Pacotão desfila com irreverência pelas ruas de Brasília
O bloco tem como marchinha, em 2019, a polêmica canção Lula Livre
atualizado
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Um dos mais tradicionais blocos da capital, o irreverente Pacotão desfila nesta terça-feira (5/3) em Brasília. Como de costume, os foliões da agremiação aproveitaram a festa para fazer críticas sociais. As marchinhas brincavam com as figuras de poder, entre elas o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).
A irreverente vaquinha Zezebel marcou presença no bloco com uma imensa bandeira laranja: como Zé de Abreu se autoproclamou presidente do Brasil e decidiu que é a Rainha da Monarquia da Laranja.
“Escolhi o Pacotão porque é um bloco que está sempre na contramão. É um exemplo também para essa galera nova não baixar a cabeça para o governo”, afirmou a vaquinha louca, mulher do boi da cara preta. Ele também levou uma faixa em protesto ao governo Ibaneis. “Carnaval não é prejuízo, é um sustento para as famílias de ambulantes”, defendeu.
Morador de Brasília desde 1974, o recifense Amâncio do Teclado trocou as ladeiras de Olinda pela W3 do Pacotão há 30 anos – 15 deles vestido de Roberto Carlos. Ele faz parte do grupo de compositores responsáveis pelas marchinhas do bloco: em 2019, compôs “Faca de papelão”, um samba com críticas ao presidente Bolsonaro.
Apesar da polêmica, ele garante: o Pacotão critica qualquer governo, não interessa quem está no Planalto ou no Buriti. “É um bloco muito tranquilo, você vê crianças e idosos brincando na avenida. Aparecem uns bêbados, o pessoal se excede, mas em 30 anos eu nunca vi confusão séria”, afirmou.
Veja as imagens do Pacotão 2019:
Muita chuva
O Pacotão abandonou a concentração, na entrequadra da 302/303 Norte, às 15h30. O público seguiu em direção a W3, onde desfilam pela contramão. Por volta das 16h, os foliões foram surpreendidos por uma forte chuva que abateu a cidade.
Mesmo debaixo de muita água, a festa não parou – ou melhor, não se encerrou. Durante alguns minutos, por conta do temporal, os organizadores precisaram desligar os equipamentos, cobri-los e, só então, retomar o desfile. A pausa, porém, foi aproveitada pelos foliões, que puxaram gritos de protesto contra Bolsonaro.
Sem medo de confusão
Com uma coroa e um sutiã de laranjas, a professora Virgínia Amorim foi vestida de Queiroz: diz que só aparece no Carnaval, amanhã vai sumir. A brasiliense frequenta o Pacotão desde criança e lamenta ter parado de ir à Baratona. “De uns dois anos para cá, ficou violento e eu acabei abandonando”, reclamou.
Para a brasiliense, foliões bolsonaristas vão aparecer no bloco, mas isso não será um problema. “Acho que Carnaval é esse momento irreverente mesmo, é para se expressar, protestar. Vai ser tranquilo. Eu, pelo menos, tenho a maturidade de não dar bola às provocação”, ponderou.
As irmãs Fernanda Zuge, Alice e Lívia Oliveira se encontraram em Brasília no Carnaval: cada uma vive num ponto do país. Para saírem juntas, Lívia resolveu que a fantasia seria padronizada e encomendou tiaras iguais, com os dizeres “girl power”.
“Eu quis fazer algo diferente e gostei da ideia porque nos três somos feministas, é o ponto comum entre nós”, comentou Lívia. Esta é a primeira vez das garotas no Pacotão, e elas se surpreenderam com o tom politizado do bloco. “É bem diferente do que eu esperava”, afirmou Alice.
O brasiliense Leonardo Tribst sai, sempre que possível, no Pacotão: adora a sátira política do bloco. Para este Carnaval, ele decidiu criticar o laranjal do PSL. De paletó, máscara de rato e um saco de laranjas, com notas de dinheiro pulando dos bolsos, ele não esconde a insatisfação com o momento político atual.
“É uma forma de demonstrar nosso desgosto com a situação do país, é rir da desgraça”, comentou o jovem, que levou sua fantasia política também ao Rejunta meu Bulcão, no sábado (2/3).
Concentração
Por volta das 12h30, os foliões começaram a chegar à entrequadra da 302/303 Norte de maneira tímida. De lá, a agremiação sairá pela contramão da W3. Jovens ligados à militância do Partido dos Trabalhadores (PT) estão no local vendendo cerveja.
Às 13h25, o bloco começou a tocar várias marchinhas de tom político. Além da polêmica Lula Livre, vencedora do concurso de 2019, o trio reproduz canções criticando Bolsonaro, BolsoMoro, Queiroz e até mesmo “Inganez”. Os versos questionam as primeiras decisões dos governos distrital e federal.
“O passe livre tá querendo bloquear, até parece que estudante é marajá”, diz um dos versos. A letra crítica a proposta do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), de alterar a política de gratuidade no transporte público da capital.
Neste ano, o Pacotão saiu apenas um dia – a organização cancelou o desfile previsto para esse domingo (3), alegando falta de recursos. Outra polêmica foi a escolha da marchinha Lula Livre: enquanto alguns foliões apoiaram a opção, outros acharam a música muito chapa-branca.