas da cultura pop se engajam para influenciar as eleições dos EUA
Famosos têm usado visibilidade para falar de política e podem ter papel determinante na disputa entre republicanos e democratas
atualizado
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Quando a comunidade K-pop reivindicou para si o esvaziamento do comício do presidente Donald Trump em Oklahoma, em junho, muita gente duvidou. Afinal, a ideia de que fãs de pop coreano tinham se unido para reservar lugares com nomes falsos e sabotar o candidato republicano parecia improvável. Porém, bastaram as primeiras imagens do evento serem divulgadas pelo TikTok para a influência política desse público ser reconhecida.
O K-pop, no entanto, não é o único nicho do entretenimento com força política para isso. Nos últimos anos, diversos artistas têm se posicionado politicamente, estendendo o debate ao seus seguidores. Esses, por sua vez, também passaram a considerar esse aspecto ao escolher seus ídolos. Uma dinâmica que não é novidade, mas que pode ter seu auge nas eleições presidenciais norte-americanas, marcadas para 3 de novembro.
Caso a adesão de artistas à campanha seja mesmo capaz de influenciar o processo eleitoral, o democrata Joe Biden pode se considerar com vantagem. Algumas das divas mais aclamadas da atualidade já sinalizaram apoio à campanha do democrata e estão se movimentando para que os fãs participem do pleito, uma vez que o voto não é obrigatório no país. Entre elas, estão Lady Gaga e Cardi B.
Influência política
Gaga já confrontou o atual presidente dos EUA várias vezes e aproveitou sua noite vitoriosa no VMA, realizado no último fim de semana, para pedir aos fãs que compareçam em massa nas urnas. Ela também fez um protesto sutil ao modo como Trump conduziu a crise de saúde nos Estados Unidos, que lidera o número de mortes por coronavírus, seguido de Brasil e Índia.
Cardi B também resolveu empregar sua influência artística no debate de temas importantes, em uma recente entrevista que ela própria conduziu com o Biden. Sem papas na língua, a rapper discutiu com eloquência sobre violência policial, saúde pública, Covid-19, educação universitária e pediu para que os jovens votem para tirar Trump da Casa Branca.
Já Kanye West, apoiador de Donald Trump, se posicionou como aspirante à presidência dos Estados Unidos e levantou rumores de que sua candidatura, de forma proposital ou não, poderia dividir os votos do democrata Joe Biden nas próximas eleições. Biden, vice-presidente da gestão de Obama, é um nome forte entre a comunidade negra americana, grupo que pode pender para West, beneficiando Trump no resultado final.
Aparentemente, West desistiu de concorrer em 2020, mas a dúvida de tom conspiratório, por si só, mostra como ícones da cultura pop não podem mais ser subestimados no contexto político e eleitoral.
Relevância no Brasil
Na avaliação do doutor em relações internacionais, Lucas Leite, especialista em história e política externa dos Estados Unidos, discursos, apresentações e intervenções artísticas podem, sim, ter força eleitoral. “Sobretudo nessas eleições presidenciais dos EUA em que todo o mundo está muito mais conectado e o comparecimento às urnas será determinante. É um fenômeno que não é novo mas que tem cada vez mais impacto”, pondera.
Segundo o especialista, a tendência é global e também deve ter seu grau de relevância no Brasil de 2022.
“O número de usuários comentando e interagindo ao vivo cresce a cada dia e a facilidade com que se tem acesso a esse tipo de informação transforma as relações cotidianas – mais indivíduos debatem questões políticas porque seus artistas também o fazem. Mesmo que de forma superficial, a ideia de que a fama dessas pessoas se torna catalisadora de determinados posicionamentos ajuda a criar um ambiente minimamente mais crítico ou, pelo menos, permite tirar certos grupos e demandas sociais das sombras e transportá-los ao hype“, conclui.