Nova geração do humor brasiliense aposta no stand-up comedy
As apresentações itinerantes ocorrem em Águas Claras, Guará e Santa Maria, além de Valparaíso e Formosa, em Goiás
atualizado
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De Cláudio Falcão aos Melhores do Mundo, Brasília sempre foi berço de comediantes que acabaram alçando voos nacionais. Mesmo inspirada pela veia cômica dos veteranos, a nova geração de humoristas brasilienses aposta em um formato diferente para fazer rir: o humor ácido e a crítica voraz do stand-up comedy.
Diferentemente dos antecessores, o teatro não é a casa natural dos novos profissionais do riso, nem o circuito Asa Sul–Asa Norte o único itinerário. Agora, bares de diversas regiões administrativas e cidades do Entorno recebem as apresentações exclusivas – no stand-up, um show nunca é exatamente igual ao outro.
Nos Estados Unidos, o formato revelou talentos como Ed Murphy, Jim Carrey e Steve Martin. No Brasil, os humoristas Zé Vasconcelos e Chico Anysio deram os primeiros passos, ainda nos anos 1950. Hugo Veiga, Plínio Perrú, Santiago Melo, Emanuel Júnior, Edson Duavy e Fernando Booyou trouxeram o formato para Brasília há cerca de 10 anos. Mas, de lá para cá, outros nomes também foram conquistando espaço.
Movimentando a cena da capital federal, o projeto itinerante Noites de Stand-Up mostra que a gargalhada une pessoas de todos os credos, gêneros, raças e situações econômicas. Formado por Alexander Beck, Fernando Booyou, Diego Rastichong, Alex Santos e Hugo Perpétuo, o espetáculo tem dois pontos fixos: às segundas-feiras, no bar Querosene, em Águas Claras; e, às quintas-feiras, no Piratas Bar, Valparaíso (GO). A trupe também realiza apresentações no Guará, Plano Piloto, Gama, Taguatinga e Formosa (GO).
O público do Distrito Federal é bem informado e cheio de referências, com sede de informação e de rir. Por isso, o stand-up faz tanto sucesso
Diego Rastichong, um dos integrantes do grupo
Apesar de ser um dos mais jovens do grupo, Alex Santos, 24 anos, foi o idealizador do projeto e quem convidou os demais comediantes. “Acompanho muito a cena norte-americana e percebo que temos um caminho longo a trilhar. O Noites de Stand-Up surgiu dessa vontade de ver meus amigos crescendo, desenvolvendo as piadas”, relembra.
Segundo Alex, há uma tentativa de união entre os humoristas locais, mas falta ainda uma caminhada para o senso de equipe se tornar mais sólido. “Aos poucos estamos nos fortalecendo, e todo mundo está se ajudando”, revela. O próprio Noites de Stand-Up faz a sua parte. Em todas as apresentações, um comediante de fora do grupo sobe ao palco como convidado.
Ter os bares como suporte facilita aos artistas levarem o show a qualquer cidade. “Em todas as regiões tem um estabelecimento desses”, brinca Fernando Booyou, 39 anos, um dos veteranos de Brasília no gênero. “Nós somos itinerantes, vamos aonde o povo está”, completa.
Um dos mais antigos da cena brasiliense, o publicitário Booyou tem quase 10 anos de carreira. Para ele, o momento agitado do movimento stand-up em Brasília é benéfico para todos. “Ter mais comediantes aumenta a troca de ideias, enriquece a cena, torna ela mais profissional”, acredita.
O artista conta que, apesar de fazerem um gênero diferente de humor, grupos teatrais pioneiros da cidade foram inspirações para ele. “Quis fazer teatro depois de assistir ao espetáculo A Culpa é Da Mãe, dos Melhores do Mundo. O Setebelos me levou para o improviso. Na verdade, até o que não é humor me inspira”, relata Booyou.
Carioca de 33 anos, Diego foi inspirado pela veia humorística dos país, Rose Larrea e Jésus Rocha, ambos roteiristas de programas da TV Globo como Os Trapalhões, Chico City, Escolinha do Professor Raimundo, Viva o Gordo e Zorra Total. Com apenas 3 anos de idade, ele foi convidado a participar do Chico Anysio Show. Desde então, aventurou-se em outras manifestações artísticas, entre elas, o teatro, a dublagem e os quadrinhos.
Aos 21, mudou-se para Fortaleza (CE), onde conheceu o stand-up ao participar de uma noite de open mic (um espaço com “microfone aberto” para os novatos testarem o talento). “Eu fui lá, contei uma piada, todo mundo riu e eu pensei que seria fácil começar a fazer stand-up“, relembra. Apesar da fé no sucesso, a estreia foi um fracasso. “Eu desisti por um tempo. Resolvi estudar, entender melhor como funciona a construção de um texto, até estar seguro para recomeçar”, conta.
O texto simples e os temas críticos das performances o conquistaram, e há quatro anos ele se dedica à arte de fazer rir. “Para mim, o mais legal é buscar uma forma de abordar um assunto polêmico de uma maneira engraçada. Fazer a pessoa refletir sobre diversos assuntos de modo animado”, pondera.
O stand-up mostrou a Alexander Beck a possibilidade de fazer comédia sem ter de ir para a TV ou grandes teatros. “De onde eu vim, era inimaginável pensar que alguém poderia ganhar a vida assim. Eu sofri com a desconfiança inicial da minha família. Mesmo na minha cabeça, a arte era diversão e não profissão”, recorda.
O processo para tornar o sonho realidade traz dificuldades ainda hoje. “A maioria dos palcos em que me apresentei, eu mesmo construí do zero. Fui atrás de parceiros, patrocinadores, montei o som…”, salienta. Aliás, para Beck, a falta de apoio é o principal desafio dos artistas. “Muitas vezes, os donos de bares preferem investir em uma dupla sertaneja”, pontua.
Adequar as piadas aos diferentes tipos de público é outro obstáculo. “Em cada região, as pessoas têm um tempo diferente. Tem gente que se ofende com determinado assunto, outras não. É preciso inteligência para o humorista saber fazer essa leitura da plateia”, acredita.
Agenda Noites de Stand-Up
Dia 14 de agosto – Zeppelim Hamburgueria (Guará)
Dia 15 de agosto – Tokata Instituto de Música (516 Sul)
Dia 11 de setembro – Koal (Sudoeste)
Sempre a partir das 21h