Nyedja Gennari: professora se reinventa e conta histórias para adultos
Cuiabana radicada em Brasília, a professora realiza performances para pessoas de todas as idades
atualizado
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Contar histórias é uma arte milenar presente em todas as culturas. Surgiu antes da escrita e, por muito tempo, foi a única maneira de preservar, por gerações, as crenças e tradições de um povo. Milhares de anos se passaram, mas o mundo de fantasias criado por quem narra contos, causos e aventuras ainda encanta pessoas de todas as idades. Prova disso é a cuiabana radicada em Brasília desde 1987, Nyedja Cristina Gennari Lima Rodrigues, 43 anos, que há sete trocou o magistério para se dedicar integralmente à contação.
O que começou como apresentações apenas voltadas ao público infantil, cresceu e hoje Nyedja faz sucesso com performances para adultos, em shows realizados em casamentos, eventos corporativos e políticos e, em maio deste ano, lhe rendeu o título de cidadã honorária de Brasília — atualmente realiza também espetáculos durante sessões solenes no Senado Federal.
Formada em ciências da educação e especializada em literatura, a artista lecionou durante 23 anos no ensino fundamental. Nas salas de aula, já utilizava o método lúdico para despertar nos alunos a paixão pelos livros. “Contar histórias sempre foi o meu melhor recurso pedagógico”, afirma.
Em 1997, com a vocação falando mais alto, Nyedja ensaiou a mudança. Preparou um projeto de histórias para o ensino especial, muito elogiado na teoria, mas fracassado na prática. “Eu fiz uma roupa de palhaço linda, coloquei vários balões e eu ia estourando eles durante a cena. Em determinado momento, uma das crianças teve a ideia de me bater, e todas a acompanharam. Foi uma situação engraçada, mas triste”, lembra.
Em vez de recuar do sonho, a professora decidiu estudar. Nyedja aproveitou as aulas curriculares para aprimorar o talento, e, no início dos anos 2000, partiu rumo aos primeiros espetáculos em locais como o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e shoppings do Distrito Federal. Somente em maio de 2012, Nyedja tomou coragem para largar o ofício professoral.
Histórias de gente grande
Um dos diferenciais de Nyedja é a facilidade construir histórias personalizadas. São vários os casais que deixaram a cargo da contadora refazer, oralmente, os encontros românticos nas festas pós-cerimônias de casamento. “Uma vez a sogra do noivo perguntou se eu era amante dele, por não acreditar que eu pudesse saber tantos detalhes da relação dos dois”, disse a artista que conversa com familiares, amigos e os próprios namorados para pode descrever melhor as trajetórias.
Com o trabalho a cada dia mais popular, a cuiabana passou a ser convidada para participar de eventos corporativos — inclusive fora do país, em lugares como Colômbia, Argentina, Costa Rica e Guatemala —, onde narra a trajetória da empresa aos funcionários. “Eu descobri o tempo do prazer. Essas participações precisam levar, no máximo, 15 minutos, senão as pessoas perdem o interesse e dispersam”, sinaliza.
Além de recontar histórias de anônimos, a artista recria e adaptada narrativas clássicas, apresentando-as com figurino e cenografia criados e confeccionados por ela especialmente para cada a ocasião. “Eu pesquiso muito, estudo o tipo de linguagem a ser utilizado de acordo com cada tipo de público. A plateia mais difícil é sempre a infantil. Os pequenos são muito transparentes e demonstram na hora se estão gostando ou não”, ressalta.
Atualmente, Nyedja desenvolve, junto à Secretaria de Educação do Distrito Federal, um projeto para atendimento a crianças vítimas de violência. Além de abrir sessões solenes no Senado Federal com suas contações e divulgar o livro infantil recém-lançado pela editora Mais Ativos, Fofoca Reversa. “Eu sou muito feliz com a vida que eu levo, com o lugar onde a contação me levou. As histórias são a minha vida”, conclui.