No ano em que o Pacotão faz seu 38º desfile, confira 20 flashes sobre o bloco mais antigo da capital
Criado no Carnaval de 1978 por um grupo de jornalistas, ele já passou por altos e baixos, mas nunca perdeu sua principal característica, a irreverência
atualizado
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O COMEÇO
Pouco antes do Carnaval de 1978, um grupo de jornalistas, entre conversas sobre política e copos de cerveja, no Clube da Imprensa, teve a ideia de criar um bloco de sujos. Surgiu então a Sociedade Armorial, Patafísica e Rusticana, ou simplesmente Pacotão — referência a uma série de mudanças nas regras eleitorais, impostas pelo governo Ernesto Geisel no ano anterior, batizada de “Pacote de Abril”.
TRADUZINDO…
“Armorial”, em homenagem ao movimento de Ariano Suassuna, que defendia a criação de uma erudita com elementos da cultura nordestina; “Rusticana” é uma referência à ópera italiana e, por tabela, uma exaltação ao vinho; e “Patafísica” é pura invenção dos criadores.
O Pacotão era uma espécie de passeata anarquista contra o regime. Anarquizava com tudo
Alexandre Lobão, responsável pelo estandarte do bloco no primeiro desfile, em depoimento à UnB Agência
BAR DO BARÃO
No primeiro ano, entre 100 e 150 pessoas desfilaram no Pacotão. Na maioria jornalistas e amigos. Um desses jornalistas, Artur Pedreira (Arturzinho), era dono do Bar do Chorão, na 302 Norte. Por isso a concentração foi marcada lá. O bar não existe mais, mas o bloco esquenta naquela quadra até hoje.
ALEGRIA CONTRA A REPRESSÃO
Em um tempo marcado por fortes embates sociais, tempos em que jornalistas eram agredidos por policiais militares na cobertura das manifestações populares da cidade, ou ainda, agentes do SNI se infiltravam nas folias carnavalescas da urbe em busca de ideias julgadas subversivas aos olhos do regime, talvez não fosse das atividades mais seguras desfilar pelas ruas e avenidas da capital federal cantando para quem quisesse ouvir que: “Geisel você nos atolou/ O Figueiredo também vai atolar/. Aiatolá, Aiotolá/ Venha nos salvar/ Que esse governo já ficou gagá/ Gagagageisel”
(Trecho da dissertação “Experiências de um Carnaval Não-Organizado — A Tradição de um Bloco de Sujos na Capital Federal (1978-2009)”, de Alisson Lacerda de Andrade)
UM BLOCO NA CONTRAMÃO
A tradição de desfilar na contramão da W3 surgiu por uma questão de logística: era mais fácil comandar o bloco pelo lado da pista que descia direto para as quadras comerciais. E o itinerário foi definido por forças circunstanciais. Os desfiles das escolas de samba eram na W3 Sul, como o bloco não podia passar, tinha que descer. Assim, o ponto de dispersão ficou sendo a 404 Sul.
NO CARNAVAL DE 1984…
CHARLES PRETO
Citado como presidente da Sociedade Patafísica, Charles Preto é, na verdade, um personagem fictício, criado pelos fundadores do Pacotão para despistar os militares de qualquer problema envolvendo o bloco..Em 2013, O chefe do Politburo (como é chamada a diretoria do Pacotão) apareceu no desfile em papel machê, madeira e pano. Foi criado um boneco gigante dele, que muitos associaram á figura de Joaquim Barbosa.
IRREVERÊNCIA REGISTRADA
Em 1984, as marchinhas do pacotão foram registradas em disco de vinil.
A MARCHINHA DE 2013
Composta por Cicinho Filisteu, a música desse ano satirizava o então governador do DF, Agnelo Queiroz, e os ex-governadores Joaquim Roriz, Cristovam Buarque e José Arruda
“Pacotão e as piriguetes”
Um anjo torto
Me disse assim:
Vai Cicim
Ver a merda
Que o Roriz fez!
Que o Cristovam fez!
Que o Arruda fez!
Que o Agnelo tá fazendo!
Mas, meu anjo
Eu vou pro Pacotão
Ver as mulheres lindas
As virgens recatadas
E as piriguetes
As piriguetes, as piriguetes
E POR FALAR EM PIRIGUETES
Elas são indispensáveis para a alegria do Pacotão…
OS PAIS DA CRIANÇA
Segundo o texto “Pacotão: Exercício Coletivo de Prazer e Resistência”, escrito por Moacyr de Oliveira Filho (Moa), são considerados fundadores do Pacotão: Cláudio Lysias, Carlos Augusto Gôuvea (Carlão), David Renault, Fernando Lemos, Guarabira, Márcio Varela, Moacyr de Oliveira Filho (Moa) e o cartunista Racsow.
O DESFILE DE 1989
PERSONAGENS
Alguns foliões são onipresentes (ou foram, por muitos anos) nos desfiles do Pacotão, sempre caracterizados com os mesmos personagens. A Bruxa (na foto abaixo) é uma delas. Montada em sua vassoura, distribui seu sorriso de bruxa para tudo e para todos. Outro velho conhecido dos frequentadores do bloco é o sósia de Itamar Franco.
Hoje a gente fala dos reflexos da internet. Naquela época, o que nos estimulava a ir pra rua fazer brincadeirinha eram os tempos de mordaça
Laerte Rimoli, jornalista, participante dos primeiros desfiles, à UnB Agência
BIOGRAFIA INÉDITA
Um livro foi escrito sobre o bloco. Organizado por Fernando Fonseca, “Pacotão: Um Bloco na Contramão” é uma obra coletiva com textos de Moacyr de Oliveira Filho, Armando Rollemberg e Paulão de Varadero, além de fotografias de André Dusek e Irone Queiroz, entre outros. No entanto, até hoje não conseguiu ser editado.
SOBROU DE NOVO PRO ARRUDA…
O pacotão tem 37 anos de tradição e é o bloco de maior expressão do carnaval de Brasília. Buscamos apoio na iniciativa privada, conseguimos recursos, parcerias, porque esse bloco não pode deixar de sair
Tony Santos, puxador e coordenador de banda do Pacotão, à Agência Brasil
POLÍTICOS, TREMEI
A crítica mordaz dos foliões do Pacotão não poupou nem o então recém-empossado Rodrigo Rollemberg no Carnaval do ano passado. Vejam só…
PACOTÃO 2016
Este ano, a Sociedade Armorial Patafísica Rusticana, o Pacotão, repete o ritual dos últimos 37 anos. Sai às ruas no domingo e na terça de Carnaval. A concentração é na 302/303 Norte, a partir das 13h. Lá por volta das 16h, a bandinha puxa os foliões pela contramão da W3 em direção à Asa Sul. Este ano, o ponto final é na 504 Sul.
*Fontes: UnB Agência, Agência Brasil, Pacotão Folia.