Um tanto tímido, Pedro Martins se lança em aventura solitária
Badalado no cenário da música instrumental após prêmio no Festival de Montreux, o guitarrista brasiliense de 22 anos sobe ao palco do Clube do Choro, até sexta (25/9)
atualizado
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As credenciais de Pedro Martins o antecedem. Vencedor da recente Socar Guitar Competition, disputada dentro do tradicional Montreux Jazz Festival, em julho, ele já era bem conhecido entre os músicos brasileiros por sua técnica e versatilidade. De Hamilton de Holanda a Milton Nascimento, de Paulinho Moska ao Teatro Mágico, todos recorreram ao prodígio Pedrinho, principalmente Ellen Oléria, que teve o rapaz em sua banda por seis anos.
Para seu primeiro disco, “Sonhando Alto” (2013), editado pelo selo Brasilianos de Hamilton de Holanda, Pedro Martins teve a companhia de músicos brasilienses como o baixista André Vasconcellos, o pianista Felipe Viegas e o violonista Daniel Santiago. Seu próximo álbum, a ser lançado em 2 de outubro no Teatro Brasília, também traz instrumentistas da cidade.
Como boas companhias não faltam a Pedro Martins, nem falta experiência em trabalhar em grupo, o fato de ele ter escolhido se apresentar sozinho no Clube do Choro durante esta semana soa como uma declaração de peso. Como se, dadas todas essas credenciais, Pedro Martins agora quisesse que — um minutinho, por favor — as pessoas pudessem ouvir melhor sua guitarra, e apenas sua guitarra.
O concerto de quarta-feira (23/9) foi aberto por um tema de Pixinguinha e fechado com “Besame Mucho” (Consuelo Velásquez), dois atos que estabeleceram um par de balizas afetivo-musicais bem a propósito do Clube do Choro. Entre abertura e encerramento, algumas composições próprias de Martins e eventuais adornos eletrônicos executados a partir de um pequeno teclado com bateria eletrônica e timbres de órgão.
A influência do jazz
Duas composições de Dominguinhos, o homenageado da casa noturna nesta temporada, sugeriram o frescor de arranjos recém-criados: “Lamento Sertanejo” e “Com o Pé no Forró”. Ao apresentar essa última canção, Pedro Martins fez questão de lembrar que a gravação original de Dominguinhos tem a guitarra de Toninho Horta.
Ao acenar para o mestre mineiro do jazz brasileiro, o jovem virtuoso chamou para si, ainda que de forma involuntária, uma rica genealogia da guitarra elétrica que remonta ao mestre americano Wes Montgomery. Dono de um toque límpido, raramente se deixando rasgar por tons mais agudos ou mais graves, Pedro Martins cabe bem nessa linhagem que parte de Montgomery e, entre nós, se esparrama por Toninho Horta e também por Ricardo Silveira (aliás, atração da próxima semana no Clube do Choro).
Wayne Shorter também funciona perfeitamente com Pedro Martins. Embora o som do guitarrista brasiliense seja altivo e ensolarado, como o do saxofonista americano, a postura física de Pedrinho sobre o palco ainda está um tanto tímida e desajeitada. Ele se atrapalha com o microfone na hora de se dirigir à plateia e toca seu instrumento o tempo todo com o corpo curvado, a cabeça inclinada para baixo, os olhos fechados. Com o terreno inteiro livre, se movimenta em pequenos semicírculos de um metro quadrado.
Na noite de quarta-feira, em apenas dois momentos ele pareceu se esquecer de estar ali de pé no meio de um tablado e transcender os protocolos que envolvem um concerto. Justamente durante dois temas de Wayne Shorter, um após o outro, “Ana Maria” e “Midnight in Carlotta’s Hair”. Sujeito de dedos lépidos, Pedro Martins também soltou o resto do corpo, marcando o compasso com o pé, cantando baixinho a melodia, de si para si, num leve sorriso.
Hoje (24/9) e amanhã (25/9), às 21h, no Clube do Choro (Setor de Divulgação Cultural, Bloco G, Eixo Monumental; 3224-0599). Ingressos a R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). À venda na bilheteria do Clube. Informações no site do Clube do Choro. Não recomendado para menores de 14 anos.