Após críticas, Secretaria de Cultura cancela edital e assume Festival de Cinema
Decisão ocorre após entidades do setor de cinema do DF assinarem um manifesto apontando supostas irregularidades no certame
atualizado
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A Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec) decidiu cancelar o edital que definiu a Organização da Sociedade Civil (OSC) responsável pela realização do 53º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. A pasta, embora entenda que o processo de escolha correu dentro dos parâmetros de legalidade, optou por realizar diretamente a edição de 2020, prevista para o mês de dezembro.
A decisão ocorre após sete entidades do setor de cinema do Distrito Federal assinarem um manifesto apontando supostas irregularidades no certame que definiu a OSC Eu Ligo como organizadora do evento, considerado Patrimônio Imaterial do DF.
“Diante do clima criado que paira sobre o processo de seleção da OSC, que cumpriu todas as fases previstas, com transparência, inclusive fornecendo as fichas de avaliação da Comissão de Seleção aos concorrentes para montarem suas peças recursais, não é do interesse fazer um Festival de Brasília sem o clima colaborativo com a classe cinematográfica”, disse o secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues.
“Assim, opto pelo cancelamento do edital. A realização desta edição histórica no ano de comemoração dos 60 anos de Brasília ficará por conta da pasta. A tradição será mantida em respeito aos amantes da arte cinematográfica e ao que o festival significa para a história cultural da cidade”, completou.
Ainda de acordo com a Secec, o cancelamento do edital segue o rito de publicação no Diário Oficial do Distrito Federal ainda nesta semana, anulando a homologação do Instituo Eu Ligo como a vencedor do certame.
Manifesto
Entidades representativas de cineastas e produtores audiovisuais alegam que a empresa selecionada para realizar o festival descumpriu 12 requisitos mínimos previstos no edital de seleção, além de não possuir experiência em cinema.
Elas destacaram, em uma carta aberta, a ausência de descrição das atividades da equipe de produção, apresentação de portfólio de trabalho, e menção a plataformas virtuais de acesso ao festival, assim como a valores e condições de gratuidade.
A intenção da Secec de realizar o festival no formato drive-in, mesmo que dezembro seja um mês de chuvas na capital, também foi questionada. De acordo com as entidades, 20% dos valores a serem contratados da pasta, o equivalente a R$ 320mil, devem ser repassados ao local, no qual o coordenador-geral do projeto atua como sócio.
Henrique Rocha Monteiro, produtor audiovisual e membro da Aspec-DF, afirmou que todas essas preocupações foram repassadas à Secec, que, mesmo diante das queixas, preferiu seguir com o certame.
“Depois do resultado preliminar abre-se a fase recursal, quando todas as propostas são reveladas e, nesse momento, as outras empresas, diga-se de passagem todas com experiência em cinema, verificaram as irregularidades no projeto vencedor e entraram com recurso. A secretaria leu e respondeu sem tocar no assunto. Fizeram vista grossa propositalmente”, explica Henrique Rocha Monteiro, produtor audiovisual e membro da Aspec-DF.
“Essa carta já vem nesse intuito de servir como base para uma denúncia no Ministério Público, o que a gente deve começar a movimentar ainda nesta semana”, completa.
Assinam a carta as associações dos Profissionais do Audiovisual Negro, dos Produtores e Realizadores de Filmes de Longa-Metragem e Séries para TV, a associação Cultural Faísca, o coletivo Movielas, além de movimentos como Convergência Audiovisual do DF e da Aspec.
Com uma indicação bastante comemorada pelas entidades em questão, a produtora Sara Rocha e o cineasta e professor Sérgio Moriconi, escalados para realizar a curadoria do festival, também já formalizaram seus desligamentos diante das polêmicas apontadas.
Henrique destaca que esta é a primeira vez que o segmento se vê em um embate desse tipo, envolvendo a organização do festival. “Desligamentos como esse nunca aconteceram antes, são situações que têm um significado muito forte e mostram a gravidade do que está acontecendo”, avalia.