Adele desafina na festa do Grammy. Confira uma lista de altos e baixos da noite
A cantora Taylor Swift quebrou a supremacia do hip-hop, que parecia dominar uma noite marcada também por momentos de nostalgia
atualizado
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Ao levar o prêmio de melhor álbum do ano por seu trabalho em “1989”, Taylor Swift subverteu o clima de celebração do hip-hop, que imperava desde a abertura da 58ª edição do Grammy Awards, realizada na madrugada de segunda (15) para terça (16/2), no Staples Center, em Los Angeles. O rap já parecia transbordar às indicações das categorias específicas e assumir o tom da noite.
O apresentador principal era um rapper, LL Cool J. O artista premiado pelo conjunto da obra era um grupo de rap, o RUN DMC. E dois artistas que ameaçavam polarizar a noite com Taylor Swift eram rappers, ou considerados assim: o californiano Kendrick Lamar, com 11 indicações, e o canadense Weeknd, com sete. Se confirmassem as expectativas, seria a noite do rap.
Antes mesmo de a transmissão começar (pelo canal TNT), alguns prêmios já haviam sido distribuídos, e Lamar já tinha levado os gramofones por melhor performance de rap e melhor canção de rap — as duas pelas mesma música, “Alright. To Pimp a Butterfly” — e ganhado na categoria melhor álbum de rap. Além disso, “These Walls” ganhara na categoria de melhor rap colaborativo, dividindo o prêmio entre Lamar, Bilal, Anna Wise & Thundercat.
Aqui, alguns pontos altos (e baixos) da festa:
Presença brasileira
A pianista brasileira Eliane Elias bateu concorrentes fortes, como o também pianista cubano Gonzalo Rubalcaba, e trouxe um gramofone na categoria melhor álbum de jazz latino pelo disco “Made in Brazil”. Gilberto Gil, que concorria com a gravação do álbum “Gilbertos Samba”, só com músicas de João Gilberto, perdeu para a cantora do Benin, Angelique Kidjo.
Força country
O outro lado da cultura pop americana também estava cuidadosamente bem representada. Chris Stapleton, que comemorava como um azarão a indicação na categoria melhor álbum do ano, tinha nas mãos o prêmio de melhor álbum de country, um mercado gigantesco dentro dos Estados Unidos, que movimenta milhões ao ano e que o Grammy trata com carinho. Já era uma grande vitória para seu ótimo e regional disco, Traveller.
Adele foi mal
Adele fez uma aparição angustiante. Cantou “All I Ask” falhando, não atingindo as notas agudas no começo e perdendo o controle total da afinação no final. Deve ter pedido a Deus que aquela tormenta acabasse logo. Foi certamente das apresentações mais infelizes do Grammy.
Sessão nostalgia 1
Houve flashback a noite toda. John Legend fez ao piano o baile de nostalgia em nome de Lionel Richie com “Easy” diante dos olhos do próprio. “Hello” veio na voz de Demi Lovato e, depois, Luke Bryan cantou “Penny Lover”. Ele então passou para Meghan Trainor com “You Are” e ela, por sua vez, para o cantor Tyrese Gibson trazer “Brick House”, da época dos Commodores. Só então Lionel subiu ao palco para fazer “All Night Long”, sua grande festa.
Sessão nostalgia 2
Os músicos do Eagles, com o cantor Jackson Browne, lembraram do amigo guitarrista Gleen Frey, morto recentemente, aos 67 anos, cantando “Take it Easy”. Estavam mais emocionados do que afinados, mas foi um momento bonito, com uma imagem gigante de Frey ao fundo do palco. Lady Gaga fez um tributo a David Bowie cheio de caracterizações e maquiagens, visitando os grandes hits do músicos inglês.
Sessão nostalgia 3
Steve Wonder chegou ao palco falando em nome de um amigo que se foi: “Vamos dedicar uma canção, um tributo a um amigo maravilhoso, Maurice White, descanse em eterna paz”, disse em honra ao líder do Earth Wind & Fire, morto nos últimos meses. Começou logo depois a cantar à capela That’s The Way of the World, com o grupo vocal Pentatonix. Vieram então os indicados na categoria Canção do Ano, apresentado por Wonder. O páreo parecia duro, com Kendrick Lamar, Taylor Swift e Wiz Khalifa. Mas seria a primeira derrota grande de Lamar, um favorito nesta prateleira, com a música Alright.
Senso de humor é tudo
Steve Wonder brincou primeiro com a própria cegueira ao apanhar o envelope com o nome do vencedor. Como uma criança, disse aos outros: “Vocês não sabem ler!”, sorriu, referindo-se ao nome do ganhador em braile. E chamou ao palco Ed Sheeran, que levou por sua canção “Thinking Out Loud”. Sheeran surpreendeu. Sua música era uma das mais fracas da categoria, mas com um poder de execuções que valeu o destaque.
Lamar em chamas
Miles Davis foi lembrado quando Kendrick Lamar foi apresentado, como criador de um novo rap nos Estados Unidos, que dialoga com o free jazz. Lamar veio com os pés e as mãos acorrentados à frente de outros homens negros para cantar “The Blaker The Berry”. Ele parou em frente ao microfone e fez uma de suas interpretações das mais chocantes. Seu discurso parece querer implodir as questões raciais tão recrudescidas nos Estados Unidos de hoje. Seu palco entra em chamas e ele canta desesperadamente como se fosse a última vez.