Tomás Bertoni, da Scalene: governo federal lida criminosamente com pandemia
O músico falou ao Metrópoles sobre o tom político e social do disco Fôlego, lançado nesta quinta-feira (18/06)
atualizado
Compartilhar notícia
A banda brasiliense Scalene, um dos principais nomes da nova geração do rock nacional, tem como marca a capacidade de produzir muito e em consonância com seu tempo. Em 2019, veio Respiro, em meio à ansiedade que o momento político do Brasil trazia. Nesta quinta (18/06), o grupo apresenta Fôlego, uma espécie de continuidade.
O EP, que conta com cinco faixas, escolhe o nome Fôlego também como uma reflexão ao momento atual: um mundo paralisado por conta do novo coronavírus, que ataca justamente o sistema respiratório. Criado a distância, o novo trabalho exigiu novas práticas de Gustavo Bertoni, Tomás Bertoni, Lucas Furtado e Philipe Makako Nogueira.
“É um lançamento que não existiria não fosse o contexto que estamos vivendo. Esse fator ‘surpresa’ vai contribuir mais ainda pra que os fãs curtam o EP, galera tá bem empolgada”, torce Tomás Bertoni, que recentemente virou papai do pequeno Benjamin, em entrevista ao Metrópoles.
Cada um em sua casa, os integrantes da Scalene gravaram suas partes nas cinco faixas: Caburé, Passageiro, Caleidoscópio, Espelho e Estar a Ver o Mar. “Foi massa também a experiência de gravar sozinho, na hora do dia que quiséssemos, levando o tempo que fosse, foi bem terapêutico”, completou Bertoni.
Pandemia e política
As músicas de Fôlego abordam os dilemas da pandemia – como a ansiedade, fé e paciência – e também o racismo, que voltou à luz midiática com o assassinato de George Floyd e o brasileiro Miguel.
“Somente a faixa Estar A Ver O Mar foi composta antes da quarentena. É bem legal poder lançar um trabalho tão conectado ao momento”, avalia o cantor. Em seguida, porém, ele reflete sobre Espelho, faixa que discute o racismo.
“Os acontecimentos específicos [George Floyd, João Pedro e Miguel] foram inspiração, mas é um assunto que tem sido presente em nós por alguns anos e estamos nos sentindo bem por colocar para fora parte do nosso sentimento sobre [o tema]. Não houve preocupação quanto a encaixar no EP, está naturalmente encaixado. A pandemia e a forma criminosa com o que o governo está lidando com a situação escancara muita coisa, o racismo e a desigualdade social sendo duas delas”, avalia Bertoni.
Mesmo com as discussões política, o grupo reforça que Fôlego não é um disco datado, que esteja ligado à pandemia. A obra, avisa Tomás Bertoni, discute o momento como um todo.
“É sobre o momento não ser uma regra limitante que temos que falar só sobre exatamente os principais assuntos da atualidade. Assuntos universais, sempre presentes nas nossas vidas, fazem parte [de Fôlego], conclui o artista.