Tranquility Base Hotel: Arctic Monkeys refletem vida adulta em novo CD
Banda inglesa se mantém no topo com sexto disco de estúdio, lançado nesta sexta (11/5)
atualizado
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Alex Turner, vocalista do Arctic Monkeys, é aquele rapaz sabichão, espertinho e de respostas rápidas, como se elas já estivessem ali, na ponta da sua língua, antes mesmo que ele soubesse que iria usá-las. Assim são seus versos, de métricas próprias e palavras que se juntam, por vezes, em um flow único e contínuo.
Molecote de tudo, ele cantou a juventude como podia, com hits dançantes e que funcionavam, com guitarras energéticas e bateria pulsante, muito bem nas pistinhas de dança mais descoladas do planeta. Pouco mais de dez anos depois, o sexto disco da banda, Tranquility Base Hotel & Casino, a ser lançado nesta sexta-feira (11/5), segue para a direção oposta. Das pistas de dança quentes, ele segue para um piano bar a meia luz. Os cigarros vagabundos são trocados pela fumaça dos charutos. A cerveja quente dá lugar a um drinque servido em uma taça e decorado com uma azeitona.A partir de agora, Turner cria um ambiente burlesco e jazzístico para soltar sua verborragia, sem a preocupação com refrãos, pontes com volume crescente, riffs de guitarra pegajosos e viradas pulsantes de bateria. O Arctic Monkeys, uma das únicas bandas da geração de garage rock revival surgida no início dos anos 2000 a se manter na ativa (e no topo), agora, aposta no mínimo.
É uma jogada corajosa, inclusive. Porque AM, o disco anterior, lançado cinco anos atrás, lavou com alvejante o ar de moleques que Turner e companhia carregavam consigo desde os discos mais espevitados, como Whatever People Say, I’m Not e Favorite Worst Nighmare, de 2006 e 2007, respectivamente. Suas canções ganharam a maturidade trazida com a chegada dos 30 anos e, espertamente, o quinteto bebeu das referências roqueiras certas. O quinto e musculoso disco do Monkeys levou o grupo ao patamar dos grandes, com shows em estádios e arenas ao redor do mundo.
Na casa onde mora, em Los Angeles, o rapaz natural de Sheffield, na Inglaterra, decidiu amassar a estética sonora da banda construída até ali e criar, do zero, seu novo som. Com um piano Vertegrand recém-adquirido, tentou compor canções a partir dele e não da guitarra ou do violão. O resultado está em Tranquility Base Hotel & Casino, o mais provocativo disco do Monkeys e, principalmente, um álbum a partir do qual a banda está, enfim, liberta. Podem seguir, a partir de agora, para a direção que quiserem – se é que querem, de fato, alguma direção.
A liberdade cobra seu preço, é claro. Há quem vá torcer o nariz para as influências jazzísticas de Tranquility, evidentemente. Vão existir aqueles incapazes de captar a referência bastante clara, ao longo do álbum do Monkeys, da música Aos Barões, uma balada de piano energizado de Lô Borges, o garoto gênio que, aos 20 anos de idade, já tinha composto o disco Clube da Esquina, com o amigo Milton Nascimento, e o lançado sua estreia solo, o chamado Disco do Tênis. Provavelmente, muita gente se incomodará com o modo de “contador de histórias” adotado por Turner durante as 11 canções, como uma espécie de Serge Gainsbourg do nosso tempo. Quer refrãos? Esqueça. Não vai encontrar.
Mas há uma boa parcela de fãs que vai ouvir Star Treatment, a música de abertura, e vai sentir o cérebro em expansão, se mexendo e se contorcendo para entender a nova direção da banda. Gente que vai chegar ao fim do álbum, com The Ultracheese, sem muita certeza de gostou ou não do resultado final, mas vai entender o caminho percorrido por Turner e companhia para chegar até ali.
https://www.youtube.com/watch?v=DHMBJ2do1XU
Arctic Monkeys no Brooklyn
Na noite desta quarta-feira (9/5), dois dias antes da chegada do disco às lojas – embora ele já tenha vazado e possa ser encontrado para download ilegal pela web há alguns dias – o Monkeys viveu seu primeiro teste com Tranquility. Com um show no Brooklyn, bairro nova-iorquino onde o hype em torno todas das bandas da geração do garage rock liderada pelos Strokes se estabeleceu antes de ganhar o mundo, o grupo tinha diante de si um público de 1,8 mil pessoas, que encheram o espaço e esgotaram os ingressos em minutos. O valor da entrada, na venda normal, era U$ 55. A procura era tamanha que, em sites de revenda, o mesmo bilhete já custava US$ 250, ou mais.
A imprensa local dizia ser um “show intimista” – e, para uma banda que está acostumada a tocar diante de milhares de pessoas até então, de fato, foi. Mas embora Tranquility Base Hotel & Casino não fosse o real protagonista da noite (dele, foram tocadas apenas quatro canções), é possível perceber que ele funciona muito bem em lugares fechados, provavelmente melhor do que em apresentações em arenas abertas.
A frente de olhares desconfiados – era o Brooklyn, afinal, bairro conhecido por frequentadores “entendidos” de música -, o Monkeys entregou uma apresentação segura. Do novo disco, vieram a jazzy One Point Perspective, a sonhadora American Sports, a arisca Four Out Five e She Looks Life Fun, mais roqueira, que ao vivo ganhou a participação de Cameron Avery, ex-integrante da banda australiana de rock psicodélico Tame Impala.
As estrelas do repertório ainda são músicas do AM, responsáveis, por exemplo, por abrir o show (com Do You Wanna Know?), e encerrá-lo (com R U Mine?). Why’d You Only Call Me When You’re High?, faixa que, despretensiosamente, recria toda a problemática dos relacionamentos modernos, foi o ponto de virada da apresentação.
A partir dela (a quinta do show), e desse vazio embriagado sobre o qual ela canta, Turner estabelece seu transe. Vestido com calças vermelhas e justas e uma blusa de linho branca, o vocalista exibe o penteado novo, a cabeleira longa e solta. Ele, sozinho, vagueia entre a pose de rock star de outrora e de boêmio europeu dos anos 1950. Viaja, com saltos no tempo e no espaço, como suas canções executadas ali. É o fim da juventude, da inocência e das pistinhas mais fervidas e manhãs seguintes sem ressaca. As atitudes, agora, têm consequências. Bem-vindos à vida adulta, Monkeys. Ela é terrível, adoravelmente terrível.